domingo, 27 de março de 2016

GREEN RESOURCES FABRICA DE CAPITAIS NORUEGUESES PRODUZ ESTILHAS DE MADEIRA NA PROVINCIA DE NAMPULA MOÇAMBIQUE

A empresa Green Resources, de capitais noruegueses e com interesses empresariais em Moçambique, Uganda e Tânzania, pretende estabelecer nos próximos dois anos uma unidade fabril na província de Nampula para a produção de estilhas de madeira, também chamadas aparas, que constituem matéria-prima para a produção de polpa de papel e painéis.
Segundo Arlito Cuco, director geral da subsidiária da Green Resources em Moçambique, a construção da referida fábrica está inserida num contexto mais amplo de investimentos que a empresa está a realizar nas províncias de Nampula e Niassa, os quais vão culminar com a edificação de uma indústria local de papel e de outros produtos de origem florestal.
Conforme disse, numa primeira fase a produção de estinhas ou de aparas de madeira estará orientada para a exportação uma vez que no país ainda não existem empresas capazes de absorver este tipo de material. “Vamos exportar enquanto esperamos gerar matéria-prima suficiente para ser absorvida por uma empresa de papel a nível interno.
Enquanto essa fase não chega, Arlito Cuco revela que aquela empresa tem estado a proceder a um investimento estimado em 15 milhões de dólares em diferentes frentes que visam o estabelecimento de plantações de eucaliptos nas duas províncias onde já possui o título que lhe confere o Direito de Uso e Aproveitamento de Terra (DUAT).
Tal investimento tem estado a ser orientado para estudos de solos, Estudos de Impacto Ambiental (EIA), análises aéreas, consultas comunitárias, construção de viveiro, aquisição de equipamentos, instalação de rede eléctrica e de redundância, meios motorizados como tractores e camiões, equipamento para maneio do solo e plantio, treinamento dos colaboradores protecção contra incêndios, para além da construção e manutenção de vias de comunicação.
A título de exemplo, presentemente decorre a preparação da campanha 2016/2017 que consiste no levantamento das áreas que terão sido afectadas por queimadas no último inverno e outras que diversas razões carecem de renovação, para depois se seguir a elaboração de um plano detalhado de intervenções de maior escala.
Félix Matavele, biólogo responsável pelo viveiro de Namaíta, na província de Nampula, disse à nossa Reportagem que as intervenções naquele espaço iniciaram no ano 2010 e que até 2012 a produção era feita manualmente. “Na altura produzíamos apenas 900 a um milhão de mudas por campanha”, disse.
Entretanto, graças à mecanização introduzida pela Green Resources a produção de mudas passou de um milhão para um milhão e meio, em 2013, e até três milhões de mudas em 2014 e 2015. “A espécie que estamos a produzir basicamente é eucalipto, mas temos várias espécies puras e algumas híbridas”.
MECÂNICA DO VIVEIRO
Segundo Félix Matavele, a maior parte das sementes são adquiridas no Brasil e uma pequena quantidade é conseguida junto de uma instituição de pesquisa florestal para eucalipto, pinho, entre outras espécies florestais do género.
Aliás, da aludida instituição, a Green Resources recebe igualmente sementes de várias partes do mundo, com ênfase para o Brasil, África do Sul, Tanzânia e Zimbabwe na perspectiva de determinar a melhor procedência para o agro-clima de Nampula e de Niassa.
Conforme referiu, as sementes vindas do Brasil são as mais usadas, presentemente, para o plantio com fins comerciais por serem oriundas de regiões com características climáticas similares às daquelas duas províncias.
A nossa meta costuma ser de três milhões e quinhentas mudas, mas o viveiro tem capacidade para seis milhões de mudas”, disse Félix Matavele para depois ajuntar que aquele viveiro é operado por 50 trabalhadores permanentes, dos quais 40 por cento são mulheres.
A máquina oferece-nos uma maior produtividade por ser tecnologicamente avançada. Antes fazíamos a sementeira manualmente e tínhamos muitos problemas com a produtividade em si. A nossa capacidade era de 500 a 600 bandejas semeadas por dia, onde cada bandeja possui 128 tubetes com várias mudas. Com a máquina podemos semear até 1500 bandejas por dia e ganhamos mais tempo para fazer selecções, adubações e monitoria do crescimento”, disse.
Matavele refere ainda que o resultado do uso daquele equipamento electrónico na sementeira tem sido bom porque com a máquina é possível colocar uma semente por tubete e reduzir intervenções como desbastes ou repicagens. “Era muito mais trabalho e bastante moroso. Aliás, até mesmo para a plantação em si temos vantagens muito grandes, pois o pessoal de campo recebe uma planta por cada tubete e, por essa via, torna-se mais fácil fazer o plantio”.
Gracindo Sayal faz parte da equipa de gestão da Green Resourses e descreve que os procedimentos que aquela empresa segue do viveiro até ao campo, onde a maior parte das actividades são desenvolvidas em estreita ligação com os membros das comunidades circunvizinhas.
Depois do processo da sementeira tiramos as bandejas que contem os tubetes já semeados para as zonas de crescimento, que são as camas, e as plantas permanecem aqui entre três a quatro meses para ficarem prontas para irem ao campo”, disse.
Entretanto, antes de irem ao campo, as plantas, com cerca de 10 centímetros de altura começam a receber uma aplicação de adubo foliar que estimula o desenvolvimento da raiz porque, conforme referiu, nesta fase a planta precisa alimentar-se muito.
Passado cerca de 21 dias colocamos um adubo de crescimento que é para as plantas ganharem altura e diâmetro. Depois deste tratamento, deixamos estar por cerca de 20 dias e, no fim, colocamos um adubo que é para rustificação. A partir desta altura reduzimos as regas e a aumentamos a intensidade de luz que entra pela estufa para que as plantas se prepararem para vida adulta”, referiu.
Porém, conforme tivemos a oportunidade de observar, ao final de cerca de dois meses, as plantas apresentam um desenvolvimento diversificado, o que resulta do facto de cada semente possuir a sua carga genética o que faz com que o vigor no crescimento varie bastante.
LIGAÇÃO COM A COMUNIDADE
É nesta fase que começa a ligação com as comunidades locais que são estimuladas de diferentes maneiras a colaborar com a empresa. Por exemplo, são contratadas mulheres para procederem à selecção das plantas com um nível de crescimento aproximado para coloca-las nas mesmas bandejas. “Isso é bom porque é como se dessemos oportunidades iguais de crescimento às plantas”.
Com cerca de 100 mil hectares disponíveis, a Green Resources ocupa até agora cerca de quatro mil mas, segundo Gracindo Sayal, “já criamos as bases para o projecto andar. Temos os DUAT´s, mas temos que ir ao campo concluir a demarcação”.
Mesmo a propósito da posse de terra e com o objectivo de minimizar o risco de conflitos, Sayal afirma que a empresa procura manter contactos permanentes com os mais variados intervenientes e actos com a finalidade de assegurar a edificação sem lapsos de comunicação.
Repare que temos cerca de 500 trabalhadores e quando chega a época de plantio esse número sobe exponencialmente, o que requer da empresa uma capacidade redobrada de lidar com os mais variados interesses e expectativas”, frisou.
Para tornar possível uma convivência minimamente sã, Sayal afirma que a empresa promove e estimula a criação de comités de gestão integrados por membros das comunidades e se relacionam directamente com o departamento comunitário da empresa.
Eles reúnem uma vez por mês para saber como está a ser feita a interacção entre a comunidade e a empresa. Vermos quais são os problemas que existem e tentarmos resolvê-los antes que se tornem maiores”, sublinhou.    
Graças à colaboração que tem havido entre as partes, foram estabelecidos programas de apoio comunitário que compreendem um banco de sementes que são entregues às comunidades para a produção de feijão, gergelim e soja. “Nesse sentido, também temos os extensionistas que depois dão apoio técnico para as comunidades possam produzir melhor essas culturas”, disse.
Para além disso, a Green Resources apoia as populações das cercanias das suas plantações com programas de acesso aos Bilhetes de Identidades (BI´s) e esta acção é desenvolvida em coordenação com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e a Embaixada da Suécia.
Esta actividade, segundo nos foi revelado, visa permitir que, no futuro, quando houver bancos e outras instituições públicas e privadas, as populações possam ter fácil acesso a serviços financeiros, entre outros.
O mais importante é que eles têm que ter identificação de forma a facilitar o processo de recrutamento e também a nível do instituto Nacional de Segurança Social (INSS) para se beneficiarem dos serviços porque é necessário ter um documento de identificação”, apontou.
Por outro lado, consta que a Green Resources está a estimular as comunidades a fazerem o plantio de eucaliptos nas suas áreas. Para o efeito, a empresa fornece mudas de eucaliptos, a título gratuito e respectiva assistência.
Futuramente vamos entrar com fruteiras. Já existe um processo para termos uma unidade de fruticultura, de forma a expandirmos as fruteiras para todas as comunidades. Também temos o processo de furos de água nos três distritos, em Ribaue, Mecuburi e Rapale, na província de Nampula”, sublinhou.
Gracindo Sayal terminou dizendo que nestes três distritos decorre a produção de feijão, gergelim e soja, há cerca de com o apoio de extensionistas que estão a dar apoio as comunidades no sentido destas produzirem estas culturas de rendimentos e a empresa facilita o acesso ao mercado e serve de intermediária nas vendas.
FONTE: JORNAL DOMINGO DE MOÇAMBIQUE

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