segunda-feira, 1 de agosto de 2022

GORONGOSA, PARQUE NACIONAL DA GORONGOSA, PROVINCIA DE SOFALA, MOCAMBIQUE , A PROPOSITO DO DIA INTERNACIONAL DO FISCAL DE FLORESTAS E FAUNA BRAVIA, LEIA DUAS HISTORIAS DE VIDA PROFISSIONAL DE ROSA MURIGO E LUCAS TOGAREPE!

Fiscais do Parque Nacional da Gorongosa: Histórias da Rosa Murigo e Lucas Togarepe Chitengo (O Autarca) – Celebrou-se este domingo (31jul2022) o Dia Internacional do Fiscal de Florestas e Fauna Bravia, consagrado mundialmente ao reconhecimento do trabalho desta classe de profissionais, que desempenham um papel crucial na conservação da biodiversidade. No mais emblemático parque nacional moçambicano, Gorongosa, na província central de Sofala, os fiscais são simultaneamente bombeiros, protectores da vida selvagem, guardas florestais, guias, primeira linha de resposta a emergências, profissionais de saúde, colaboradores científicos e muito mais. O Parque Nacional da Gorongosa celebrou o 31 de julho homenageando os seus fiscais por tudo o que fazem hoje e todos os dias; destacando a partilha de histórias de dois fiscais, nomeadamente Rosa Murigo e Lucas Togarepe. No princípio tudo era difícil, principalmente por eu ser mulher – Rosa Murigo Sou fiscal do Parque Nacional da Gorongosa, há cerca de um ano que venho exercendo essa actividade. No princípio tudo era difícil, principalmente por eu ser mulher, tenho um filho e tive que deixar tudo para trás para poder trabalhar e sustentar a minha família. Como se sabe, o número de mulheres que trabalham nas áreas de conservação é muito reduzido, por um lado devese ao trabalho que exige força e coragem e por outro, está relacionado aos dias de trabalho, que muitas das vezes somos desafiados a ficar longe das pessoas com quem estamos acostumados a conviver. A nossa vida muda totalmente, formamos uma nova família, enfrentamos barreiras e por vezes corremos muitos riscos de vida quando estamos a fazer as nossas actividades de patrulha, eu em particular sofri preconceitos, muitos duvidavam das minhas capacidades mas com muita dedicação consegui superar os diferentes desafios. Em tempos de treinos nós aprendemos a trabalhar em equipa e não havia escolhas, todos por um trabalho igual, juntos fazemos patrulhas e por vezes a selecção para as actividades de campo incluem homens e mulheres, mas tudo acaba dando Rosa Murigo, Fiscal do PNG certo quando se trabalha com força e vontade. Passei por várias experiências e numa dessas escalas de trabalho, fui colocada no meio de homens, eu era apenas a única mulher, claro que nem todos os passos que eu dava, eles deveriam acompanhar-me. Num belo dia por volta 16 horas, decidi tomar um banho e como de sempre quando vamos acampar muitas das vezes buscamos águas em rios e lagoas. Estava tudo calmo, desci ao rio a fim de buscar água, aproximei-me do local que eu pensei ser seguro, mas infelizmente bem ao lado, estava um crocodilo com a sua presa e nem me apercebi. Sendo fiscal, nós temos a obrigação de seguir todos os protocolos, principalmente olhar se está em segurança, mas naquele dia ninguém se aperceberia aonde estava o crocodilo, quando de repente ouvi um forte barulho, bem ao lado onde coloquei a mão para buscar água, fiquei assustada, corri gritando a pedir socorro, com medo os meus colegas se aproximaram perguntando o que se passava, eu mostrei-lhes o que poderia ter acontecido, era o crocodilo puxando a sua presa para água, todos vimos e ficamos de boca aberta, depois de assistir todo o desfile do crocodilo, os meus colegas levaram-me para onde estavam as nossas tendas, sentei com a mão na cabeça e uma gota de lágrima desceu sobre o meu rosto. Se o crocodilo não tivesse a presa talvez eu seria uma das suas presas, o que seria de mim ou da minha família. Girava em minha mente pensamentos de querer desistir e seguir com uma outra vida. Apesar disso um outro pensamento dizia: “Eu jurei apoiar a conservar a biodiversidade, eu vejo e sinto que estamos a viver momentos em que o mundo Lucas Togarepe, Fiscal do PNG precisa de nós, precisamos de ser fortes para ultrapassar qualquer barreira. Ultrapassei o medo, continuei a trabalhar e aprendendo cada vez mais e hoje eu entendo os benefícios da conservação e que nós fiscais podemos fazer a diferença, não só para a área de conservação em que estou inserida, mas sim, para o mundo e para as gerações futuras. Todo o fiscal está sujeito a riscos e desafios por ultrapassa – Lucas Togarepe A nossa vida é igual como a de outras pessoas, a única diferença é que passamos tempo fazendo as actividades de patrulha, garantindo a conservação da biodiversidade e sobre tudo a redução da caça furtiva. Sou fiscal e trabalho no Departamento de Conservação do Parque Nacional da Gorongosa, estou a trabalhar como fiscal há 16 anos e neste longo percurso, carrego comigo uma vasta experiência e hoje quero compartilhar-vos a minha história. Todo o fiscal está sujeito a riscos e desafios por ultrapassar, lembro-me que quando comecei a trabalhar, enfrentei vários desafios, falo das condições de trabalho de campo eram difíceis pois, usávamos redes mosquiteiras para servir de tendas no nosso acampamento, apenas tínhamos uma lanterna para cobrir as actividades de patrulha em cada grupo que fosse escalado, havia um número reduzido de fiscais se comparado com os dias actuais, mas o tempo foi passando e tudo foi melhorando, hoje com ajuda das tecnologias conseguimos fazer um bom trabalho de campo. Nesses de 16 anos de trabalho, algo marcou-me bastante e que talvez pudesse custar a minha vida. Lembro-me que num dia fazendo patrulha na companhia dos meus colegas, vimos numa trilha, pegadas de pessoas e decidimos seguir para ver quem teria passado por ali, era apenas para dar uma olhada e mais nada. Para o nosso azar, nós seguimos um caminho errado, sem imaginar que estavam alguns leões escondidos, uma fêmea com suas crias e o macho observando a nós e à sua família. Os meus colegas viram primeiro e correram para o outro lado da trilha e eu espantado nem sabia o que se passava, apenas comecei a chamar e a procurar por eles, dei dois passos para frente e para trás e quando já decido dar um passo para o lado deparei-me com o leão, ficamos frente em frente e começou a rugir, os olhos dele abriram-se, continuou a rugir e eu com medo fiquei congelado. Os minutos não paravam e nem me apercebi como escapei daquele lugar, tive ferimentos ligeiros, pois usei as minhas habilidades de treino para escapar, plaquei uma certa distância e despistei o leão. Depois do todo aquele sofrimento, avistei-me com os meus colegas, uns em cima da árvore e outros escondidos na mata, eles conseguiam ouvir aquele barulho mas tinham medo de aproximar, naquele momento eu não sentia nenhuma dor e quando eles olharam para mim apenas socorreram-me e foi ali que percebi que estava ferido, todo o meu uniforme estava sujo de sangue, continuámos escondidos até que decidimos procurar outro caminho. Regressamos todos ao acampamento central, contei como tudo aconteceu e no dia seguinte, todos nós e com uma equipa de perícia fomos para aquele ponto do incidente para perceber a situação e ninguém conseguiu esclarecer o como escapei, a minha mente estava completamente perdida, pedi folgas para puder reflectir sobre a vida e o risco de ser um fiscal. Depois de muitos dias de repouso, percebi que a força e a coragem são as duas coisas que me fazem compan-hia. Se um leão não me conseguiu parar eu ainda posso fazer alguma coisa para as futuras gerações. A conservação não beneficia apenas as pessoas e os animais que vivem na Gorongosa, a conservação é para todos nós, pois se não conservarmos a biodiversidade, iremos enfrentar momentos críticos no nosso planeta terra.■ (Redacção/ PNG) FONTE JORNAL O AUTARCA, DE MOCAMBIQUE.

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