sexta-feira, 10 de agosto de 2012

AGRICULTURA, GÁS E CARVÃO MINERAL O TRINAGULO DO DESENVOLVIMENTO DE MOÇAMBIQUE

RECURSOS - Carvão, gás e agricultura: O novo triângulo de desenvolvimento. O GÁS natural, cuja reserva é actualmente estimada em mais de 100 triliões de pés cúbicos, só no Rovuma, está a valorizar-se no mercado internacional, estando entre 60 e 80 por cento do preço de petróleo. Por outro lado, o carvão de coque disponível em Moatize é matéria-prima cara e indispensável na indústria metalúrgica mundial. Moçambique pode ter novo “rosto” nos próximos dez anos, caso capitalize estes recursos em combinação com uma agricultura com novos “músculos”.
Maputo, Sexta-Feira, 10 de Agosto de 2012:: Notícias Na verdade, avultam no país negócios milionários do primeiro mundo. Um bilião de dólares americanos foi investido, segundo fonte do Ministério dos Recursos Minerais, em pesquisas de gás natural na Bacia do Rovuma, no ano passado, valor que o Governo espera venha a ser largamente superado durante o presente ano em furos de avaliação de reservas e descobertas. A mesma fonte refere que cada furo no Rovuma não sai por menos de 100 milhões de dólares americanos quando se sabe que um navio-sonda ali estacionado custa por dia um milhão de dólares no mínimo devido aos vários serviços especializados que deve suportar. Trata-se de investimentos por conta e risco de multinacionais que ali operam, uma vez que os contratos de pesquisa e produção de petróleo e gás natural são desenhados na perspectiva de quem tiver sucesso recuperar aquilo que gastou. Caso não, dá o dinheiro como perdido. País rico, mas... pobreMoçambique já é dado como o quarto país no mundo em termos de potencial de gás natural, ficando atrás de Qatar, Irão e Rússia. Galvanizados por estas referências, investidores não cessam a sua corrida, tendo o Rovuma como meta, precisamente na costa dos distritos de Mocímboa da Praia e Palma, em Cabo Delgado, onde a produção intensiva do recurso poderá ir além de meio século. Parte da província de Nampula, no distrito de Memba, entra igualmente nas contas.Os recursos recuperáveis no Rovuma são presentemente estimados em aproximadamente 60 triliões de pés cúbicos, havendo outros 80 triliões de pés cúbicos no que se classifica de reserva potencial, isto na área onde opera a multinacional norte-americana Anadarko. Na área da italiana ENI fala-se de 60 triliões de pés cúbicos de reservas potenciais. E Moçambique não tem somente gás natural. Nos últimos cinco anos, existiam 1 075 títulos mineiros no país, sendo 14 licenças de reconhecimento, 864 licenças de prospecção e pesquisa, 142 concessões mineiras e 57 certificados mineiros. Em consequência da crise financeira internacional, os pedidos baixaram significativamente nos anos 2008 e 2009. Porém, segundo fonte do Ministério dos Recursos Minerais, a partir de 2010 assistiu-se a uma nova tendência de interesse por licenças mineiras.Só em 2009 o investimento no sector totalizou 500 milhões de dólares americanos, com a maior contribuição das operações de desenvolvimento do projecto de carvão de Moatize, do projecto de carvão de Benga e das referentes à exploração de metais básicos e preciosos nas províncias de Cabo Delgado, Manica, Tete e Niassa.
Gás natural: o nosso “petróleo”. Maputo, Sexta-Feira, 10 de Agosto de 2012:: Notícias . A pesquisa de hidrocarbonetos em Moçambique começa na província de Inhambane, onde as actividades foram conduzidas desde 1948 até 1973 pelas companhias petrolíferas Mozambique Gulf Oil Company, Sunray Oil Corporation, Aquitaine e Hunt. A perfuração para a pesquisa de hidrocarbonetos começou efectivamente a partir de 1952 com a abertura do primeiro furo em terra, com a designação de Domo. O primeiro furo no mar foi executado em 1979.Foram as operações da Gulf Oil Mozambique que resultaram nas primeiras descobertas de gás natural, nomeadamente em Pande (1961), Buzi (1962) e Temane (1967), na província de Inhambane e de Sofala, respectivamente. A partir de 2004, o Instituto Nacional de Petróleo levou a cabo a avaliação do potencial petrolífero das bacias sedimentares com base em dados que foram sendo adquiridos no decurso das actividades de pesquisa, nomeadamente dados sísmicos e furos. Estimulou paralelamente campanhas de promoção em conferências internacionais e lançou três concursos públicos para a concessão de áreas de pesquisa e produção de hidrocarbonetos em 2005, 2007 e 2009 sobre a parte marítima e terrestre das bacias de Moçambique e Rovuma.Algumas áreas de concessão foram adjudicadas directamente, nomeadamente, a área de Pande/Temane, Inhaminga, Zambeze Onshore, Zambeze Offshore Area 2 e Buzi, cujos operadores são a Sasol Petroleum Internacional, DNO ASA Internacional, British America Natural Gas, Petronas Carigali Mocambique, Statoil e Buzi Hydrocarbons.Como resultado dos concursos públicos acima referidos, novas concessões foram adjudicadas às companhias petrolíferas nomeadamente, Área A para a Sasol (no Onshore da Bacia de Moçambique), Área 1,4, e 3 e 6 (da Bacia do Rovuma) cujos operadores são a Anadarko Moçambique, ENI East Africa e Petronas Carigali Rovuma Moçambique.Na Bacia do Rovuma, as actividades de pesquisa resultaram na descoberta de quantidades significativas de gás natural nas áreas 1, operada pela Anadarko Moçambique, e área 4, operada pela ENI East Africa, a partir de 2010.A Área 1 foi concessionada em resultado do segundo concurso para a concessão de áreas de pesquisa e produção levado a cabo em 2005. Foi inicialmente concessionada a Anadarko e a ENI que tinham participações de 85 e 15 por cento respectivamente. Em 2008 houve restruturação das participações com a entrada de novos parceiros, nomeadamente Mitsui, Bharat Petroleum e Cove Energy que passaram a deter 20,10 e 8,5 por cento respectivamente.Os furos de pesquisa começaram em 2009, tendo sido executados 13 furos, dos quais 8 de pesquisa e 5 de avaliação, o que resultou na descoberta de campos de gás em leques aluviais Oligaceno Fan1, Oligaceno Fan2, Mioceno, Eoceno e Paleoceno. O complexo de campos de gás compreendido por estas descobertas tem a interessante designação de prosperidade e golfinho.A Área 4 foi adjudicada em resultado do segundo concurso para concessão de áreas de pesquisa e produção em 2005. Teve como parceiros iniciais a ENI, com 90 por cento, e a Empresa Nacional de Hidrocarbonetos, com 10 por cento, tendo sido admitidos mais tarde a Galp e a Kogás , esta ultima sul-coreana. A ENI executou até ao momento um total de 4 furos de pesquisa que resultaram na descoberta de gás natural nos reservatórios de leques aluviais Oligaceno Fan1, Oligaceno Fan2, Eoceno e Paleoceno, os quais constituem um complexo designado mamba.
Arsénio Mabote
Arsénio Mabote
O que Moçambique vai ganhar? Maputo, Sexta-Feira, 10 de Agosto de 2012:: Notícias .Posto isto, segue a pergunta: O que Moçambique vai ganhar? Arsénio Mabote, PCA do Instituto Nacional de Petróleo, assegura que Moçambique tem um bom contrato de prospecção e pesquisa de petróleo, porque está desenhado de tal maneira que o Governo pode captar até 70 por cento do total da renda ao longo da vida útil do projecto.Trata-se, segundo apontou, de receitas provenientes do imposto de produção que o Estado pode tomar em espécie ou em dinheiro, para além do Imposto de Rendimento sobre Pessoas Colectivas, vulgo IRPC. Além disso poderá colher contrapartidas no bónus de produção. “O nosso contrato é hídrico. Tem uma componente de partilha de produção, através da qual a medida que a empresa envolvida no negocio vai recuperando os seus custos, ela vai diminuindo a partilha . E a do Estado vai aumentando a sua parte”, explica Arsénio Mabote.Salientou que o Governo não irá negligenciar projectos que adicionem valor em Moçambique e apostará forte na alimentação de empresas de fertilizantes, de empresas de geração de energia eléctrica a partir do gás natural, sem excluir projectos de produção de metanol. “Trata-se projectos que vão gerar empregos e recursos para melhorarmos nossas infra-estruturas como estradas e pontes. Se implementarmos os projectos que estão em vista, vamos ter receitas que contribuirão imenso à economia do país, através da dinamização da agricultura e indústria”, refere. Presentemente, Moçambique está na fase de avaliação de reservas tendo em vista capitalizar o gás natural liquefeito sobretudo nos países do Oriente, onde se destacam como mercados preferenciais, em termos de preço, o Japão, a Coreia do Sul, a Índia, a China, sem subestimar o mercado europeu.E a indústria transformadora terá aqui uma palavra a dizer, no concernente à geração de novos empregos, uma vez que Moçambique deve ter o cuidado de não exportar tudo em bruto, sobretudo no concernente a metais preciosos e ao carvão.
Firmino Mucavele
Firmino Mucavele

A agricultura não pode ser negligenciada


Maputo, Sexta-Feira, 10 de Agosto de 2012:: Notícias . Além das riquezas atrás mencionadas, Moçambique é “campeão” da África Austral em disponibilidade de água. O Vale do Zambeze é uma “mina de ouro” neste aspecto, com potencial de irrigação suficiente para dinamizar uma agricultura “musculada”.Contudo, segundo Firmino Mucavele, agroeconomista e docente na Universidade Eduardo Mondlane, a força de trabalho que Moçambique tem na agricultura não é treinada. “Cerca de 73 por cento é constituída por analfabetos. A maioria não tem acesso ao crédito e ao investimento”. Mucavele referiu ainda que a experiência e o know how tecnológico é muito limitado em Moçambique, onde pouco ou nenhum suplemento é usado para melhorar a produtividade da terra, o que urge reverter.Falando da descoberta crescente de recursos naturais, o nosso interlocutor chamou atenção para o facto de não serem renováveis, pois “mais cedo ou mais tarde irão acabar”. Destacou a necessidade de serem usados com interesse estratégico na área da agricultura, assegurando boa alimentação aos moçambicanos, tarefa fundamental para qualquer Governo. Nesta perspectiva, Mucavele inseriu os recursos naturais como mais uma fonte para financiar uma série de investimentos necessários para modernizar a agricultura. “Se não tivermos cuidado, podemos ter um problema muito grande que é abandonarmos a agricultura e olharmos só para os recursos minerais, onde o financiamento vem de fora”, disse, acrescentando que neste sentido todas as contrapartidas geradas pelo negócio irão para fora “e Moçambique viverá períodos prolongados de fome com todos os recursos que possui”.Além de gás natural, metais preciosos e carvão, Moçambique tem o Vale do Zambeze, alimentado em grande medida pelo rio com o mesmo nome. Com 225 mil quilómetros quadrados, é detentor da maior reserva de água e de hidroenergia da África Austral. Contudo, não passa hoje de “elefante branco”, uma vez que em pouco ou em quase nada contribui para irrigação dos 5,5 milhões de hectares de terra à sua volta, cujo potencial seria enorme para uma agricultura em regime de regadio.Especialistas em economia dizem mesmo que quem tem o Vale do Zambeze não tem motivos para ser pobre, todavia as evidências tiram sono a qualquer um. Moçambique continua dependente de chuvas para a sua agricultura. Pior ainda: sofre quando chove, de igual forma que sofre quando não chove. Ou seja: de um momento para o outro acumula muita água que, entretanto, se perde em tão pouco tempo. Milhares e milhares de hectares de terras destinadas à agricultura passam por longo período de estiagem e, por conseguinte, têm sido reportados frequentemente casos de fome em províncias que deviam ter fartura de alimentos. A pergunta é: como anular o paradoxo? Álvaro Carmo Vaz, bastonário da Ordem dos Engenheiros de Moçambique, disse recentemente que no âmbito da luta que travamos contra a fome , impõe-se a recuperação do projecto de irrigação dos anos 1960, que esteve na génese do próprio empreendimento de Cahora Bassa, que visava, dentre vários objectivos, necessidades energéticas e a irrigação ao longo do Vale do Zambeze . Este alimentaria, em dose única, a indústria e a agricultura, duas das mais importantes variáveis na equação de desenvolvimento, contribuindo, a par do gás natural, para electrificação do país e da África Austral.E Vaz explica-se: “as barragens desempenham um importante papel na regularização de escoamentos de agua para além de serem igualmente vitais na criação de quedas para aproveitamentos hidroeléctricos”.
Paulo Horta
Paulo Horta

A esperança trazida pelo carvão. Maputo, Sexta-Feira, 10 de Agosto de 2012:: Notícias

A produção de carvão em Moatize, na província de Tete, começou em finais do ano passado, tendo, só a Vale, explorado 600 mil toneladas, das quais 170 mil destinadas à primeira venda. As restantes servem para suportar um stock de excedentes tendo no horizonte o ano em curso. Trata-se, enfim, de um stock visto então como regulador, operacional e normal para negócios desta magnitude.A primeira produção desta multinacional teve como destino os Emirados Árabes Unidos e Índia, podendo este ano a produção rondar as quatro milhões e cem mil toneladas, índice que poderá evoluir para 22 milhões de toneladas até finais do próximo quinquénio. E operadores como a Rio Tinto e a Jindall Steel e Power, Lda, ainda não entraram na fase de plena produção.De referir que a bacia carbonífera de Moatize fornece dois tipos de produtos de carvão, nomeadamente o térmico, usado nas centrais termoeléctricas para produção de energia eléctrica, e o carvão de coque, cujo preço no mercado internacional tem vindo a disparar por ser matéria-prima de alto padrão na industria siderúrgica.Falando do potencial de Moatize, Paulo Horta, da Vale, revela surpresa total. “Hoje temos um projecto de 35 anos, mas porque o potencial é muito grande, e vai sendo conhecido a medida que progridem as pesquisas geológicas, nada me impede de pensar que ficaremos aqui mais 35 anos adicionais”.Bento Venâncio" Fonte Jornal NOTICIAS, CADERMO DE ECONOMIA.

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