sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

CAJÚ EM MOÇAMBIQUE CRESCIMENTO DA PRODUÇÃO CAMINHA PARA AS 200 MIL TONELADAS

"ENTREVISTA - Produção da castanha caminha para as 200 mil toneladas/ano

Depois de uma autêntica derrocada nos anos 90 caracterizada por um declínio da produção para níveis inferiores a 50 mil toneladas anuais e consequente encerramento das fábricas, o sector do caju em Moçambique parece ter condições para voltar a sonhar. Maputo, Sexta-Feira, 2 de Dezembro de 2011:: Notícias Até ao 2020, o Instituto Nacional do Caju propõe-se a colocar o país numa posição privilegiada no rol de países produtores e exportadores da castanha de caju e para isso, a essa altura, a produção média anual deverá passar das actuais 105 mil toneladas para cerca de 180 mil a 200 mil toneladas de castanha.No seu Plano Director para o período 2011 e 2020, cujo lançamento está marcado para breve, o Incaju também tenciona que a capacidade a actual capacidade de processamento da castanha passe dos cerca de 38 mil toneladas por ano para um total de 100 mil toneladas. Trata-se de um plano bastante ambicioso que vai precisar de avultados investimentos quer a nível da produção como também da indústria. Numa entrevista com o nosso jornal, questionamos a Filomena Maiópue, directora do Incaju sobre como é que um país desprovido de meios, sobretudo financeiros ousa em traçar metas bastante ambiciosas em face do respondeu existirem já algumas bases para a concretização da ideia. Siga a entrevista.NOTÍCIAS (N) – Pode fazer uma pequena radiografia do que está a ser esta campanha de comercialização da castanha de caju?FILOMENA MAIOPUE (FM) – Acaba de iniciar em Novembro a campanha de comercialização nas províncias de Nampula e Cabo Delgado. Como todos sabemos, a castanha é comercializada depois de uma cerimónia de abertura oficial em cada província, porque dependendo das condições agro-ecológicas existe um período determinado para o início da colheita. Neste caso lançámos a campanha para Nampula e Cabo Delgado, em Outubro. A seguir vai entrar a província da Zambézia. Desce-se depois para o Centro, nomeadamente, em Manica e Sofala. Acredito que até ao final do mês todas estarão a comercializar e ficarão as do Sul.NOT – E qual é a situação em cada uma dessas províncias?FM – Em Cabo Delgado tudo indica que, a campanha está boa e pode vir a ser melhor que a época passada. No entanto, o preço ao produtor está baixo, andando a volta de 19 meticais o quilo e os camponeses ainda estão a reter a castanha à espera que o preço suba. No ano passado o preço chegou a atingir 30 meticais o quilo. Penso que até ao final do período vai se atingir a meta pretendida. NOT – E em Nampula?FM - Para Nampula penso que algum problema pode acontecer. Comparativamente com a campanha finda estamos a falar, nesta altura, de quatro mil toneladas contra seis do mesmo período, a um preço de 12 meticais contra 16 meticais no ano passado. Então, aqui podemos falar também de uma retenção da castanha com a expectativa de que os preços possam melhorar. No entanto, independentemente do preço, para Nampula, tivemos mau tempo, em três distritos. Para a Zambézia também tivemos problemas nos distritos de Gilé, Pebane, Maganja da Costa e Ile. Caiu lá granizo que destruiu folhas, flores e tudo indica que também teremos entre 75 a 80 porcento da produção anterior. NOT – E a situação de Sofala e Manica? FM - Sofala também teve recentemente problemas de chuvas em Muxungué. Em Manica as condições são as mesmas do ano passado daí que não está afectada. No sul tivemos baixas temperaturas em Inhambane. Em Julho, quando deveríamos ter a floração, as folhas secaram e só tiveram frutos depois. Mas como disse estas são previsões e os cajueiros são plantas cujo ciclo produtivo muda dum momento para outro. Duma forma global a nossa expectativa é menor em relação ao ano passado que tivemos entre 112 a 113 mil toneladas em todo o país. NOT – Mas qual é a vossa expectativa em termos de produção global? FM - A nossa principal expectativa era manter aquele nível, que tivemos no ano passado porque em cada ano plantamos novas árvores e outras que começam a produzir, para além das pulverizações que fazemos. Semente policlonada acelera novos plantios .Maputo, Sexta-Feira, 2 de Dezembro de 2011:: Notícias NOT - Para além da pulverização, novos plantios, o que é que mais fazem para garantir o aumento da produção?FM - Há cerca de dois anos, em coordenação com os serviços de investigação, estamos a introduzir aquilo que tecnicamente chamamos semente policlonal. Significa produzir semente de qualidade. Hoje em dia para conseguir manter a qualidade duma planta usamos o material vegetativo, através da enxertia. Com a policlonagem podemos obter todos os anos semente com a mesma qualidade.NOT – Que ganhos isso vai trazer?FM - Há ganhos no sentido de que para um camponês pode ser mais fácil transportar 100 sementes de castanha do que carregar 100 mudas. Como disse, esta planta começa a produzir no mesmo período com a planta enxertada, dai que torna-se menos oneroso carregar sementes do que mudas. Portanto, há aqui grandes facilidades para o camponês. Estas têm sido a nossa grande aposta neste momento e devo reconhecer o grande apoio que o próprio Ministro da Agricultura tem estado a dar neste campo para que todos os distritos potenciais tenham jardins clonados. NOT – E as outras províncias?FM - Estamos a pensar estender o programa para todas as províncias e acreditamos que até ao final do ano vamos ter um número maior de campos policlonares para produzir semente que deverá ser distribuída dentro de alguns anos. Para além das acções que indiquei, iniciamos em 2002, a revitalização do sector da indústria e foram abertas muitas fábricas, algumas, ao longo do caminho foram fechando, mas temos as que ficaram e que estão a ganhar uma certa dinâmica. A partir desta campanha tivemos um fundo da USAID para esta componente da industrialização, sobretudo, para a compra da matéria-prima. Então o governo mais uma vez conseguiu fundos e algumas são elegíveis. Para isso trabalhamos com o Ministério da Indústria e Comércio e algumas das empresas já estão a beneficiar do financiamento para a compra da castanha.NOT – Quantas empresas?FM - Nesta altura as elegíveis são cerca de quatro ou cinco, todas do norte e no sul do país. As outras que também podem ser elegíveis, mas tem um dossier que ainda temos que clarificar. Portanto, foi criada uma lista A que é imediadamente elegível e B que precisa de alguma clarificação.NOT – Mas quanto é que está disponível?. FM - Esta primeira tranche é irrisória, mas poso dizer que o global são cerca de nove milhões de dólares, mas nesta primeira fase estão disponíveis pouco acima de quatro milhões de dólares.NOT – Quantas empresas processam a castanha em Moçambique . FM - Nampula funcionam uma da Condor, Mogovolas, Meconta, Monapo, Ilha de Moçambique, e Namialo. Em Cabo Delgado temos duas, na Zambézia só temos uma em Molocue. Em Gaza temos duas, em Inhambane uma, em Maputo temos a UGC, mas há muitas pequenas fabriquetas de processamento da amêndoa.Sector começa atrair muitos investidores. Maputo, Sexta-Feira, 2 de Dezembro de 2011:: Notícias .NOT – Qual é a capacidade actual de processamento do país? FM - A capacidade total instalada anda a volta de 38 a 40 mil toneladas, no entanto, nem todas as fábricas estão a funcionar na sua máxima força daí que nem sempre conseguimos atingir esses níveis. O que devo dizer é que a castanha é um negócio para fazer dinheiro, muito embora exija muito trabalho, concentração e acima de tudo boa gestão. Nós nos últimos anos recebemos quase sempre emails da Europa, do grupo dos países emergentes da Ásia, do Japão, a pedirem encomendas mas a resposta que demos é que o país não tem capacidade para responder porque os poucos que processam a amêndoa já têm compromisso com os seus parceiros. O que aconselhamos é que Moçambique tem muito potencial para o processamento e recentemente esteve cá uma companhia japonesa para explorar as oportunidades que existem e se um dia tivermos capacidade de processar internamente toda a castanha, vamos fechar as exportações em bruto, esta é a ideia chave. Porque a filosofia adoptada é essa há um investidor chinês também interessado em Nampula e nós encorajamos a eles a investir cá.NOT- Sabemos que recentemente estiveram em contactos com os vietnamitas, o que existe actualmente?FM - Com o Vietname temos tudo assinado e só estamos a espera do governo vietnamita decidir quanto é que eles entram cá para a produção e processamento na província de Nampula. Depois de vários contactos e viagens foi localizada uma parcela e só falta o aval do governo local para eles iniciarem o trabalho. Com eles visitamos também a Zambézia e Gaza. Numa primeira fase eles escolheram o distrito de Mogovolas, identificamos a área e as estruturas locais já conhecem que futuramente haverá um programa de desenvolvimento integrado do caju. NOT – Qual é a área total da zona localizada? FM - A área total é de 10 mil hectares. Será uma produção paulatina porque o sistema que pretendem não é de uma plantação comercial apenas, mas querem trabalhar também com a comunidade. É preciso ter em conta que o Vietname pode vir a ser o maior produtor mundial da castanha de caju. Eles para além do seu próprio país estão a produzir caju no Camboja e Laos. Têm muita capacidade técnica e experiência organizativa no processo produtivo da castanha.Mocita pode ser reactivada . Maputo, Sexta-Feira, 2 de Dezembro de 2011:: Notícias . NOT – Olhando para os níveis que temos hoje, para onde é que vamos nos próximos tempos? FM - Já aprovamos o Plano Director do Caju e antes disso tivemos uma consultoria que andou em quase todo o país e trouxe-nos o próprio plano que já foi discutido e aprovado. Este plano que é o segundo porque substitui o primeiro que vinha vigorando. Queremos consolidar as actividades já iniciadas, mas com maior enfoque no processamento local da castanha de caju. Significa que nos próximos anos até 2020 estamos a almejar atingir entre 180 a 200 mil toneladas de castanha por ano e destas a expectativa é que o país esteja em condições para processar 100 mil toneladas localmente. Naturalmente que este é um grande desafio em termos de novos plantios, indústria a ser instalada internamente, investimentos, parcerias, por isso, vamos fazer uma divulgação a partir da primeira semana de Dezembro, onde vamos convidar outros parceiros para discutir as oportunidades que se abrem no sector do caju. NOT – Processar 100 mil toneladas é um grande desafio, acha que isso será possível com este tipo de indústria que temos hoje? FM - Fábricas grandes não diria, as médias industrias sim, porque queremos apostar em unidades que possam processar até 14 mil toneladas. Acredito que, por exemplo, a Mocita em Gaza, possa voltar a operar. Já iniciamos alguma negociação com os proprietários e há indicações de que eles possam encontrar um parceiro. Se não estou em erro, Mocita pode processar entre sete a catorze toneladas. Também estamos num processo de entrada de investidores do Vietname e a capacidade que pretendem instalar é de dez mil toneladas. Então, ao longo de dez anos havendo pequenas e médias empresas podemos conseguir atingir os objectivos pretendidos. NOT - Para além da Mocita quais as outras que podem ser apostas? . FM - Temos a Olam em Monapo que processa entre quatro a seis mil toneladas, então penso que esta vai ser a aposta e não as grandes fábricas como a que existia em Angoche. Não vamos apostar nas grandes, primeiro porque tecnicamente está provado que a tecnologia que nos traz boa amêndoa é aquela que está a ser adoptada actualmente. Sobre a grande indústria existe actualmente uma experiência do Brasil, onde uma fábrica chega a processar 50 mil toneladas e nós não podemos pensar neste tipo de fábricas. Tivemos recentemente uma visita da Iracema que é uma grande indústria brasileira na área da castanha, depois de visitar o país manifestou vontade de investir, só que não havia capacidade de produção para os seus consumos. Agora o que posso dizer é que se daqui há dez anos atingirmos os níveis quer nos propomos, eles já podem investir. Neste momento temos gente interessada não nesses moldes, mas em pequenos projectos de processamento de óleo e penso que até 2012 eles vão começar a produzir o óleo que é muito usado na indústria da aviação, automóvel. Estamos a trabalhar com um técnico chinês que tem uma patente na China para a produção de óleo de travões a partir da casca da amêndoa.NOT – Tem a média de quantas plantas morrem anualmente? FM - Essa é uma questão difícil, mas tecnicamente, partimos do princípio de que aquilo que plantamos anualmente, pelo menos 50 porcento deve vincar. Na verdade, a média das que sobrevivem pode chegar até 70 porcento, mas nós por questões técnicas, preferimos trabalhar numa base de 50 porcento. É por isso que no âmbito deste Plano Director, queremos fortalecer a monitoria, desde a produção no viveiro até ao destino final da planta produtiva. Para isso, teremos de digitalizar os dados e os extensionistas deverão ter a capacidade de dizer que em cada distrito meteu tantas plantas e nós a partir de dados computorizados confirmamos as informações e deslocarmos para o terreno para ver a realidade. Titos Munguambe" Fonte Jornal NOTICIAS.

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