sábado, 15 de setembro de 2018

ZAMBEZE, IN DIÁRIO DE ÁFRICA, SERPA PINTO, 1877/79, CURIOSA A DENOMINAÇÃO QUE DEU A CAHORABASSA, "CABRABASSA"

"O Zambeze divide-se naturalmente em três grandes troços perfeitamente
distintos:
O alto curso, o curso medio, e o curso inferior.
O Alto Zambeze compreende o rio desde as suas nascentes, ainda ignotas,
até à sua grande Catarata Mozi-oa-tunia.
O curso medio estende-se desde Mozi-oa-tunia aos rápidos de Cabrabassa;
e o Baixo Zambeze daí ao Mar Indico.
Vejamos agora quais são as condições de navigabilidade de cada uma destas
partes do rio, e qual a sua importância relativa, e a dos seus afluentes.
Já neste mesmo capítulo descrevi as condições do Alto Zambeze e por isso
começarei por tratar do seu curso medio.
Conta ele de Mozi-oa-tunia a Cabrabassa uma extensão de 460 milhas
geográficas, ou de 828 quilómetros, e divide-se em duas regiões perfeitamente
distintas, a superior e a inferior, cada uma das quais é extensa de 230 milhas,
ou 414 quilómetros.
A região superior, que começa na grande catarata e termina nos rápidos de
Cariba, não tem importância como via navegável, nem pelos afluentes que
recebe, todos pequenos e inaproveitáveis à navegação. 
Tem esta região alguns troços navegáveis, mas em pequenas extensões, e
logo interrompidos com rápidos. A segunda parte do curso medio, de Cariba a
Cabrabassa, está em condições bem diferentes, tanto por oferecer uma fácil
navigabilidade como por os importantes afluentes que recebe do Norte. De
um destes afluentes me ocuparei em breve. 
O Baixo Zambeze, de Cabrabassa ao mar, conta uma extensão de 310
milhas geográficas, ou 560 quilómetros, onde apenas poucas milhas são
ocupadas pelas cachoeiras de Cabrabassa; sendo o resto do curso navegável,
ainda que em más condições, por falta de água na estação estia.
Esta parte do rio, mesmo nas más condições em que está da confluência do
Chire a Tete, é ainda uma grande via por onde se faz todo o comércio do
interior com Quelimane. Recebe ele um afluente importante, o Chire,
magnífico rio, que da sua foz a Chibisa, não tem cataratas, sendo
perfeitamente navegável. O Chire que vem do Norte, no seu terço medio
corre a S.E. quase paralelamente ao Zambeze; e por isso de Chibisa a Tete
apenas medeia uma distância de 65 milhas geográficas, ou 117 quilómetros,
em terreno pouco acidentado, e que hoje, sem caminhos, se vence facilmente
a pé em cinco dias. 
Esta circunstância é muito para merecer a atenção; porque, sendo o rio
Zambeze pobre em profundidade da foz do Chire a Tete, não o é do Mazaro
ao mar; e assim, navegando-se por ele e pelo Chire até Chibisa, chegamos a 5
dias de jornada a pé, de Tete, com toda a rapidez que nos podem
proporcionar aquelas magníficas vias. Os 117 quilómetros que separam
Chibisa de Tete, podem ser vencidos num dia com uma simples estrada de
rodagem, e em três horas com uma ferrovial.
Estão pouco ou nada estudados os rápidos de Cabrabassa, e não faço ideia
até que ponto eles constituem um sério obstáculo à navegação, e se com
pequeno ou grande trabalho se poderia remover esse obstáculo. 
Sei porem, que a região que eles ocupam é pouco extensa, o que já constituí
uma vantagem indiscutível."
FONTE: DIÁRIO DE ÁFRICA, O ZAMBEZE, SERPA PINTO, 1877/79

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