sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

CORRENTES D´ESCRITAS 14ª CONFERENCIA REALIZA-SE EM PÓVOA DE VARZIM PORTUGAL

"2013-02-21 21:16:05

« ESCREVER É “IMPERATIVO BIOLÓGICO” PARA JOÃO LOBO ANTUNES» 14º Correntes d`Escritas

João Lobo Antunes é o convidado deste ano para proferir a Conferência de Abertura do 14º Correntes d’Escritas: “Não fazem mal as musas…”, que ocorreu hoje, o dia 21, às 15h00, no Auditório Municipal da C.Póvoa de Varzim.

« ESCREVER É “IMPERATIVO BIOLÓGICO” PARA JOÃO LOBO ANTUNES»        14º Correntes d`Escritas

O neurocirurgião João Lobo Antunes deixou a plateia do Auditório Municipal da Póvoa de Varzim comovida na conferência de abertura do 14º Correntes d’Escritas, intitulada “Não fazem mal as musas”.

Em tom confessional, ao ler em voz alta grande parte do seu ensaio “A História do Velho”, Lobo Antunes aludiu à degradação física de um ser humano, com a consequente perda de diversas faculdades até à morte. O curioso é que o velho do ensaio era o seu pai, mas toda a gente reconheceu no texto algum velho conhecido, algum pai, algum avô. Ora, confirmou João Lobo Antunes: “isto é que é um ensaio: uma história simples de contar, um acumular de experiências, uma pesquisa aberta…”

Apresentado na Conferência de abertura do encontro de escritores por José Carlos Vasconcelos como humanista, ensaísta e escritor, o médico esclareceu os presentes acerca do seu entendimento do género literário a que se dedicou – o ensaio -, por considerar que não tem jeito para escrever ficção: “Refugiei-me nos ensaios e nunca escrevi ficção, porque não consigo ultrapassar a barreira. Não sei se isso é bom, se é mau”.

João Lobo Antunes defende a escola ensaísta de Montaigne, em Portugal também seguida por António Sérgio, admitindo que se sentiu “muito confortável com este género”. Aliás, a exemplo de muitos outros clínicos em Portugal, país onde “muitos médicos deram bons escritores”. Lobo Antunes recordou que Miguel Torga interrogava-se sobre esta ligação num dos Diários e dava a resposta: “a caneta que escreve e a que prescreve revezam-se harmoniosamente na mão”. Por isso mesmo, João Lobo Antunes retitulou a Conferência do encontro: “deveria chamar-se Não fazem mal as musas aos doutores”.

Sobre o seu processo de escrita, João Lobo Antunes lembrou que as influências começaram cedo com o pai a ler para ele e para os irmãos ‘Os Maias’ em voz alta. Eram crianças e ouviam a leitura, “uma coisa mágica”. E, assim, “fui acumulando experiências, percebi que se começasse a escrever tinha muita coisa na cabeça, era uma espécie de mina”, afirmou João Lobo Antunes, que adiantou, por outro lado, que “existe um tempo certo para escrever”, isto é, “as ideias ficam na cabeça a fervilhar e depois, quando amadurecem, está na altura de as fruir para a escrita”.

No final da Conferência, ao trocar impressões com o público, João Lobo Antunes desvendou mais uma página sobre a sua personalidade: “cada vez valorizo mais os afetos, as emoções”. Ao analisar 40 anos de carreira como neurocirurgião, João Lobo Antunes considerou que o tempo se encarregou de duas coisas na sua vida: “muito mais sofrimento em relação ao destino das pessoas e mais fé na natureza, que vejo como aliada e não como inimiga”.

As experiências baseadas no relacionamento com os seus doentes, durante décadas, levam o neurocirurgião a preferir substituir o termo ética por compaixão deontológica, que não é nada mais nada menos que, afirmou, “um bicho terreno que se preocupa e ajuda outro bicho terreno”.

A medicina continua a ser para João Lobo Antunes a principal faceta da vida e o que melhor o define, apesar de a escrita ser um “imperativo biológico”, porque “não sei não trabalhar”, explicou. O certo é que “a minha raiz está na sala de operações, o resto é espuma, não me preocupo nada com a posteridade”, concluiu João Lobo Antunes.



por : Lélia Pereira Nunes e Irene Maria Blayer
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2013-02-21 20:32:25

14º Correntes d`Escritas Começa Hoje!-- C.M. Póvoa DE VARZIM

O CORRENTES D'ESCRITAS ESTÁ A EVOLUIR E A PERSISTIR".
ACOMPANHE.


Já arrancou, esta manhã, a viagem pelo mundo das letras. O anúncio dos vencedores dos Prémios Literários 2013 e o Lançamento da Revista Correntes d’Escritas foram os pontos altos da Sessão de Abertura do 14º Correntes d’Escritas, no Casino da Póvoa.

A Terceira Miséria, de Hélia Correia, foi o livro escolhido pelo Júri como vencedor do Prémio Literário Casino da Póvoa, no valor de 20 mil euros.

Hélia Correia revelou que este era “ um livro que lhe era especialmente caro. Todos os olhos que lhe prestem atenção, estão também a prestar atenção à Grécia”, sendo que é “uma homenagem ao país”.

A vencedora do Prémio Literário Casino da Póvoa explicou que n’ A Terceira Miséria “destaca-se a voz de um país que está a sofrer uma opressão impensável. Nunca gostei de me pensar como uma missionária ou transmissora de mensagens mas, no caso deste livro, há uma grande mensagem que quis passar. Não vejo a Grécia como uma vítima indefesa mas a precisar de um grito de «alevantar» para transformar estas coisas noutras como os gregos sabiam fazer”.

Hélia Correia agradeceu “aos muito amados pares do júri” e ainda “uma coisa que nunca pensei fazer na vida: agradecer a um Casino”.

Conforme pode ser lido na Declaração de Voto do Júri, constituído por Almeida Faria, Carlos Vaz Marques, Helena Vasconcelos, José Mário Silva e Patrícia Reis, este considerou que o livro de Hélia Correia “mais do que um conjunto de poemas, é um longo poema construído a partir da matriz clássica europeia para refletir sobre questões fundamentais do Ocidente. Exemplo disso, são os seguintes versos: «A terceira miséria é esta, a de hoje. / A de quem já não ouve nem pergunta. / A de quem não recorda»”.

Na Sessão de Abertura do Encontro foram também anunciados os vencedores dos restantes Prémios Literários, nomeadamente, Prémio Literário Correntes d’Escritas Papelaria Locus, Prémio Conto Infantil Ilustrado Correntes d’Escritas Porto Editora e Prémio Fundação Dr. Luís Rainha Correntes d’Escritas. Veja, aqui, quem foram os distinguidos com os diferentes galardões e consulte as atas dos Concursos Literários.

Os alunos da Escola EB1 Sininhos, Póvoa de Varzim, autores do trabalho Lágrimas Musicais, distinguido com uma menção honrosa, pelo texto, estiveram presentes na Sessão, manifestando a sua alegria pelo reconhecimento.

Para além da revelação dos vencedores dos Prémios Literários, a Sessão contou com a apresentação da Revista Correntes d’Escritas (número 12) cujo dossiê é dedicado a Urbano Tavares Rodrigues.

Na impossibilidade de estar presente por motivos de saúde e já longa idade, o homenageado fez-se representar pela sua neta, Sofia Fraga, porta-voz do seu “grande e comovido obrigado”.

O dossiê dedicado a Urbano Tavares Rodrigues integra textos de: Carlos Quiroga, Ignacio del Valle, João de Melo, José Carlos Vasconcelos, Manuel Alberto Valente, Manuel da Silva Ramos, Maria Teresa Horta, Paulo Sucena e Possidónio Cachapa. Para além disso, a revista conta com poemas de: Filipa Leal, Jesús del Campo, João Luís Barreto Guimarães, Luís Quintais e Uberto Stabile. E contos de: Afonso Cruz, Bruno Vieira Amaral, Carmo Neto, Cristina Carvalho, Helena Vasconcelos, Joel Neto, Manuel Jorge Marmelo, Paulo Ferreira, Sandro William Junqueira, Vinicius Jatobá. Recorde-se que a edição deste ano da Revista é patrocinada, na íntegra, pela Norprint, que celebra o seu 20º aniversário.
Em representação dos escritores, Helder Macedo partilhou a extrema importância do acontecimento Correntes d’Escritas, referindo-se à sua realização como uma “persistência corajosa”. Para o autor de Tão Longo Amor Tão Curta a Vida, o evento apresenta-se “contra a corrente de crise” que atravessa toda a Europa, e não só. “O Correntes d’Escritas está a evoluir e a persistir”, constatou.


Referindo-se ao valor da Cultura em Portugal, Helder Macedo afirmou que “somos um país perdulário. É nos países pobres que as fortunas são desbaratadas. Isso é o que está a acontecer à Cultura, vítima de desinvestimento neste nosso triste país”, lamentando que “depois de algumas décadas de investimento, nomeadamente na formação a nível mundial, essa gente esteja a ser exportada como no tempo de Salazar”. O escritor admitiu que, apesar do desinvestimento cultural do nosso país, a língua portuguesa é uma língua internacional e não apenas europeia e esse reconhecimento a nível mundial é vital.

“Apesar de tudo, o Correntes d’Escritas floresce e continua a crescer. Sem vós, nós não somos”, concluiu.

José Macedo Vieira, Presidente da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim, assumiu que “nesta cidade que adotara a Cultura e o Lazer (“Cidade da Cultura e do Lazer”) como instrumentos para o seu desenvolvimento, o “Correntes” surgiu como um facto relevante, associando a cidade a um dos mais correntes, comuns e apreciados produtos culturais e expressões de cultura – o livro.
Cidade do Livro – sim, a Póvoa de Varzim é isso, que é como quem diz: cidade de leitores, cidade de autores, cidade de editores, cidade de livreiros, cidade de jornalistas e críticos literários, enfim, cidade de todos aqueles que, a qualquer título, relacionados com o livro, contribuíram para a criação desta marca identificadora da Póvoa de Varzim. E uma cidade que lê é uma cidade mais culta e mais livre”.
À semelhança de Helder Macedo, o edil deixou ainda uma palavra sobre o contributo da cultura para a recuperação da economia, salientando que “nela centrámos o projeto político de afirmação da cidade”. Na sua opinião, “a crise que vivemos reclama que tudo se repense e a cultura seja colocada no coração da Europa, porque só ela pode unir em torno de um projeto comum as diversidades que se enfrentam”.
O autarca assinalou que “a nível nacional, a despromoção de Ministério a Secretaria de Estado é, nos planos simbólico e material, a confirmação de que a crise empurrou a cultura para segundo plano. Ora, do que disse decorre o erro desta estratégia, que necessita ser rapidamente corrigida: sê-lo-á talvez a partir do próximo ano, com o reforço do orçamento comunitário para o setor, mas devia ser uma prioridade nossa, assumida como instrumento de combate à crise”.
José Macedo Vieira terminou recorrendo a Ortega Y Gasset que, no ensaio “Mirabeau ou o Político”, distingue entre o pequeno e o grande político, não se atrevendo a “desintelectualizar” o grande político, afirmando mesmo que “é ilusório crer que o político pode sê-lo sem ser, ao mesmo tempo, e em medida não escassa, intelectual”. A grande cultura é, pois, necessária ao grande político, é ela que o define, como a sua falta caracteriza a pequenez política. Na linha de Ortega, disse Enoch Powell, grande parlamentar e homem de cultura: a regra prática para qualquer político sério é “ler, ler e ler”. “Não sei se isso bastou para estar à altura dos desafios que me propus, mas que “li, li e li”, lá isso li e continuo a ler. Foi também por isso que nasceram, há 14 anos, estas Correntes, que vão continuar, cada vez mais fortes, estou certo disso”.





por : Lélia Pereira Nunes e Irene Maria Blayer
Tags : Portugal,Brasil,Canadá" FONTE RTP AÇORES.

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