"O Zambeze divide-se naturalmente em três grandes troços
perfeitamente
distintos:
O alto curso, o curso medio, e o curso inferior.
O Alto Zambeze compreende o rio desde as suas nascentes,
ainda ignotas,
até à sua grande Catarata Mozi-oa-tunia.
O curso medio estende-se desde Mozi-oa-tunia aos rápidos de
Cabrabassa;
e o Baixo Zambeze daí ao Mar Indico.
Vejamos agora quais são as condições de navigabilidade de
cada uma destas
partes do rio, e qual a sua importância relativa, e a dos
seus afluentes.
Já neste mesmo capítulo descrevi as condições do Alto
Zambeze e por isso
começarei por tratar do seu curso medio.
Conta ele de Mozi-oa-tunia a Cabrabassa uma extensão de 460
milhas
geográficas, ou de 828 quilómetros, e divide-se em duas
regiões perfeitamente
distintas, a superior e a inferior, cada uma das quais é
extensa de 230 milhas,
ou 414 quilómetros.
A região superior, que começa na grande catarata e termina
nos rápidos de
Cariba, não tem importância como via navegável, nem pelos
afluentes que
recebe, todos pequenos e inaproveitáveis à navegação.
Tem esta região alguns troços navegáveis, mas em pequenas
extensões, e
logo interrompidos com rápidos. A segunda parte do curso
medio, de Cariba a
Cabrabassa, está em condições bem diferentes, tanto por
oferecer uma fácil
navigabilidade como por os importantes afluentes que recebe
do Norte. De
um destes afluentes me ocuparei em breve.
O Baixo Zambeze, de Cabrabassa ao mar, conta uma extensão de
310
milhas geográficas, ou 560 quilómetros, onde apenas poucas
milhas são
ocupadas pelas cachoeiras de Cabrabassa; sendo o resto do
curso navegável,
ainda que em más condições, por falta de água na estação
estia.
Esta parte do rio, mesmo nas más condições em que está da
confluência do
Chire a Tete, é ainda uma grande via por onde se faz todo o
comércio do
interior com Quelimane. Recebe ele um afluente importante, o
Chire,
magnífico rio, que da sua foz a Chibisa, não tem cataratas,
sendo
perfeitamente navegável. O Chire que vem do Norte, no seu
terço medio
corre a S.E. quase paralelamente ao Zambeze; e por isso de
Chibisa a Tete
apenas medeia uma distância de 65 milhas geográficas, ou 117
quilómetros,
em terreno pouco acidentado, e que hoje, sem caminhos, se
vence facilmente
a pé em cinco dias.
Esta circunstância é muito para merecer a atenção; porque,
sendo o rio
Zambeze pobre em profundidade da foz do Chire a Tete, não o
é do Mazaro
ao mar; e assim, navegando-se por ele e pelo Chire até
Chibisa, chegamos a 5
dias de jornada a pé, de Tete, com toda a rapidez que nos
podem
proporcionar aquelas magníficas vias. Os 117 quilómetros que
separam
Chibisa de Tete, podem ser vencidos num dia com uma simples
estrada de
rodagem, e em três horas com uma ferrovial.
Estão pouco ou nada estudados os rápidos de Cabrabassa, e
não faço ideia
até que ponto eles constituem um sério obstáculo à
navegação, e se com
pequeno ou grande trabalho se poderia remover esse
obstáculo.
Sei porem, que a região que eles ocupam é pouco extensa, o
que já constituí
uma vantagem indiscutível."
FONTE: DIÁRIO DE ÁFRICA, O ZAMBEZE, SERPA PINTO, 1877/79