“A do Zambeze: — O Zambeze é um dos grandes rios africanos. Do seu curso, com 2.364 quilómetros de extensão, só 850 correm no território moçambicano. Alarga-se a sua bacia hidrográfica por cerca de 1.400.000 quilómetros quadrados. Nasce nos Montes Caomba, a 1.600 metros de altitude, perto da fronteira portuguesa de Angola, correndo os primeiros 260 quilómetros com a direcção NE-SW. Desenha em seguida uma larga curvatura para sul, depois para sudeste e leste, despenhando-se de várias quedas e cataratas (Gonha, Nambua, etc.), até ao formidável salto de 120 metros de altura, com um pano de água de 1.600 metros de largura, ou sejam as célebres Cataratas Vitória, a que os indígenas chamam Mosia-oa-Tunia. Estão decorridos 960 quilómetros de percurso, e, até às majestosas cataratas, o rio é designado por Liambai.Passa agora a chamar-se Liambeje, e mais adiante Riambeje, virando o rumo para NE neste novo percurso de 554 quilómetros até ao Zumbo, fronteira moçambicana, quase sempre encaixado entre montanhas alterosas, estreitando-se em repetidás gargantas (Dévil’s Gorge, Kariba Gorge, etc.) ou acelerando a marcha nos rápidos frequentes (de Molele, de Kansala, e outros). Se não era de admirar que a princípio, até à confluência com o Luena, tivesse um declive de 1,6 m. por quilómetro, e depois este declive passasse apenas a 0,20 m. por quilómetro até às Cataratas Vitória, é de notar agora que deste ponto até ao Zumbo o declive subiu para 1 m. por quilómetro. Enfim, atravessada a fronteira, passa a chamar-se Zambeze, e o rio alarga-se, corre sensivelmente W-E até à confluência com o Capoche, passando por Carinde, Máguè, Chicoa, para flectir para SE. Porém, ao longo de 112 quilómetros, desde o rápido Inhataco até Penha dos Arrojados, e antes da flexão, forma as conhecidas cascatas e rápidos de Cahora-Bassa, nome que outros indicam Queruabassa, Carcabassa, Caourabassa, etc. Decerto o Zambeze correu primitivamente, nesta secção, sobre um manto de Karroo, que eliminou. Encontrando o substrato granito-gneissico, de desigual dureza, impôs-se-lhe, mas o trabalho de erosão, mais fácil nuns pontos que noutros, desenhou as cascatas, as cachoeiras, os rápidos e as gargantas, chegando estas a ter apenas uma largura de poucas dezenas de metros. Depois o Zambeze volta a espraiar-se, recebe poderosos afluentes, passa por Inhartreze, não longe da Missão de Boroma, e alcança Tete, e logo forma duas ilhotas permanentes. Na margem esquerda banha Benga, que, pelo rio, embarca parte do carvão do Moatize, passa à célebré Massangano, a Sungo, desenha a ilha que chamam de Moçambique, e estreita-se nas Gargantas da Lupata, onde a largura não vai além de 200 metros, menos de um quarto da que antes alcançara. De novo espraiado, forma numerosas ilhotas, muitas delas povoadas, desde Tombara, por Ancuaze, Chemba, Mutarara, até à confluência com o rio Chire. Embora cada ilhota tenha designação própria, dão ao seu conjunto o nome de «Ilhas do Governo» (61). Depois de Vila Fontes, passada a Serra Chamoara, e ainda a 130 quilómetros da embocadura, começa a desenhar um enorme delta, com numerosos canais, nem sempre permanentes. Mas, se uns se assoreiam, outros são rasgados. Por isso, ao longo da ocupação portuguesa, vários têm sido os braços do deita utilizados para a entrada no Zambeze. O braço do Chinde, tão atacado ultimamente pela erosão fluvial, é hoje o utilizado. De sul para norte os braços principais do deita zambeziano são: Luabo de Oeste, ou rio Luana, Melambe, Inhamissengo ou Congone, Luabo de Leste ou Tímbuê (Tíinoè), Barra Catarina, Barra do Chinde, e muito ao norte, o rio dos Bons Sinais, ou Cuácua (Quácua), ou de Quelimane. Entre estes dois últimds braços do delta muitos ribeiros recortam o triângulo de terras, como o Linde, Maindo, Inhamona, mas, quando das cheias, a confusão de todos os canais é indescritível. Ao longo do seu extenso percurso o Zambeze recebe numerosos tributários, como o Lungue-Bungo, Cuando, Kabompo, Guay, Kafuê, etc. Porém, interessam-nos por agora, mais especificadamente, os seus afluentes em território moçambicano. Pela margem esquerda, logo à entrada da fronteira, recebe o Aruângua Grande, volumoso tributário com 800 quilómetros de comprimento; o Muze, o Luía, o Mavúzi, o Revúbuè, e principalmente o Chire, que drena as águas do lago Niassa, atravessa o lago Pamalombe e se despenha pelas Cataratas de Murchison, embocando no Zambeze, junto do Chindio. Pela margem direita recebe o Panhame, o Messenguézi, o Daqué, o Mazói-Luenha, o Pômpuê, o Zânguê, e outros.As embarcações médias sobem o Zambeze, com certa dificuldade na época seca, até 420 quilómetros da embocadura.”, Transcrição das páginas 57 a 60, MOÇAMBIQUE, 1951, pelo Doutor Oliveira Bóleo.
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