quarta-feira, 19 de outubro de 2016

SAMORA MOISES MACHEL, PRIMEIRO PRESIDENTE DA REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, FAZ HOJE TRINTA ANOS A SUA TRAGICA MORTE E

SAMORA Moisés Machel, o proclamador da independência de Moçambique a 25 de Junho de 1975, falecido a 19 de Outubro de 1986, passam hoje 30 anos, foi segunda-feira recordado em Mbuzini, África do Sul, como um grande líder africano, homem visionário e figura emblemática da história de libertação, não só de Moçambique como também da região e do continente negro.
À região montanhosa de Mbuzini, mais concretamente ao local onde foi erguido o monumento de homenagem a Samora Machel e outros 33 membros da comitiva que pereceram no trágico acidente aéreo, afluíram mais de três mil pessoas oriundas de Moçambique e de diversas partes da África do Sul, entre altos dignitários dos dois estados, representantes das famílias Machel e dos mártires, sobreviventes, parlamentares, dirigentes governamentais, membros dos partidos Frelimo e do Congresso Nacional Africano (ANC), combatentes da luta de libertação de ambos países, religiosos, gente ligada a diversos sectores de actividade, residentes locais e do distrito da Namaacha, província de Maputo.
Tratou-se de uma homenagem co-organizada pelos governos moçambicano e sul-africano, tendo a parte moçambicana sido representada ao mais alto nível pelo Primeiro-Ministro, Carlos Agostinho do Rosário, e o Vice-Presidente da África do Sul, Ciryl Ramaphosa, do lado deste país vizinho.
O mestre de cerimónia responsável pelas considerações iniciais do acto, um sul-africano, qualificou Samora Machel como um “colosso”, líder revolucionário e pai da nação moçambicana. Disse que a ligação entre os povos moçambicano e sul-africano nunca será destruída, sublinhando que ontem estiveram juntos na luta de libertação dos dois países e hoje também juntos na construção das duas nações.
Segundo afirmou, a luta continua a diferentes níveis. Os povos moçambicano e sul-africano são um só e travam uma batalha pela integração económica, visando a melhoria das suas vidas.
O governador de Mpumalanga considerou o primeiro Presidente de Moçambique independente um dos melhores e grandes homens revolucionários de África e que para a população desta província sul-africana a trágica morte de Samora Machel permanece nos seus corações e o seu espírito continua a pairar nesta parcela da África do Sul.
BEM-ESTAR INTRÍNSECO À PAZ
O representante da família Machel, Samora Machel Jr., ou simplesmente Samito, falou da obra do seu pai, da sua essência, dos valores que defendia e dos seus ensinamentos. Humildade e respeito pelo próximo foram alguns dos ensinamentos deixados por Samora Machel aos seus filhos.
Samito afirmou que para o falecido Presidente, o bem-estar era uma questão intrínseca à paz, sem a qual não podia haver liberdade e pão para todos. Disse que a paz pela qual lutava era prioridade para Moçambique, mas também considerava que ela só teria sentido se outros países da região estivessem livres da colonização e o “apartheid” eliminado, bem como se os governos locais fossem capazes de desenvolver as suas economias e desta forma proporcionar o acesso às mais-valias aos seus povos.
“Fisicamente deixou de estar entre nós, mas os seus ideais continuam, para construir o bem-estar. Dizemos Samora vive, porque no nosso dia-a-dia continuamos a recorrer a ele para a solução dos nossos problemas”, disse Samora Machel Jr., acrescentando que para Machel a paz não resultava e nem terminava com simples calar das armas.
Afirmou que “não permitiram que ele realizasse os seus sonhos”, sublinhando que Samora Machel era de um pensamento transcendental. Lamentou que permaneçam ainda, 30 anos depois, conflitos sociais nos países da região.
Indicou que a melhor forma de prestar tributo a Samora Machel é tudo fazer tudo para o restabelecimento da paz no país.
MOÇAMBIQUE PAGOU FARDO PESADO
Moçambique e outros países da região pagaram um fardo bastante pesado, pelo apoio à causa da libertação da África do Sul, segundo afirmou Ciryl Ramaphosa.
O Vice-Presidente sul-africano afirmou que Samora Machel foi um líder especial para os dois países e povos e também para toda África.
“Com ele aprendemos que a luta pela libertação era uma pedra angular que viria a determinar a nossa liberdade”, sublinhou, acrescentando que Machel acolheu, no seu país, os sul-africanos na sua luta contra o “apartheid”.
Segundo afirmou, a coragem do “comandante militar da Frelimo” inspirou a luta do povo sul-africano. Para Ciryl Ramaphosa, 30 anos depois deve-se questionar se Samora Machel estaria satisfeito pelo progresso e a paz alcançados pelos dois países, se ele estaria satisfeito por ter criado uma nova ordem social ou se teria certeza de que ambos estão a trabalhar para construir uma sociedade de paz, justiça e de progresso.
“Líderes como Samora Machel compreenderam que a unidade das massas era primordial para o desenvolvimento das nações”, afirmou, destacando os esforços desencadeados pelos dois países para a melhoria das condições de vida dos seus cidadãos e na construção de relações diplomáticas fortes, baseadas na história comum.
Ramaphosa destacou que a criação do Corredor de Maputo, bem como o investimento de empresas sul-africanas em Moçambique trazem benefícios no âmbito da cooperação bilateral entre os dois países e povos. Disse que os recursos minerais de Moçambique e da África do Sul devem promover o desenvolvimento dos respectivos povos e países.
Disse que o memorial de Mbuzini deve inspirar as novas gerações a aproveitar melhor as oportunidades existentes nos respectivos países em várias áreas. “Devemo-nos recordar sobre a tarefa incompleta da nossa revolução, criando condições para que a nova geração se livre da fome, da pobreza, do analfabetismo e da ignorância. Devemos lembrar Samora, por ter sido um soldado que lutou contra estes e outros males que enfermam as nossas sociedades”, afirmou.
REFERÊNCIA INCONTORNÁVEL
O Primeiro-Ministro, Carlos Agostinho do Rosário, considerou Samora Machel um estadista visionário e humanista, um herói nacional em Moçambique e uma referência incontornável na história pela autodeterminação dos povos do continente africano e do mundo.
Como estadista visionário e humanista, disse, o Presidente Samora Machel não libertou apenas a terra e os homens, mas trouxe para Moçambique, para a região e para o mundo, uma nova forma de relações, onde o bem-estar social foi sempre a sua prioridade, tendo dedicado a sua vida a esta causa.
“Recordá-lo é trazer para os mais jovens o conhecimento da sua participação na fundação e dinamização do Movimento dos Países da Linha da Frente, uma importante organização estabelecida para apoiar a luta contra a dominação colonial em África e o apartheid”, afirmou do Rosário, sublinhando que Samora Machel soube desenvolver e difundir, com exemplos concretos, o espírito de solidariedade e do internacionalismo, desde os primeiros momentos do seu envolvimento na luta contra a dominação colonial.
Foi no âmbito do espírito de solidariedade que Samora Machel apoiou os movimentos de libertação de outros países da região e do mundo, tais como o ANC, a ZANU-PF, do Zimbabwe, a SWAPO, da Namíbia e a FRETILIN, de Timor-Leste.
PERECIDOS E SOBREVIVENTES
Com o Presidente Samora Machel perderam a vida 33 pessoas, entre governantes, seus assistentes, pessoal da segurança, funcionários da presidência e membros da tripulação. Eis a lista:
- Luís Maria de Alcântara Santos - ministros dos Transportes e Comunicações
- José Carlos Lobo – vice-ministro dos Negócios Estrangeiros
- Aquino de Bragança – director do Centro de Estudos Africanos
- Fernando Honwana – assistente especial do Presidente Samora
- Alberto Cangela de Mendonça – chefe do Protocolo Nacional
- Maradi Mamadhusen – secretário particular do Presidente
- João Tomás Navesse – director-adjunto da Direcção de Assuntos Jurídicos e Consulares do Ministério dos Negócios Estrangeiros
- Ivete Amós – secretária do Presidente
 - Osvaldo de Sousa – intérprete de inglês do Presidente
- Bernardino Chiche – intérprete de francês do Presidente
- Gulamo Khan – adido de imprensa na Presidência da República
- Major Daniel Maquinasse – fotógrafo oficial do Presidente da República
- Capitão Parente Manjate – funcionário da Presidência
- Nacir Charamadane – funcionário da Presidência
- Adão Gore Nhoca – Funcionário da Presidência
- Eduardo Viegas – funcionário da Presidência
 - Albino Falteira- funcionário da Presidência
- Alberto Chaúque- funcionário da Presidência
- José Quivanhane- funcionário da Presidência
- Azarias Inguana – fotógrafo do Jornal Notícias
 - Fernando Nhaquila – engenheiro de bordo
- Orlanda Garrine – assistente de bordo
- Esmeralda Luísa – assistente de bordo
- Sofia Arone – assistente de bordo
- Ilda Carão – assistente de bordo
COOPERANTES INTERNACIONALISTAS
- Henriques Bettencourt – médico pessoal do Presidente
 - Ulisses La Rosa Mesa – médico pessoal do Presidente
- Iuri Novdran – comandante da aeronave
- Igor Kartamychev – co-piloto
- Oleg Kaudrianov – engenheiro de bordo
- Anatoli Choulipov – engenheiro de bordo
Com a delegação presidencial viajavam os embaixadores da República da Zâmbia e da República do Zaire (hoje RDC), respectivamente Cox C. Sikumba e Tokwalu Batale Okulakamo, ambos perecidos no sinistro.
SOBREVIVENTES
- Eusébio Guido Martinho
- Capitão Carlos Jambo
- Capitão João Rendição
- Fernando Manuel João
 - Almeida Pedro
 - Manuel Jairosse
- Daniel Cuna
-Jossefa Machango
- Vasco Langa
- Vladimir Novoselov, engenheiro de bordo.

AZARIAS INGUANE: O NOSSO COLEGA PERECIDO NA TRAGÉDIA DE MBUZINI 
A 19 de Outubro de 1986 o país ficou de luto pela morte do Presidente Samora Machel no acidente aéreo de Mbuzini, que também vitimou 33 pessoas, incluindo o fotojornalista do matutino “Notícias”, Azarias Inguane.
Azarias Inguane, que fazia parte da comitiva presidencial, era conhecido como um “correspondente de guerra”. Morreu na flor da idade, quando ainda tinha pela frente uma promissora carreira como repórter fotográfico.    
Em vida fez inúmeras reportagens fotográficas, quer no país, quer em missões de serviço no estrangeiro, que fizeram dele uma referência no seu campo de actuação profissional.  
Ao longo dos sete anos que pertenceu aos quadros do “Notícias” trabalhou com algumas das referências do jornalismo moçambicano, como são os casos de Mia Couto, Mário Ferro, Pedro Tivane, Abel Faife, Calane da Silva, Benjamim Faduco, Bernardo Mavanga, Rogério Sitoe, Célio Moco, Albuquerque Freire, Jorge Matine, Renato Caldeira, Carlos Alberto, Carlos Calado, Amadeu Marrengula e Isidro Pascoal. 
Azarias Eugénio Inguane, de seu nome completo, nasceu a 26 de Março de 1959, na localidade de Maivene, distrito de Chibuto, província de Gaza. Ingressou no Jornal Notícias como estagiário, a 22 de Março de 1979. 
A 1 de Junho de 1980 passou a pertencer aos seus quadros editoriais, e quatro anos mais tarde viria a ser nomeado chefe da Secção Fotográfica, cargo que manteve até à data da sua morte, a 19 de Outubro de 1986, em Mbuzine, na África do Sul. Era o único fotojornalista dos órgãos de comunicação nacionais que fazia parte da comitiva presidencial.

FELISBERTO ARNAÇA"
FONTE: NOTICIAS, JORNAL DE MOÇAMBIQUE.
NB: DURANTE A SUA HISTORICA VISITA A PORTUGAL EM 1984, FICARAM VÁRIOS MOMENTOS CÉLEBRES, ENTRE ELES, QUANDO UM JORNALISTA LHE PERGUNTA: " SENHOR PRESIDENTE, O QUE PENSA DE PORTUGAL E DOS PORTUGUESES? QUEDOU-SE UM SILÊNCIO, OLHOU COM OS SEUS OLHOS E OLHAR QUE TUDO NOS TRANSMITIA, E PERGUNTOU: "PRECISO DE DIZER, MAIS ALGUMA COISA"???? ESTAVA  MUITISSIMO FELIZ, POIS ISSO TINHA TRANSMITIDO AO JORNALISTA COM O SEU OLHAR. NÂO PRECISOU DE USAR A FALA.

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