O DISTRITO de Nhamatanda, em Sofala, vai ser uma grande referência a partir deste ano ao longo do eixo do chamado Corredor de Desenvolvimento da Beira com a entrada em funcionamento da primeira fábrica de processamento de hortícolas no posto administrativo de Tica, projectada para absorver toda a produção até dos vizinhos distritos.
Além disso, o arranque das futuras obras da barragem e ponte sobre o rio Metuchira também previstos este ano, a expansão da electrificação rural, a reabilitação de estradas terciárias, o aumento da produção e produtividade, entre outros principais desafios, constam no rol das prioridades das autoridades administrativas da região.
Tal processo de desenvolvimento assinalável do distrito de Nhamatanda está, igualmente, a ser acompanhado pela explosão de investimentos sobretudo nas componentes da indústria hoteleira, sistema de irrigação de campos de produção agrícola e moageiras para a farinação dos cereais. Estes e outros assuntos constam numa entrevista concedida ao nosso Jornal pelo administrador daquele distrito, Sérgio Moiane.
“Notícias” (Not.)- Senhor administrador, qual é o impacto da localização do distrito de Nhamatanda no Corredor de Desenvolvimento da Beira?
Sérgio Moiane (SM)- Primeiro, Nhamatanda é o ponto de entrada da província de Sofala, através da Estrada Nacional número Seis, tanto para os países do “hinterland” como de outros pontos do nosso país. Não se atinge a Beira sem passar por Nhamatanda.
Todo o desenvolvimento que é feito, tanto turístico como económico passa pelo distrito de Nhamatanda. Hoje, Nhamatanda é um distrito que está a crescer de uma forma muito rápida.
Nhamatanda é um distrito potencialmente agrícola com 80 por cento de terra arável apta para a agricultura como cereais de milho e mapira, para além dos produtos da geração de rendimento como gergelim, algodão, feijões e hortícolas.
Falar de Nhamatanda é falar de um potencial muito grande que as comunidades estão a saber explorar. Portanto, é um distrito que se deve tomar em conta quando falamos de economia da província de Sofala.
Existem nove mil hectares disponíveis para a prática de culturas de milho, incluindo a irrigação de cana-de-açúcar numa área de três mil hectares cuja produção alimenta a fábrica Açucareira de Moçambique, em Mafambisse.
O potencial de Nhamatanda estende-se até aos recursos minerais com pedreiras em pleno funcionamento na extracção de pedras para a construção civil na Beira.
Nhamatanda que possui uma superfície total de 4.040 km quadrados com 272 mil habitantes é atravessado pela Linha de Machipanda que liga o Porto da Beira ao vizinho Zimbabwe. Passam por aqui muitos comboios que transportam mercadorias até Zâmbia e temos ainda uma estrada muito grande que serve no transporte de mercadorias para vários países da SADC como RDCongo, Malawi, Zâmbia e Zimbabwe.
Not - Quais são os grandes desafios de Nhamatanda para este ano?
SM- Queremos continuar a ser o ponto de referência como celeiro da província de Sofala, apostando na melhoria da produção e produtividade.
Sabemos que a área que temos com a nova tecnologia, com semente melhorada podemos melhorar, em grande medida, a produtividade nas áreas onde temos vindo a trabalhar.
Este ano estamos a construir uma fábrica de processamento de hortícolas no posto administrativo de Tica que vai incrementar a produção agrícola, daí trazendo muitos rendimentos para as nossas comunidades. Por outras palavras, estamos a afirmar que os camponeses terão um grande ganho, por que a vida vai, de facto, melhorar.
Portanto, com essa fábrica e com o tomate a ser vendido, a população vai produzir muito, pois o produto não se vai perder mas vai ficar conservado. Hoje, produzimos muito tomate que depois se perde por falta do mercado. A ideia é de completar a cadeia de valores com a construção neste momento da fábrica.
Agora não temos ideia da capacidade instalada da futura fábrica, mas o que sabemos é que ela vai absorver todas as hortícolas e que terá uma unidade de processamento. Por isso mesmo, estamos a trabalhar com os camponeses para aumentar capacidade de produção agrícola, pois aquilo que nós produzimos, obviamente, não será suficiente para alimentar essa indústria.
Not– O projecto é de investimento público ou privado?
SM- É do Governo moçambicano, mas a gestão para o seu funcionamento será baseada no lançamento de um concurso público. Quer dizer, vai ser de gestão privada.
Para já, tudo indica que ainda este ano vamos concluir a construção dessa indústria, mas não estamos a falar da produção ao mesmo tempo de hortícolas, sendo que o prazo de construção das obras está previsto para um período de 180 dias a partir de Dezembro passado.
Not- Quais são as potencialidades de Nhamatanda em hortícolas?
SM- Temos todo o posto administrativo de Tica, localidades de Nhampoca, Metuchira,
Siluvo e a vila-sede de Nhamatanda. Estamos a falar de uma região que é um grande potencial para as hortícolas.
Mas pensamos que esse projecto não só vai beneficiar o distrito de Nhamatanda como também o vizinho Búzi para colocar as suas hortícolas na projectada fábrica que será assim um mercado seguro.
Pensamos que neste momento não há dúvidas que o distrito de Nhamatanda vai alimentar toda a província de Sofala incluindo outras regiões em hortícolas, porque não há outra fábrica que está a ser construída.
Isto vai trazer mais postos de emprego e rendimentos impulsionado largamente muitos distritos vizinhos que comecem a olhar as hortícolas como um produto de rendimento.
Queremos que as comunidades tenham dinheiro para resolver os seus problemas essenciais como a construção de casas melhoradas. As obras encontram-se ainda na fase de fundação e esperamos que venham a conhecer um maior dinamismo a partir de
Fevereiro próximo.
ELECTRIFICAÇÃO RURAL
Not- O desenvolvimento do distrito de Nhamatanda está a ser acompanhado pela expansão da electrificação rural?
SM- Claro que sim! A energia eléctrica toma uma posição de um pilar como “espinha dorsal”, o que significa que está a haver melhorias no investimento com o surgimento de indústrias hoteleiras.
Temos campos de produção de cana-de-açúcar em Chidassícua, a localidade de Lamego, onde neste momento estamos a assistir à irrigação através de energia eléctrica.
Também começam a aparecer muitas moageiras para o processamento do cereal com destaque para o milho, reduzindo substancialmente o tempo de espera das famílias para outras actividades domésticas como na busca de água e actividades agrícolas.
O projecto da fábrica de processamento de hortícolas em Tica é resultado directo da electrificação rural que é uma realidade em Nhamatanda.
Not- E em relação à intenção da construção da barragem sobre o rio Metuchira?
SM- O projecto do rio Metuchira continua e não parou. Sabemos que é um processo que envolve vários estudos. Primeiro, tinha sido desenhado para o local onde funciona a actual ponte de madeira, mas mais tarde tomou-se a decisão que devia ser a montante, porque aí perto há um cemitério muito grande rodeado pelas comunidades.
Então, era necessário que fosse um lugar sem muitos problemas que chocassem com a vida das próprias comunidades. Estamos assim esperançados que terminado esse processo seja construída a barragem sobre o rio Metuchira.
Not- Que ganhos concretos vai trazer?
SM- Primeiro, para irrigação nos campos de produção das comunidades, em Metuchira, onde temos uma área muito grande que neste momento depende das chuvas.
Mas a presença da barragem poderá ajudar a regar os campos. Neste momento, quando há chuvas, toda a água passa por que não há reservatório, mas sempre precisamos da água para a irrigação. Estamos a falar das povoações de Metuchira-Pita, onde temos áreas irrigáveis com o sistemas de irrigação que precisam de água que, hoje, passa sem retenção.
Not- Quando arranca a empreitada?
SM- Neste momento o que observamos foi a divulgação dos estudos ambientais. Estamos à espera, portanto, dos períodos subsequentes. Estamos a aguardar que outros estudos a serem feitos terminem para dar lugar ao financiamento dessa grande infra-estrutura.
Ainda em Metuchira arranca este ano a construção de uma ponte sobre o rio com o mesmo nome que o Governo, através do Fundo Nacional de Estradas, aprovou ano passado o projecto. Isto vai aliviar sobremaneira as críticas situações da população na travessia daquele rio, principalmente durante as chuvas.
O que acontece agora é que a actual ponte de madeira está ao nível médio das águas de Metuchira e em caso do aumento do caudal fica submersa. Atravessam diariamente o local cerca de cinco mil pessoas entre alunos, funcionários, trabalhadores e camponeses sobretudo para potencial zona de Bebedo.
Not- Qual é o impacto da barragem de Nhaurire sobre rio Muda?
SM- Dinamiza a pesca que culminou o ano passado com a captura de mais de três mil toneladas, o que melhora a dieta alimentar das comunidades. Ao longo do rio aproveitamos a água para regar hortícolas e milho dos produtores, para além do uso doméstico.
Portanto, o impacto é grande e hoje não temos o mesmo problema de cheias nas povoações de Muda e Muda-Mufo, porque há uma capacidade de encaixe das águas que vêm de Manica por causa de construção da barragem de Nhaurire.
VIZINHANÇA COM O PNG TRAZ IMENSOS GANHOS
Not - Que benefícios traz a exploração de recursos faunísticos e florestais?
SM - Felizmente, estamos a receber os 20 por cento, tanto no comité de Nhampoca como de Matenga, Macorococho, Chidassícua e Chiadeia que reúnem com as comunidades para definir as prioridades a ser realizadas.
O que nós sabemos é que muita actividade tem sido feita como a abertura de furos de água, construção de salas de aula, melhoramento das vias de acesso, entre outros, sendo que a actividade do Governo é de fazer a monitoria e controlo daquilo que está a ser feito com esse valor que está a ser anualmente alocado.
Not- Nhamatanda continua com a fama de potencial pecuário?
SM- Sem dúvidas. Somos uns dos grandes potenciais em gado bovino e caprino em que registamos muitos animais dos sectores privados e familiar. Mas isto apenas na região centro do distrito e não na região norte por se localizar na zona tampão do Parque Nacional de Gorongosa (PNG) por causa da mosca tsé-tsé.
Not– Por falar do PNG. O que é Nhamatanda ganha com essa vizinhança?
SM- Maior parte das pessoas que trabalham naquela estância turística são de Bebedo como jardineiros, guardas, pessoal de limpeza e até da indústria hoteleira.
De Vinho a Chitengo são mais ou menos dois quilómetros, o que significa que maior parte das pessoas que trabalham no PNG vivem em Vinho. Também há uma consciência da população na preservação do meio ambiente e cuidados a ter com os recursos naturais que temos no nosso distrito e país.
Temos um Centro de Saúde em Vinho, no âmbito de responsabilidade social do PNG, onde introduzimos o tratamento TARV cujos pacientes percorriam antigamente 50 km até a vila-sede distrital.
Not- E a caça furtiva?
SM- Esse é um desafio muito grande, porque, como pode perceber, estamos a fazer um trabalho grande, mas continuam a aparecer pessoas ligadas à caça furtiva.
Todavia, estamos a coordenar com o PNG e população para uma vigilância visando combater esses caçadores furtivos que se aproveitam das nossas comunidades. Alguns são naturais e outros encomendados para praticar essa acção que é nociva.
Estamos a trabalhar também com os líderes, comités comunitários e chefes das localidades que fazem parte da zona tampão para prevenir que as pessoas vão lá colocar armadilhas, façam a caça e destruam aquilo que é a nossa riqueza.
Not - Isto não resulta em conflito Homem/fauna bravia?
SM- É importante saber que nós temos que aprender a conviver com os problemas dessa natureza. Temos o crocodilo que continua a dizimar, pois o Homem vai lá pescar no rio e muita gente tem tido acidentes.
Às vezes temos tido problemas com os elefantes, por que atravessam para essa região de Nhamatanda e dizimam culturas, mas saudamos a população que nunca tomou a decisão de dizimar os animais.
Quando há esse tipo de ocorrências coordenámos com o PNG que envia fiscais para afugentarem animais até voltarem ao seu “habitat”.
Not -Como inverter o desordenamento do espaço físico da vila de Nhamatanda?
SM- Olha, olhando para a nossa vila temos um plano de ordenamento em acção como na zona norte em que o 3º e o 5º bairros têm uma zona já parcelada com arruamento e talhões demarcados. Mas estamos preocupados com a erosão, urbanização dos outros bairros periféricos, sendo que em Metuchira já temos blocos com arruamento.
Se olharmos para o historial dessa vila, muita gente que vive aqui apareceu durante a guerra dos 16 anos. Portanto, o reassentamento humano não foi muito bem observado, decorrendo correcções, havendo talhões com arruamento, infra-estruturas como água e energia para atrair as pessoas para as zonas com plano de estrutura.
Horácio João
É interessante esta informação, pois permite que os diferentes segmentos sociais, económicos sobretudo intervenham nos campos que melhor lhes ocorra.
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