A História do Vinho em Portugal
O passado
conhece-se em termos de memória colectiva. A própria noção de identidade está
ligada ao que perdura, ao que distingue e ao que se recorda. Neste contexto,
convidamo-lo a fazer uma pequena viagem pela História da Vinha e do Vinho em
Portugal:
Embora
envolto em muitas dúvidas e mitos, pensa-se que a vinha terá sido cultivada
pela primeira vez no vale do Tejo e no Sado, há cerca de 2 000 anos a.C.,
pelos Tartessos.
Os
Fenícios, cerca do século X a.C., acabaram por se apoderar do comércio dos Tartessos,
incluindo o vinho. Pensa-se que tenham trazido algumas castas de videiras que
introduziram na Lusitânia.
No século
VII a.C. os Gregos instalaram-se na Península Ibérica e desenvolveram a
viticultura, dando uma particular atenção à arte de fazer vinho.
Crê-se que
no século VI a.C. os Celtas, a quem a videira já era familiar, teriam trazido
para a Península as variedades de videira que cultivavam. É também provável
que tenham trazido técnicas de tanoaria.
Os Celtas
e os Iberos fundiram-se num só povo - os Celtiberos -, ascendentes dos
Lusitanos, povo que se afirma no século IV a.C.
A expansão
guerreira de Roma na Península Ibérica conduziu aos primeiros contactos com
os Lusitanos, cerca de 194 a.C. Seguiram longos anos de lutas de guerrilha, só
vencidas pelos Romanos dois séculos depois, com a conquista de toda a
Península em 15 a.C., conseguindo subjugar os Lusitanos.
A
romanização na Península contribuiu para a modernização da cultura da vinha,
com a introdução de novas variedades e com o aperfeiçoamento de certas
técnicas de cultivo, designadamente a poda.
Nesta
época, a cultura da vinha teve um desenvolvimento considerável, dada a
necessidade de se enviar frequentemente vinho para Roma, onde o consumo
aumentava e a produção própria não satisfazia a procura.
Seguiram-se
as invasões bárbaras e a decadência do Império Romano. A Lusitânia foi
disputada aos Romanos por Suevos e Visigodos que acabaram por vencê-los em
585 d.C, tendo-se dado, com o decorrer do tempo, a fusão de raças e de culturas,
passando-se do paganismo à adopção do Cristianismo.
É nesta
época (séculos VI e VII d.C.), que se dá a grande expansão do Cristianismo
(apesar de já ser conhecido na Península Ibérica desde o séc. II). O vinho
torna-se então indispensável para o acto sagrado da comunhão. Os documentos
canónicos da época evidenciam a "obrigatoriedade" da utilização do
vinho genuíno da videira na celebração da missa (produto designado por
"não corrompido", ao qual tivesse sido apenas adicionada uma
pequena porção de água).
No início
do Século VIII outras vagas de invasores se seguiram, desta vez vindas do
Sul. Com a influência árabe começava um novo período para a vitivinicultura
Ibérica. O Corão proibia o consumo de bebidas fermentadas, onde o vinho se
inclui. No entanto, mostraram-se tolerantes para com os cristãos,
aplicando-se aos agricultores uma política baseada na benevolência e
protecção, desde que estes se entregassem aos trabalhos rurais, para deles
tirar o melhor proveito.
Entre os
séculos XII e XIII, o vinho constituiu o principal produto exportado.
Documentos existentes confirmam a importância da vinha e do vinho no
território português, mesmo antes do nascimento da nacionalidade.
Entretanto,
já se tinha iniciado a Reconquista Cristã. As lutas dão-se por todo o
território e as constantes acções de guerra iam destruindo as culturas,
incluindo a vinha.
A fundação
de Portugal, em 1143 por D. Afonso Henriques, e a conquista da totalidade do
território português aos mouros, em 1249, permitiu que se instalassem Ordens
religiosas, militares e monásticas, com destaque para os Templários,
Hospitalários, Santiago da Espada e Cister, que povoaram e arrotearam
extensas regiões, tornando-se activos centros de colonização agrícola,
alargando-se, deste modo, as áreas de cultivo da vinha. O vinho passou,
então, a fazer parte da dieta do homem medieval começando a ter algum
significado nos rendimentos dos senhores feudais. No entanto, muita da sua
importância provinha também do seu papel nas cerimónias religiosas.
Os vinhos
de Portugal começaram a ser conhecidos até no norte da Europa.
Foi na
segunda metade do século XIV, que a produção de vinho começou a ter um grande
desenvolvimento, renovando-se e incrementando-se a sua exportação.
Nos séculos. XV e XVI, no período
da expansão portuguesa, as naus e galeões que partiram em direcção à Índia,
um dos produtos que transportavam era o vinho. No período áureo que se seguiu
aos Descobrimentos, os vinhos portugueses constituíam lastro nas naus e
caravelas que comercializavam os produtos trazidos do Brasil e do Oriente.
Será talvez oportuno referirem-se
aqui os vinhos de "Roda" ou de "Torna Viagem". Se
pensarmos quanto tempo demoravam as viagens. ..Eram, na generalidade, cerca
de seis longos meses em que os vinhos se mantinham nas barricas, espalhadas
pelos porões das galés, sacudidas pelo balancear das ondas, ou expostos ao
sol, ou por vezes até submersas na água dos do fundo dos navio... E o vinho
melhorava!
Tal envelhecimento suave era
proporcionado pelo calor dos porões ao passarem, pelo menos duas vezes, o
Equador e pela permanência do vinho nos tonéis, tornando-os ímpares,
preciosos e, como tal, vendidos a preços verdadeiramente fabulosos. O vinho
de "roda" ou de "torna viagem" veio assim facultar o
conhecimento empírico de um certo tipo de envelhecimento, cujas técnicas
científicas se viriam a desenvolver posteriormente.
Em meados
do século XVI, Lisboa era o maior centro de consumo e distribuição de vinho
do império - a expansão marítima portuguesa levava este produto aos quatro
cantos do mundo.
Chegados
ao século XVII, o conjunto de publicações de várias obras de cariz geográfico
e relatos de viagens, quer de autores portugueses, quer de autores
estrangeiros, permite-nos entender o percurso histórico das zonas
vitivinícolas portuguesas, o prestígio dos seus vinhos e a importância do
consumo e do volume de exportações.
Em 1703,
Portugal e a Inglaterra assinaram o Tratado de Methwen, onde as trocas
comerciais entre os dois países foram regulamentadas. Ficou estabelecido um
regime especial para a entrada de vinhos portugueses em Inglaterra. A
exportação de vinho conheceu então um novo incremento.
No século
XVIII, a vitivinicultura, tal como outros aspectos da vida nacional, sofreu a
influência da forte personalidade do Marquês de Pombal. Assim, uma grande
região beneficiou de uma série de medidas proteccionistas - a região do Alto
Douro e o afamado Vinho do Porto. Em consequência da fama que este vinho
tinha adquirido, verificou-se um aumento da sua procura por parte de outros
países da Europa, para além da Inglaterra, importador tradicional. As altas
cotações que o Vinho do Porto atingiu fizeram com que os produtores se
preocupassem mais com a quantidade do que com a qualidade dos vinhos
exportados, o que esteve na origem de uma grave crise. Para pôr fim a esta
crise, o Marquês de Pombal criou em 10 de Setembro de 1756, a Companhia Geral
da Agricultura das Vinhas do Alto Douro, para disciplinar a produção e o
comércio dos vinhos da região, prevendo ainda a necessidade de se fazer,
urgentemente, a demarcação da região, o que veio a concretizar-se. Assim,
segundo alguns investigadores, foi esta a primeira região demarcada
oficialmente no mundo vitivinícola.
O século
XIX foi um período negro para a vitivinicultura. A praga da filoxera, que
apareceu inicialmente na região do Douro em 1865, rapidamente se espalhou por
todo o país, devastando a maior parte das regiões vinícolas.
Em
1907/1908, iniciou-se o processo de regulamentação oficial de várias outras
denominações de origem portuguesas. Para além da região produtora de Vinho do
Porto e dos vinhos de mesa Douro, demarcavam-se as regiões de produção de
alguns vinhos, já então famosos, como são o caso dos vinhos da Madeira,
Moscatel de Setúbal, Carcavelos, Dão, Colares e Vinho Verde.
Foi criada
a Federação dos Vinicultores do Centro e Sul de Portugal (1933), organismo
corporativo dotado de grandes meios e cuja intervenção se marcava,
fundamentalmente, na área da regularização do mercado. À Federação, seguiu-se
a Junta Nacional do Vinho (JNV) (1937), e à Junta seguiu-se o Instituto da
Vinha e do Vinho (IVV) (1986), organismo adaptado às estruturas impostas pela
nova política de mercado decorrente da adesão de Portugal à Comunidade
Europeia.
Surge,
então, uma nova perspectiva na economia portuguesa e, consequentemente, na
viticultura. O conceito de Denominação de Origem foi harmonizado com a
legislação comunitária, e foi criada a classificação de "Vinho
Regional", para os vinhos de mesa com indicação geográfica, reforçando-se
a política de qualidade dos vinhos portugueses.
Com
objectivos de gestão das Denominações de Origem e dos Vinhos Regionais, de
aplicação, vigilância e cumprimento da respectiva regulamentação, foram
constituídas Comissões Vitivinícolas Regionais, que têm um papel fundamental
na preservação da qualidade e do prestígio dos vinhos portugueses.
Actualmente
estão reconhecidas e protegidas, na totalidade do território português 33
Denominações de Origem e 8 Indicações Geográficas.”
FONTE: WINE
TOURISME IN PORTUGAL
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