domingo, 25 de fevereiro de 2024

GROHE AS MELHORES TORNEIRAS DO MUNDO SÃO FABRICADAS EM PORTUGAL, MAS QUANDO CHEGAM A NOVOS MERCADOS, COMO POR EXEMPLO, PAISES DA CPLP E SEUS VIZINHOS?

"Executive Digest | ÚltimasAtualidadeEdição ImpressaCEO’s TalksBarómetroCadernos EspeciaisEventosConselho EditorialMais Em Portugal nascem “as melhores torneiras do mundo”: João Brás, Diretor-Geral da GROHE Portugal Por André Manuel Mendes 12:39, 20 Fev 2024 O dia estava cinzento e as gotas caiam do céu. Parecia um presságio do que nos esperava mais adiante. Chegamos a Abergaria-A-Velha e prontamente somos recebidos dentro da GROHE. Encaminhados pelos 22 mil metros quadrados de unidade fabril, rapidamente começamos a ouvir o som da maquinaria. Ao longe vemos o sector da fundição, onde o latão é criado e o calor lhe dá forma, e vamos passo a passo passando pelo corte, lixamento, polimento, onde já começamos a vislumbrar, gota a gota, o produto final, as torneiras. São aqui produzidas desde 1998, com uma atenção ao detalhe única. Se tem um pequeno risco ou defeito, volta para a fundição. Dizem ser as melhores torneiras do mercado, pelo que o cliente tem de ter nas suas mãos um produto imaculado. Para conhecer por dentro o mundo das torneiras, a Executive Digest conversou com João Brás, Diretor-Geral da fábrica do Grupo LIXIL – GROHE Portugal, que nos fez perceber a aposta na GROHE em terras lusas e entender como é que a mão-de-obra nacional consegue produzir «as melhores torneiras do mundo». Como é que se sentiu ao aceitar o convite para a Grohe depois de passar 20 anos noutra multinacional? Durante os últimos anos recebi várias propostas do mercado, e nunca tive o “clique” para mudar. Tive um trajeto profissional muito bom no grupo onde estava e estou muito agradecido pela experiência profissional e pelos cargos que desempenhei, mas era a altura de, após 20 anos, abraçar um novo desafio. Aqui, conheci uma nova indústria, apesar das semelhanças com a minha experiência anterior, nomeadamente a questão da água, aqui fazemos torneiras e na empresa anterior eram esquentadores e caldeiras. O projecto era muito interessante, e do ponto de vista privado, depois de ter pedido à minha família grandes sacrifícios para me acompanhar por meio mundo, ter agora mais estabilidade era importante, nomeadamente para os meus filhos. Outra das razões é que, apesar de o Grupo Lixil ser também uma multinacional, a GROHE, em si, é uma empresa de menor dimensão e maior agilidade. Onde eu estava, o processo de tomada de decisão era mais burocrático; tudo demorava mais tempo e existia pouca autonomia. Aqui, o nível de responsabilidade também é exigente, mas o nível de autonomia e agilidade na tomada de decisões é maior, o que nos dá mais tempo para gerir efectivamente o negócio. E que multinacional é a Grohe? A GROHE é uma empresa de origem alemã que cresceu na área de negócio das torneiras. Actualmente é líder mundial nesta área de negócio e sustenta a sua estratégia em quatro pilares: tecnologia, qualidade, inovação e sustentabilidade. A sustentabilidade é um dos principais valores da marca; faz parte do nosso ADN. Por exemplo, todos os locais de produção originalmente da GROHE, cinco a nível mundial (Portugal, Tailândia e três na Alemanha), são todos CO2 neutros, ou seja, compensamos todas as nossas emissões na produção de torneiras com energia renovável ou com projetos de sustentabilidade. Desde abril de 2020 podemos dizer que somos os primeiros na indústria a conseguir esta distinção, de neutralidade carbónica. E isto é também uma prioridade aplicada ao universo do Grupo Lixil, multinacional japonesa que adquiriu a GROHE em 2014, que conta com cerca de 80 fábricas no mundo e que tem como objetivo atingir a neutralidade carbónica em todas as suas localizações até 2050. Para conseguirmos alcançar estes objectivos, em Portugal fizemos diversos investimentos, como um parque solar fotovoltaico que cobre toda a área do parque de estacionamento dos colaboradores e ainda noutra zona da fábrica. Para além disso, foram realizados outros investimentos relevantes, como a substituição de caldeiras e equipamentos mais antigos por tecnologias mais recentes e eficientes, e estamos a analisar a possibilidade de expandir o nosso parque fotovoltaico. Esta questão da sustentabilidade é muito importante e temos um grande apoio da casa-mãe para continuar- mos a desenvolver projectos que permitam reduzir o consumo de energia, de água e assim melhorar o nosso desempenho energético. Falando um pouco do Grupo Lixil, a empresa tem no seu portefólio um conjunto de marcas com mais de 100 anos de história. Apesar de a casa-mãe ser uma empresa recente, adquiriu empresas que têm muita tradição na indústria. O Grupo Lixil é líder de mercado no Japão. Comercializa soluções completas para o mercado de construção de edifícios, que vão desde a área de projeto até aos mais variados produtos incluindo portas, janelas, soalhos, cerâmicos, torneiras e outros. A estratégia de internacionalização do Grupo Lixil passou pela aquisição de empresas/marcas fortes da indústria fora do Japão, tendo começado pela compra da American Standards nos EUA, e depois a GROHE na Alemanha, ambas marcas de referência no sector. A GROHE continua a ser a marca referência do grupo na Europa, e é expectável que no futuro possa alargar o seu portefólio a outros produtos do Grupo Lixil no mercado. Um dos valores da GROHE é a tecnologia. Qual a importância deste aspeto para a organização? Há muitos produtos que estão a ser pensados e desenvolvidos neste momento. Um produto desenvolvido recentemente foi uma torneira que, para além de ter as funções normais de água quente e fria, tem ainda a possibilidade de oferecer água filtrada e refrigerada para beber, e também água com gás. Na mes- ma torneira oferecemos, portanto, quatro funcionalidades. É um produto diferenciado que incorpora alguma tecnologia relevante para este sector. É um exemplo de uma torneira que incorporada várias funções que satisfazem várias necessidades dos nossos clientes. A questão da sustentabilidade foi aqui também tida em conta no desenvolvimento destas tecnologias, nomeadamente a poupança no consumo de água. Neste âmbito, em Portugal, submetemos as nossas torneiras a certificação ANQIP em contexto de certificação hídrica. A maior parte dos nossos produtos tem certificação A, A+ e A++. Na nossa área de negócio não é algo obrigatório, mas estamos a impor-nos a certificar os nossos produtos porque em particular na nova construção, a elegibilidade para certificação de edifícios verdes, edifícios que demonstram uma preocupação especial com o meio ambiente, exigem o cumprimento de determinados parâmetros de sustentabilidade, nomeadamente a utilização racional dos recursos naturais necessários ao seu funcionamento. Porque é que a GROHE escolheu Portugal? Inicialmente, a GROHE em Portugal começou com um escritório de vendas no Porto, e a administração na altura, em 1996, decidiu instalar uma unidade industrial em Portugal, porque necessitavam de um local competitivo para aumentar a produção destinada principalmente para o mercado Europeu. Na altura também havia muitos apoios para o investimento direto estrangeiro no país. Esta fábrica nasceu do zero pelas mãos da GROHE, e no ano de 1998, começa a operar, ainda numa escala mais pequena, e ao longo dos anos foi-se sempre desenvolvendo, e os investimentos nunca pararam nesta unidade industrial. Hoje, temos cerca de 22 mil metros quadrados de área coberta e um terreno de 60 mil metros quadrados. Chegamos a um ponto onde já não dá para crescer muito mais dentro deste complexo industrial, estamos próximos do limite. Neste momento, esta organização contempla todos os processos associados à produção de uma torneira, fazemos tudo in house, desde a produção da liga de latão, que é a base da constituição da torneira, até todos os processos a jusante de maquinagem, lixamento, polimento, tratamento de superfície com a aplicação do cromado que serve de protecção da torneira contra corrosão, até ao processo final da montagem da torneira. Temos toda a cadeia de valor para a produção de uma torneira neste complexo industrial. O Grupo Lixil conta com oito centros de design e desenvolvimento de produto espalhados pelo mundo, dois no Japão, dois na China, Singapura, Alemanha e Inglaterra. Em Portugal temos uma equipa de engenheiros de industrialização de produto, ou seja, quando se desenvolve um novo conceito de torneira, esta equipa é responsável por todo o processo de industrialização desta torneira na unidade industrial de Albergaria. O que sente quando ouve dizer «torneiras Made in Portugal pelo mundo»? É em primeiro lugar um sentimento de orgulho… A unidade industrial de Albergaria é especializada na produção de dois tipos de torneiras: torneiras de cozinha e torneiras termostáticas de duche. Estes são os dois “core products”, temos um “know-how” profundo nestas duas tecnologias de torneira. De todas as torneiras de cozinha da marca GROHE espalhadas pelo mundo, podemos dizer que cerca de 70% foram produzidas nesta fábrica, e isso é um registo incrível. O ano passado produzimos nesta unidade mais de 6 milhões de torneiras que foram vendidas para cerca de 100 países. A probabilidade de encontrar uma torneira da marca GROHE em qualquer parte do mundo produzida aqui, é muito grande. É um motivo de orgulho e realização não só para mim, mas sobretudo para todos os colaboradores que aqui trabalham e até mesmo para Portugal que por vezes precisa destas conquistas e destes símbolos para se realizar. É o orgulho de ser português e que o nosso trabalho é reconhecido pelas grandes multinacionais e pelos nossos clientes em todo o mundo. E o que distingue o «Made in Portugal»? Todas as organizações onde trabalhei são de origem alemã, e normalmente estas têm como características o rigor, o planeamento e a organização. Eu sou da opinião que estes modelos organizacionais das empresas alemãs encaixam muito bem com o perfil português, que é normalmente mais desorganizado, mas somos brilhantes do ponto de vista de flexibilidade e até de inovação. Normalmente o português consegue dar a volta a situações difíceis e encontrar soluções diferentes e inovadoras. Quando reunimos numa mesma organização a disciplina organizacional de uma empresa alemã, com uma cultura mais flexível e inovadora sob estas orientações, conseguimos desenvolver e atingir resultados muito interessantes. Daí que as empresas alemãs onde eu trabalhei a operar em Portugal, normalmente eram empresas que conseguiam atingir valores de referência ao nível da produtividade e eficiência. E isso aconteceu também aqui na GROHE em Portugal. Quando cá cheguei, passado um ano voltamos a ser a melhor fábrica do Grupo, o que significa que atingimos na globalidade os melhores índices de performance financeira e operacional a nível global. Para além das questões de produtividade, o que é feito pela Grohe no âmbito da igualdade de género, de oportunidades… Um dos exemplos entre outros é a realização de um questionário anual a todos os colaboradores da empresa que abrangem também estas dimensões. É um questionário com mais de 60 perguntas que varre desde questões sobre liderança, comunicação e colaboração dentro do grupo, mas também sobre igualdade de género, diversidade, discriminação… significando que estamos sempre a ser avaliados pelos nossos colaboradores, não só em Albergaria, mas a nível global sobre estas temáticas. Estas questões da diversidade e da igualdade de género são fundamentais para nós, e acreditamos plenamente nelas. Confesso que nos últimos anos temos tido um desenvolvimento muito positivo na qualidade das respostas, ou seja, no nível de satisfação dos nossos colaboradores nessas questões. São temas cruciais para nós, acreditamos plenamente neles e utilizamos este tipo de ferramentas para nos ajudarem a entender os nossos problemas e a definir planos de ações para melhorar as áreas/temas de menor desempenho. Somos uma empresa multinacional de origem Alemã e agora com tradição japonesa e também por isso é ainda mais a nossa obrigação respeitar a opinião de todos porque estou absolutamente convencido que esta diversidade é uma vantagem competitiva para a nossa organização. E que tipo de ações têm concretamente nesse âmbito? A título de exemplo, somos referência do grupo em questões relacionadas com igualdade de género. A minha equipa de gestão, ou seja, das oito direções que me reportam a saber Operações de Montagem, de Pré-Processo, Qualidade, Logística, Compras, Financeira, Recursos Humanos e Engenharia Industrial, metade são lideradas por mulheres. Este resultado não foi atingido por acaso, desenvolvemos políticas desde o recrutamento até ao desenvolvimento profissional na empresa que reflectem a nossa estratégia de aposta clara também de equilíbrio nesta matéria. Isto é único dentro do Grupo Lixil, estamos no patamar mais alto. O Grupo Lixil definiu objectivos concretos nesta área por país para serem cumpridos nos próximos anos. Felizmente, nós já atingimos esses objectivos. Para além disso, é crucial ter capacidade de captar e reter talento ainda mais no sector industrial, e termos a possibilidade de trabalhar numa organização que é líder de mercado, e que tem uma reputação de marca enorme ajuda neste contexto. Costumo dizer que aqui são produzidas as melhores torneiras do mundo. Já falamos de liderança anteriormente. Para si, quais são as principais características que deve ter um líder? Na minha opinião, uma das principais características de um líder é a sua disponibilidade para ouvir. Lembro-me de uma frase do jornalista Larry King que dizia ‘Se eu quero aprender hoje alguma coisa, tenho de ouvir, porque se só falar não aprendo nada’. Eu aplico muito isso na minha gestão, na minha liderança, estou disponível para ouvir e valorizar a opinião de todos os colaboradores, não apenas aqueles que me reportam. Outra característica importante é a capacidade de decisão. Depois de o líder ouvir a opinião de todos, perceber realmente o problema tem que ter capacidade de tomar decisões, apontar o caminho com base em factos. Também costumo dizer que por vezes mais vale uma má decisão do que uma não decisão, mas claro que temos que aprender com esta má decisão para não voltar a repetir. Um líder tem também que ter capacidade analítica para analisar os problemas, tem de ser capaz de comunicar de forma clara e não menos importante preocupar-se com o desenvolvimento dos seus colaboradores. São eles a base de sucesso de qualquer organização. E para o futuro, quais são os projectos e investimentos previstos? A Grohe investiu muito nesta organização nos últimos anos, não só na requalificação de partes dos edifícios com mais de 20 anos, mas também na renovação gradual do nosso parque de máquinas, no sentido de tornar a nossa operação com melhores condições para os nossos colaboradores e melhorar ainda a nossa eficiência produtiva e sustentabilidade. No ano passado investimos cerca de cinco milhões de euros, e este tem sido mais ou menos o valor que todos os anos o Grupo Lixil aprova para melhorarmos globalmente a nossa operação." FONTE SAPO

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