"REPORTAGEM - Teatro moçambicano: Tempos diferentes, mesmos problemas
Maputo, Quarta-Feira, 27 de Março de 2013
Notícias Cansados do marasmo em que está mergulhado o teatro, os actores moçambicanos decidiram realizar uma “passeata de descontentamento” que tinha objectivo entregar um documento ao Ministério da Cultura na qual expunham os seus inúmeros problemas e apontavam detalhes com vista a uma possível solução. O documento foi entregue, mas desde que isso aconteceu, passam quase quatro anos, até hoje nada transpirou.
Já não acontecem os tradicionais desfiles alegóricos que marcavam a celebração da efeméride, com actuações e exibições de peças que deviam nos dar a ideia de que o país tem actores, encenadores e outros intervenientes que conhecem a arte e podem, por isso, proporcionar muito mais do que entretenimento para a sociedade moçambicana. Mas nada disso aconteceu.
É por isso que para os actores e demais intervenientes no teatro nacional, esta expressão cultural é das mais esquecidas pelo Governo.
E todo o conhecimento acumulado pelos actores até hoje, dizem, é produto da experiência dos artistas mais experimentados.
Beira capital de teatro
Maputo, Quarta-Feira, 27 de Março de 2013
Notícias Trata-se de uma iniciativa que visa, entre outros objectivos, colectar ajuda para as vítimas das cheias e inundações que ocorreram um pouco por todo o país, em consequência das chuvas intensas e aumento dos caudais dos rios.
O porta-voz do FESTBEIRA, António Garcia, ou simplesmente Apingar, explicou que os grupos ISARC (Maputo), Gunduro Gumbene (Inhambane), Kassóra (Zambézia), Kuaedza (Manica) e Chamuarianga, Só Mulheres, Curarama, Haya-Haya e Companhia de Canto e Dança do Município da Beira (Sofala) já tinham confirmado a sua participação no evento.
A ideia é ajudar os que sofrem mas também começar a dar mais visibilidade e criar oportunidades de intercâmbio entre fazedores de teatro locais e nacionais. Apingar afirma que o festival será realizado anualmente, o que fará com que o teatro seja levado para junto das comunidades e não só, como também servirá de plataforma de lançamento de novos talentos.
Apingar disse ainda que as sessões serão realizadas no Auditório Municipal (ex-cinema Novocine), na baixa da cidade, no campus da UNIZAMBEZE e no salão do Young África, na Manga.
“O que pretendemos é que os residentes desfrutem do teatro e se apercebam das mensagens que os artistas irão transmitir, para além de fazer com os estudantes e a comunidade escolar, no caso da UNIZAMBEZE, também estejam sensibilizados para com as causas sociais, neste caso de solidariedade para com as vítimas das enxurradas no país”, explicou o porta-voz do FESTBEIRA.
Fora do cunho de solidariedade, o Festival de Teatro da Beira vai doravante contribuir para o alargamento do horizonte da arte de representar, sobretudo na capital de Sofala.
“Todas as sessões desta primeira aparição do festival serão de borla, ou seja, não se paga entradas, pois queremos que as pessoas tragam algo para ajudar ao próximo, neste caso as vítimas das cheias e inundações”, explicou Apingar.
Esta realização, que também futuramente poderá ser internacionalizada com o envolvimento de alguns grupos teatrais de certos países do continente e do mundo, é apoiada pelo Conselho Municipal da Beira e pelas empresas Cornelder de Moçambique e a Fabrica de Óleo da Beira (FABEROL).
Festival no Ntsindya
Maputo, Quarta-Feira, 27 de Março de 2013
Notícias Sendo assim, solicita-se a cobertura deste evento bem como toda e/ou qualquer informação prévia ao público através do vosso órgão informativo(em rodapé dos vossos serviços noticiosos).
Massificar teatro radiofónico
Maputo, Quarta-Feira, 27 de Março de 2013
Notícias “Não basta termos somente um teatro recreativo. Temos que encontrar formas de apostar num teatro também virado para a educação cívica. Didáctico. Esse é um grande desafio”, explica Abdil Juma, director do NkaringArte.
Se o teatro deve ser uma arma para a educação cívica das comunidades, então há que pensar na ideia de o mesmo ser profissionalizado.
O nosso interlocutor diz ter noção dos desafios que isso acarreta, contudo é também um grande desafio. “Isso não será fácil pela geografia que requer ter um teatro profissional. Por exemplo, um teatro de palco requer diversos materiais como espaço para ensaios, cenário, adereços, luz e toda a gama de questões que incluem o salário dos actores. Portanto, estamos a dizer que os actores passam a viver somente do teatro”, explica.
E quanto ao teatro radiofónico, questionamos, ao que nos respondeu: “É preciso que haja tempos de antena nas rádios, estúdios e que igualmente sejam efectuados pagamentos. Sem tudo isso nunca devemos pensar em ter um teatro profissional. Acho que é por isso que as pessoas não enveredam por esse caminho. Não está fácil”, comenta.
NUNCA OUVI FALAR DE APOIOS
Juma falaou também de apoios dizendo: “Nós temos apoios de organizações não governamentais que tem os seus objectivos. Portanto, acaba-se cumprindo agendas de organizações. Esses são os únicos apoios que aparecem. Em relação ao Governo, o que temos visto são apoios morais. E ponto final. Nunca vi e nem ouvi dizer que o Governo, através do Ministério da Cultura, tenha prestado um apoio financeiro a um grupo de teatro para realizar as suas actividades. Alguns sortudos conseguem, em algumas, receber bilhetes de passagens do Ministério da Cultura quando vão participar em eventos no estrangeiro. Invariavelmente temos visto quase sempre são as mesmas pessoas, lamentavelmente. Porquê será, eu não sei”,
Às rádios vai a deixa de que devem abrir mais espaços para o teatro radiofónicos, a despeito do que acontece com um género cultural como é a música.
“COMPASSO” RADIOGRAFA RÁDIO-DRAMA
Entretanto, uma oficina de teatro subordinada ao tema “Impacto do teatro radiofónico na sociedade” vai marcar a passagem, hoje, das celebrações do Dia Mundial do Teatro. O evento, co-organizado pelo programa “Compasso”, da Antena Nacional da Rádio Moçambique e a Associação Cultural Nkaringanarte, terá lugar no Estúdio Auditório daquela estação emissora, a partir das 16:00 horas.
Segundo Abdil Juma, para esta oficina, foram convidados, para além de actores, encenadores e amantes do teatro, estarão igualmente estudantes de teatro da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade Eduardo Mondlane, tendo sido criadas ainda condições para que todos aqueles que amam o teatro estejam lá presentes.
No encontro estarão ainda produtores e fazedores de rádio das cidades de Maputo e Matola.
A ideia é a usar-se a data da efeméride para uma reflexão conjunta entre fazedores da arte e os representantes das rádios de modo a encontrar-se uma plataforma de trabalho com o intuito de tornar cada vez mais interventivo este género de teatro.
Durante a oficina serão apresentadas várias peças de palco para além de se escutar trechos de peças radiofónicas.
Teatro sobrevive à vontade dos seus fazedores - Alvim Cossa, Curinga do Teatro do Oprimido
Maputo, Quarta-Feira, 27 de Março de 2013
Notícias E se algum sucesso se assiste o mesmo está intimamente ligado aos que amam o teatro.
“São inúmeras as dificuldades que cercam esta modalidade, mas a vontade inabalável dos seus praticantes e amantes faz com que sejam paulatinamente ultrapassadas. Houve um momento, nos anos 90, em que de facto aconteceu um boom no nosso teatro. Em todas as esquinas, nos bairros e ou quarteirões havia pelo menos um grupo de teatro, o que foi bom pois ajudou a despertar a sociedade para os benefícios sociais e culturais que uma modalidade como esta tem”, diz Alvim Cossa, sublinhando que, quem faz teatro deve exigir um pouco mais de si como uma leitura cada vez mais afinada e refinada, uma disciplina vocal, linguística e sobretudo corporal.
Segundo Cossa, esse tempo possibilitou o surgimento de uma consciência crítica do que é ou não teatro. E mais: “Dessa quantidade emergiu a qualidade que, alicerçada à perseverança, permitiu que hoje celebrássemos não mais a quantidade, mas sim a qualidade teatral”.
“Estamos felizes com o que fazemos, estamos cientes de que em muitos aspectos precisamos melhorar, crescer e conquistar um estilo cada vez próprio”, adianta Alvim Cossa, sublinhando que, o teatro moçambicano está numa constante procura de aromas próprios e de ritmos que os possam caracterizar devidamente.
Na opinião do nosso entrevistado, esta acção não tem sido acompanhada pelas instituições governamentais, que deviam se preocupar mais em criar facilidades que num passado recente foram o forte para o surgimento de um movimento cultural fértil e bastante fecundo na construção da moçambicanidade.
Nação consolida-se com valores culturais
Maputo, Quarta-Feira, 27 de Março de 2013
Notícias Para ele, não se justifica que Moçambique tenha um Ministério da Cultura sem capacidade para financiar uma produção artística nacional. Até porque ele não encontra justificação para a constante “canção” da falta de fundos quando espaços nobres como os cinemas Império, Águia, Olímpia, Tivoli, Novo-Cine, entre tantos outros estão votados ao abandono. “E esses espaços constituem valiosa conquista do povo moçambicano. Não deviam ser entregues ao apodrecimento”, comenta, Alvim Cossa que se mostra feliz com a criação do curso de teatro na Escola de Comunicação e Artes (ECA) da Universidade Eduardo Mondlane, contudo, apela para que haja uma instituição de género que possa leccionar o nível médio.
“Sentimos ser urgente a criação de uma escola de nível médio de teatro. O saber fazer, o querer fazer, o talento e a vocação são etapas que não devem aguardar a faculdade. Precisamos educar e ajudar a moldar os nossos talentos desde a adolescência e abrir o leque para que em consciência tomem as opções acertadas”, diz.
Ao celebrar o 27 de Março, Alvim Cossa felicita os fazedores e amantes do teatro, e coloca-lhes um repto: “É urgente criarmos a nossa agremiação. É urgente caminharmos com um olhar firme nos diferentes alvos que impedem a nossa progressão. É urgente abandonarmos o individualismo desenfreado que nos caracteriza e assumirmos que somos uma classe, que muito em breve terá o respeito que merece, pois as condições para nos impor, estão criadas”."FONTE JORNAL NOTICIAS
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