domingo, 5 de junho de 2016

ALGODÃO DE MOÇAMBIQUE CONSELHO DE MINISTROS DECIDIU PREÇO ALGODÃO CAROÇO DE PRIMEIRA CLASSE 14,50 METICAIS E DE SEGUNDA CLASSE 10,50 METICAIS

O Conselho de Ministros decidiu que o algodão caroço de primeira classe devia ser vendido ao preço de 14,50 meticais, enquanto o de segunda custaria 10,50 meticais, medida que parece estar a resultar. Mais de 24 mil produtores estão envolvidos na campanha de algodão na presente campanha agrícola na província de Niassa, destacando-se o distrito de Cuamba.
domingo apurou que a cultura está a melhorar substancialmente a vida das comunidades rurais, nomeadamente em Cuamba, Metarica, Nipepe e Marrupa, distritos considerados potenciais fomentadores.
Diamantino Raimundo Mário, gestor do Departamento Técnico da Sociedade Algodoeira do Niassa (empresa fomentadora), enalteceu o esforço dos produtores e garantiu que foram semeados pouco mais de 25 mil hectares, área com potencial para produção de nove mil hectares de algodão caroço.
Fruto deste desempenho, presentemente já decorre a comercialização de algodão em alguns distritos. Camiões de grande tonelagem, brigadas escaladas pela empresa fomentadora e produtores, cruzam-se nos diversos postos de venda estabelecidos.
domingo esteve há dias em Cuamba, um distrito rotulado de “capital do algodão”e, em conversa com os camponeses, testemunhou a alegria de produtores ao verem o esforço recompensado . Intermináveis campos pintados de branco e sacos perfilados destacavam-se ao longo de picadas que dão acesso aos postos de venda.
NOVOS PREÇOS
ANIMAM PRODUTORES
Os produtores foram estimulados pelo novo preço do produto, recentemente anunciado pelo Conselho de Ministros, que valorizou o algodão caroço de primeira classe para 14.50 meticais o quilo e o segunda para 10.50 meticais o quilo.
Para incentivá-los ainda mais, a SAN/JFS decidiu, unilateralmente, colocar um aditivo aos preços anunciados pelo Governo, aumentando mais um metical e meio para o algodão de primeira, que passou a custar 16 meticais.
Fonte da SAN/JFS disse à nossa Reportagem que o aumento de preço para o algodão de primeira tem em vista estimular os produtores a melhorarem a qualidade do seu produto de modo a pautarem-se por novas normas de qualificação a nível internacional que obrigam a que o algodão moçambicano a ser exportado para China e Inglaterra tenha a certificação de qualidade BCI (Better Cotton Initiative).
Trata-se de uma iniciativa para a produção de algodão de melhor qualidade, produzido de moldes sustentáveis e com critérios previamente estabelecidos. Deste modo, todos os camponeses produtores aprendem novas técnicas de produção, respeitando o meio ambiente, dentre outros itens observados no comércio internacional do algodão.
PROMOÇÃO, EM SIMULTÂNEO,
DE CULTURAS ALIMENTARES
Uma boa nova é, sem sombra para dúvida, a massificação da cultura em simultâneo com aposta em culturas alimentares. A população começou a perceber que sem comida não há algodão, daí o esforço feito para não priorizar uma cultura em detrimento de outra. Vezes há, segundo as nossas fontes, em que se faz uma produção combinada, nomeadamente de algodão e milho.
Diamantino Mário refere que a SAN/JFS começou este ano a comprar milho para revendê-lo às comunidades no período de crise. É o reconhecimento tácito de que os produtores precisam de estarem bem alimentados para produzirem melhor.
Estamos a comprar milho no âmbito de garantia de segurança alimentar, não só para os produtores do algodão mas também para toda a província de Niassa. Seguimos este novo paradigma de fomento porque nos anos anteriores, e apesar de ser uma província potencial em agricultura, relatamos, ciclicamente, um défice de alimentos, explicou Diamantino, acrescentando que “na época de colheita, as populações vendem toda a produção localmente e ao vizinho Malawi, ficando depois em situação de penúria.
Segundo o nosso entrevistado, o objectivo é que o milho comprado e armazenado seja vendido, sem custos adicionais, durante o período em que a província mais extensa de Moçambique se ressente de falta de alimentos.
Para os produtores do algodão, ainda de acordo com a nossa fonte, esse milho pode ser adquirido à título de crédito para ser pago no fim de cada campanha agrícola.
DUZENTOS FARDOS
DE ALGODÃO POR DIA
De recordar que a SAN/JFS, no âmbito de prestação de serviços agrários, concorreu, e venceu, um concurso público de gestão de equipamento agrícola composto por tractores, alfaias agrícolas, entre outro utensílios, tudo na perspectiva de alargar a sua base de acção, visando melhorar os níveis de prestação de serviços agrícolas no seio das comunidades.
A SAN/JFS possui neste momento uma das fábricas mais modernas do país, depois de reabilitada, ampliada e equipada, sendo que a sua capacidade de produção é de 200 fardos de algodão por dia, respondendo efectivamente à demanda que se verifica mesmo no período de pico: 300 mil toneladas de algodão caroço.
Igualmente, na área de responsabilidade social, a única fomentadora do algodão no Niassa, reabilitou a Escola Primária Josina Machel, construiu duas escolas primárias (no cruzamento do povoado de Mitúcuè), concluiu e entregou três salas de aulas na cidade de Lichinga, estando, neste momento, a construir outra escola primária em Muetetere.
Destaca-se ainda, no âmbito da responsabilidade social desta empresa, a construção de um muro de vedação no Hospital Rural de Maúa, para além da reabilitação e construção de vias terciárias.
Algodão mudou minha vida
- Luis António Adamo
Luis António Adamo vive no povoado de Muholo, em Titimane, há pouco mais de 20 quilómetros da cidade municipal de Cuamba. Desde criança está ligado à produção de algodão.
Com oito hectares, aproximadamente, Adamo espera colher o suficiente para resolver os seus problemas e os da família, sendo a aquisição de um meio de transporte a sua primeira prioridade.
Preciso de um meio circulante para transportar o meu algodão e outros produtos alimentares. Não quero depender eternamente da empresa fomentadora, mesmo reconhecendo que há da parte dela um grande esforço de ajudar os produtores na sua luta pelo bem-estar social e económico, explicou.
Adamo conta que desde que se envolveu no algodão, a sua vida melhorou substancialmente, pois hoje consegue ter dinheiro para comprar alimentos básicos, vestuário, material escolar para os seus filhos, entre outros bens.
Aposta é aumentar
a área de produção
- Angelina António Adamo
A minha principal aposta é aumentar a área de produção para ganhar muito dinheiro,disseAngelina António Adamo, produtora.
Angelina, juntamente com outros camponeses, trabalha a terra em bloco, um novo paradigma de produzir algodão com qualidade, permitindo uma rápida assistência técnica por parte da empresa fomentadora.
Angelina confessou ao nosso jornal que pratica a cultura de algodão por paixão e não se sente inferiorizada por abraçar a arte de trabalhar a terra. Não estou presa à terra por ser mulher, como é regra. Faço a minha profissão com paixão, amor e dedicação. Para mim, é importante produzir para aumentar as exportações e diminuir as importações, disse Angelina.
Queremos telefones também
- Ernesto Franque e Alexandre João, produtores
No posto de venda de Mucuna, em Etatara, um dos grandes centros de produção de algodão do distrito de Cuamba, encontramos Ernesto Franque e Alexandre João à espera da brigada da SAN/JFS para vender o seu algodão.
A ansiedade de vender o produto nos primeiros dias para conseguir bons preços levou a que aqueles dois produtores estivessem ali desde as primeiras horas da manhã. “Estamos aqui desde às 5 horas, para sermos os primeiros a vender o algodão”, disseram.
Aqueles produtores queixaram-se de serem preteridos por, alegadamente, não terem sido contemplados na distribuição gratuita de telefones por parte da empresa fomentadora. “Sentimo-nos marginalizados, pois nós somos pioneiros na produção e comercialização de algodão”, asseguraram.
De recordar que nos princípios deste ano, a SAN/JFS, para melhorar a comunicação com seus parceiros, decidiu oferecer, por sorteio, e gradualmente, pouco mais de 5 000 telefones celulares dos cerca de 30 mil requisitados para a distribuição gratuita.
Niassa poderá
enfrentar bolsas de fome
A província de Niassa poderá, nos próximos meses, enfrentar bolsas de fome, apesar de ser potencial em agricultura. Esta constatação foi feita em Nambilange, distrito de Majune, pelo respectivo governador, Arnaldo Chilundo, depois de visitar aquela parcela do país, até então considerada o celeiro da província.
Nesta altura do ano, de acordo com Chilundo, grande parte do milho produzido em Niassa está a ser vendido de forma descoordenada aos comerciantes malawianos, os quais, para conseguirem os seus intentos, aliciam os produtores com motorizadas. Esta acção junta-se aos roubos que o milho está a sofrer antes de sair das machambas.
A nossa Reportagem testemunhou que comerciantes malawianos exigem 12 sacos por cada motorizada. Refira-se que um saco contém três latas de 20 litros/cada, estando cada lata a ser comercializado, no mercado interno, entre 100 e 150 meticais.
Num comício popular que realizou em Nambilange, o chefe do Executivo de Niassa criticou o comportamento dos produtores, aconselhando-os a guardar os seus produtos para serem usados nos momentos de crise.
Sejam vigilantes com aqueles que querem aliciar-vos com motorizadas e outras fantasias, pediu Chilundo, instando os agricultores a se juntarem ao governo nos esforços tendentes à criação de políticas comerciais mais seguras e com benefícios para os produtores.
Ciente das dificuldades que os produtores vão enfrentar, o governador de Niassa convidou-os para aderirem ao projecto de produção de hortícolas e prática de culturas resistentes à seca, ao mesmo tempo que fazia a entrega de sementes diversas e enxadas de cabo longo aos líderes comunitários como forma de incentivá-los a tomar dianteira na produção de alimentos.
Uma outra chamada de atenção feita pelo governador de Niassa, que também está directamente ligada à agricultura, relaciona-se com a preservação do meio ambiente, não cortando as árvores e combatendo, sempre, as queimadas descontroladas. Trabalhando de forma sustentável, podemos garantir a manutenção de um clima favorável à prática de agricultura, acrescentou, Chilundo.

FONTE: JORNAL DOMINGO DE MOÇAMBIQUE.

Sem comentários:

Enviar um comentário