Maputo, Sexta-Feira, 10 de Agosto de 2012Na verdade, avultam no país negócios milionários do primeiro mundo. Um bilião
de dólares americanos foi investido, segundo fonte do Ministério dos Recursos
Minerais, em pesquisas de gás natural na Bacia do Rovuma, no ano passado, valor
que o Governo espera venha a ser largamente superado durante o presente ano em
furos de avaliação de reservas e descobertas. A mesma fonte refere que cada furo no Rovuma não sai por menos de 100 milhões
de dólares americanos quando se sabe que um navio-sonda ali estacionado custa
por dia um milhão de dólares no mínimo devido aos vários serviços especializados
que deve suportar. Trata-se de investimentos por conta e risco de multinacionais que ali operam,
uma vez que os contratos de pesquisa e produção de petróleo e gás natural são
desenhados na perspectiva de quem tiver sucesso recuperar aquilo que gastou.
Caso não, dá o dinheiro como perdido. País rico, mas... pobreMoçambique já é dado como o quarto país no mundo em termos de potencial de
gás natural, ficando atrás de Qatar, Irão e Rússia. Galvanizados por estas
referências, investidores não cessam a sua corrida, tendo o Rovuma como meta,
precisamente na costa dos distritos de Mocímboa da Praia e Palma, em Cabo
Delgado, onde a produção intensiva do recurso poderá ir além de meio século.
Parte da província de Nampula, no distrito de Memba, entra igualmente nas
contas.Os recursos recuperáveis no Rovuma são presentemente estimados em
aproximadamente 60 triliões de pés cúbicos, havendo outros 80 triliões de pés
cúbicos no que se classifica de reserva potencial, isto na área onde opera a
multinacional norte-americana Anadarko. Na área da italiana ENI fala-se de 60
triliões de pés cúbicos de reservas potenciais. E Moçambique não tem somente gás natural. Nos últimos cinco anos, existiam 1
075 títulos mineiros no país, sendo 14 licenças de reconhecimento, 864 licenças
de prospecção e pesquisa, 142 concessões mineiras e 57 certificados mineiros.
Em consequência da crise financeira internacional, os pedidos baixaram
significativamente nos anos 2008 e 2009. Porém, segundo fonte do Ministério dos
Recursos Minerais, a partir de 2010 assistiu-se a uma nova tendência de
interesse por licenças mineiras.Só em 2009 o investimento no sector totalizou 500 milhões de dólares
americanos, com a maior contribuição das operações de desenvolvimento do
projecto de carvão de Moatize, do projecto de carvão de Benga e das referentes à
exploração de metais básicos e preciosos nas províncias de Cabo Delgado, Manica,
Tete e Niassa.
Notícias A agricultura não pode ser negligenciada
Maputo, Sexta-Feira, 10 de Agosto de 2012Além das riquezas atrás mencionadas, Moçambique é “campeão” da África Austral
em disponibilidade de água. O Vale do Zambeze é uma “mina de ouro” neste
aspecto, com potencial de irrigação suficiente para dinamizar uma agricultura
“musculada”.Contudo, segundo Firmino Mucavele, agroeconomista e docente na Universidade
Eduardo Mondlane, a força de trabalho que Moçambique tem na agricultura não é
treinada. “Cerca de 73 por cento é constituída por analfabetos. A maioria não
tem acesso ao crédito e ao investimento”. Mucavele referiu ainda que a experiência e o know how tecnológico é
muito limitado em Moçambique, onde pouco ou nenhum suplemento é usado para
melhorar a produtividade da terra, o que urge reverter.Falando da descoberta crescente de recursos naturais, o nosso interlocutor
chamou atenção para o facto de não serem renováveis, pois “mais cedo ou mais
tarde irão acabar”. Destacou a necessidade de serem usados com interesse estratégico na área da
agricultura, assegurando boa alimentação aos moçambicanos, tarefa fundamental
para qualquer Governo. Nesta perspectiva, Mucavele inseriu os recursos naturais como mais uma fonte
para financiar uma série de investimentos necessários para modernizar a
agricultura. “Se não tivermos cuidado, podemos ter um problema muito grande que é
abandonarmos a agricultura e olharmos só para os recursos minerais, onde o
financiamento vem de fora”, disse, acrescentando que neste sentido todas as
contrapartidas geradas pelo negócio irão para fora “e Moçambique viverá períodos
prolongados de fome com todos os recursos que possui”.Além de gás natural, metais preciosos e carvão, Moçambique tem o Vale do
Zambeze, alimentado em grande medida pelo rio com o mesmo nome. Com 225 mil
quilómetros quadrados, é detentor da maior reserva de água e de hidroenergia da
África Austral. Contudo, não passa hoje de “elefante branco”, uma vez que em pouco ou em
quase nada contribui para irrigação dos 5,5 milhões de hectares de terra à sua
volta, cujo potencial seria enorme para uma agricultura em regime de
regadio.Especialistas em economia dizem mesmo que quem tem o Vale do Zambeze não tem
motivos para ser pobre, todavia as evidências tiram sono a qualquer um. Moçambique continua dependente de chuvas para a sua agricultura. Pior ainda:
sofre quando chove, de igual forma que sofre quando não chove. Ou seja: de um
momento para o outro acumula muita água que, entretanto, se perde em tão pouco
tempo. Milhares e milhares de hectares de terras destinadas à agricultura passam por
longo período de estiagem e, por conseguinte, têm sido reportados frequentemente
casos de fome em províncias que deviam ter fartura de alimentos. A pergunta é: como anular o paradoxo? Álvaro Carmo Vaz, bastonário da Ordem
dos Engenheiros de Moçambique, disse recentemente que no âmbito da luta que
travamos contra a fome , impõe-se a recuperação do projecto de irrigação dos
anos 1960, que esteve na génese do próprio empreendimento de Cahora Bassa, que
visava, dentre vários objectivos, necessidades energéticas e a irrigação ao
longo do Vale do Zambeze . Este alimentaria, em dose única, a indústria e a
agricultura, duas das mais importantes variáveis na equação de desenvolvimento,
contribuindo, a par do gás natural, para electrificação do país e da África
Austral.E Vaz explica-se: “as barragens desempenham um importante papel na
regularização de escoamentos de agua para além de serem igualmente vitais na
criação de quedas para aproveitamentos hidroeléctricos”.
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