"Empresas exportam 65% a 90% da sua produção, são líderes nos seus mercados externos e os seus produtos considerados gourmet
Exportações continuam a salvar indústria conserveira portuguesa
Indústria de conservas
D.R.
D.R.
Fossem todas as indústrias nacionais como a das conservas de peixe e não havia crise em Portugal. A maior ameaça é a escassez de matéria-prima, porque a internacionalização é um sucesso há décadas. Entre 2010 e 2012, as exportações de conservas cresceram 32,7% em quantidade (de 33 155 toneladas para 44 toneladas) e 39,8% em valor (de 132,6 milhões para 185,6 milhões de euros). “As empresas de conservas de hoje são económica e financeiramente muito mais robustas do que as antigas. Ocuparam o espaço das que foram desaparecendo, conquistando e continuando a conquistar novos mercados”, diz Castro e Melo, secretário-geral da Associação Nacional dos Industriais de Conservas de Peixe. “Há países onde Portugal significa sardinha em lata, e da melhor”, afiança António Pinhal, das Conservas Pinhal. É também o caso das conservas da Portugal Norte da marca Porthos, em Macau ou em Hong Kong, onde lideram há 80 anos. Ou da Cocagne, da Ramirez, que é sinónimo de “sardinha em lata” no Benelux, onde é comercializada como produto gourmet desde 1906.
Matéria-prima escassa
A indústria conserveira depende de um fator aleatório com que poucos negócios contam: a matéria-prima vem do mar, à vontade da natureza e, por vezes, dos subsídios ao abate da frota pesqueira portuguesa. “Em Matosinhos, havia 200 traineiras em 1986. Hoje são 20”, desabafa António Pinhal, que acredita que o segredo do êxito está no respeito pelos métodos tradicionais. Na Conservas Pinhais, em Matosinhos, ainda propriedade da família que a fundou, em 1920, só trabalham com sardinha fresca da costa portuguesa. “A sardinha portuguesa tem fama de ser a melhor do mundo; não vou trabalhar com sardinhas de Marrocos”, diz. Desde a limpeza manual do peixe até à batida final em cada lata, para assegurar que está estanque, tudo é realizado como há 93 anos, por cem mulheres e 20 homens. Desde 1920 que a exportação é o destino de 90% da produção, graças a uma rede distribuidores “que já fazem parte da família” e que colocam a Pinhais e a marca Nuri em quase toda a União Europeia (é marca de luxo na Áustria há mais de 50 anos), na América Central, nas Filipinas e em Israel. Em 2012, faturou 3,5 milhões de euros.
A Ramirez já teve de abandonar o Algarve, onde nasceu, quando o atum deixou de aparecer. Foi nos momentos de crise que a história os ensinou a investir, tal como agora fazem.
Foi por isso também que A Poveira investiu 5,5 milhões na nova fábrica, cujas câmaras frigoríficas permitirão contornar a imprevisibilidade da matéria-prima e quadruplicar o volume de negócios do ano passado (cinco milhões de euros) nos próximos cinco anos. “Este ano, já vamos duplicar aquele valor, para dez milhões de euros”, anuncia Rui Ferreira Marques, presidente do conselho de administração. Na estratégia da empresa com 75 anos e 130 trabalhadores, dois fatores são fundamentais: o acesso à matéria--prima, facilitado pela capacidade de congelação e pelo início do trabalho com atum, importado de todo o mundo; e a exportação, que já vende 80% da produção d’A Poveira, para destinos como Alemanha, Finlândia, Israel (com azeite certificado por um rabino) e Filipinas. “O objetivo é, ainda, aumentar a quota no mercado nacional”, diz Ferreira Marques.
São precisos muitos milhões de latas de conservas por ano para manter uma indústria centenária. É o que diz Marilúcia Souza, administradora da empresa Conservas Portugal Norte, fundada em 1912, em Matosinhos: “É um negócio que movimenta milhões [12 milhões de euros, em 2012], mas vive de tostões [a lata mais vendida custa 1,20€]”. A grande vantagem da empresa é a exportação, que representa 80% da produção. Segue para a UE (fabricam inclusive a marca branca da britânica Tesco), para mercados lusófonos (a marca Inês é uma das mais reconhecidas em Angola), para o Médio Oriente (são líderes de mercado em Israel) e o Extremo Oriente (Sul da China e Macau, onde a marca Porthos é vendida há 80 anos). No Oriente, diz a gestora, “as sardinhas portuguesas são um produto de luxo”.
Nova fábrica
A conserveira Ramirez lançou na quarta-feira a primeira pedra da sua nova fábrica, em Lavra, Matosinhos, um investimento de 18 milhões de euros para duplicar a capacidade da atual unidade. A laborar desde 1853 e sempre nas mãos da mesma família, a Ramirez “já passou por guerras, recessões, revoluções e falta de matéria-prima, por isso não há dúvidas de que vai resistir”, diz Manuel Ramirez, presidente do conselho de administração, a quarta geração na conserveira. O anterior líder, Emílio Ramirez, iniciou a diversificação, com uma fábrica em Peniche e outra em Matosinhos. Hoje, a Ramirez está ancorada na sardinha e em Matosinhos. “Esta indústria é sui generis, vive dependente da natureza e é difícil fazer previsões de negócio a médio prazo. Depende do que o mar trouxer. E a natureza anda revoltada, o mundo está a mudar”, profetiza Manuel Ramirez, 71 anos. O filho, homónimo, de 43 anos, há de estrear a nova fábrica. “Em tempo de crise, é altura de investir, para estarmos preparados para o que vem a seguir”, revela. Assim foi, nos anos 60, quando se esgotou o atum e investiu em câmaras frigoríficas proibidas pela lei do condicionamento industrial; mas já as tinha a funcionar mal o 25 de Abril desbloqueou a situação. Logo a seguir, investiu no sistema de abertura fácil das latas, lançando a argola ao nível mundial.
Hoje, a Ramirez exporta 65% da produção e continua a inovar, nomeadamente na gama de pratos cozinhados - que vendem mais no estrangeiro do que por cá (“É muito difícil inovar em Portugal”) -, projetando manter, este ano, o volume de negócios do ano passado: 25 milhões de euros.
Matéria-prima escassa
A indústria conserveira depende de um fator aleatório com que poucos negócios contam: a matéria-prima vem do mar, à vontade da natureza e, por vezes, dos subsídios ao abate da frota pesqueira portuguesa. “Em Matosinhos, havia 200 traineiras em 1986. Hoje são 20”, desabafa António Pinhal, que acredita que o segredo do êxito está no respeito pelos métodos tradicionais. Na Conservas Pinhais, em Matosinhos, ainda propriedade da família que a fundou, em 1920, só trabalham com sardinha fresca da costa portuguesa. “A sardinha portuguesa tem fama de ser a melhor do mundo; não vou trabalhar com sardinhas de Marrocos”, diz. Desde a limpeza manual do peixe até à batida final em cada lata, para assegurar que está estanque, tudo é realizado como há 93 anos, por cem mulheres e 20 homens. Desde 1920 que a exportação é o destino de 90% da produção, graças a uma rede distribuidores “que já fazem parte da família” e que colocam a Pinhais e a marca Nuri em quase toda a União Europeia (é marca de luxo na Áustria há mais de 50 anos), na América Central, nas Filipinas e em Israel. Em 2012, faturou 3,5 milhões de euros.
A Ramirez já teve de abandonar o Algarve, onde nasceu, quando o atum deixou de aparecer. Foi nos momentos de crise que a história os ensinou a investir, tal como agora fazem.
Foi por isso também que A Poveira investiu 5,5 milhões na nova fábrica, cujas câmaras frigoríficas permitirão contornar a imprevisibilidade da matéria-prima e quadruplicar o volume de negócios do ano passado (cinco milhões de euros) nos próximos cinco anos. “Este ano, já vamos duplicar aquele valor, para dez milhões de euros”, anuncia Rui Ferreira Marques, presidente do conselho de administração. Na estratégia da empresa com 75 anos e 130 trabalhadores, dois fatores são fundamentais: o acesso à matéria--prima, facilitado pela capacidade de congelação e pelo início do trabalho com atum, importado de todo o mundo; e a exportação, que já vende 80% da produção d’A Poveira, para destinos como Alemanha, Finlândia, Israel (com azeite certificado por um rabino) e Filipinas. “O objetivo é, ainda, aumentar a quota no mercado nacional”, diz Ferreira Marques.
São precisos muitos milhões de latas de conservas por ano para manter uma indústria centenária. É o que diz Marilúcia Souza, administradora da empresa Conservas Portugal Norte, fundada em 1912, em Matosinhos: “É um negócio que movimenta milhões [12 milhões de euros, em 2012], mas vive de tostões [a lata mais vendida custa 1,20€]”. A grande vantagem da empresa é a exportação, que representa 80% da produção. Segue para a UE (fabricam inclusive a marca branca da britânica Tesco), para mercados lusófonos (a marca Inês é uma das mais reconhecidas em Angola), para o Médio Oriente (são líderes de mercado em Israel) e o Extremo Oriente (Sul da China e Macau, onde a marca Porthos é vendida há 80 anos). No Oriente, diz a gestora, “as sardinhas portuguesas são um produto de luxo”.
Nova fábrica
A conserveira Ramirez lançou na quarta-feira a primeira pedra da sua nova fábrica, em Lavra, Matosinhos, um investimento de 18 milhões de euros para duplicar a capacidade da atual unidade. A laborar desde 1853 e sempre nas mãos da mesma família, a Ramirez “já passou por guerras, recessões, revoluções e falta de matéria-prima, por isso não há dúvidas de que vai resistir”, diz Manuel Ramirez, presidente do conselho de administração, a quarta geração na conserveira. O anterior líder, Emílio Ramirez, iniciou a diversificação, com uma fábrica em Peniche e outra em Matosinhos. Hoje, a Ramirez está ancorada na sardinha e em Matosinhos. “Esta indústria é sui generis, vive dependente da natureza e é difícil fazer previsões de negócio a médio prazo. Depende do que o mar trouxer. E a natureza anda revoltada, o mundo está a mudar”, profetiza Manuel Ramirez, 71 anos. O filho, homónimo, de 43 anos, há de estrear a nova fábrica. “Em tempo de crise, é altura de investir, para estarmos preparados para o que vem a seguir”, revela. Assim foi, nos anos 60, quando se esgotou o atum e investiu em câmaras frigoríficas proibidas pela lei do condicionamento industrial; mas já as tinha a funcionar mal o 25 de Abril desbloqueou a situação. Logo a seguir, investiu no sistema de abertura fácil das latas, lançando a argola ao nível mundial.
Hoje, a Ramirez exporta 65% da produção e continua a inovar, nomeadamente na gama de pratos cozinhados - que vendem mais no estrangeiro do que por cá (“É muito difícil inovar em Portugal”) -, projetando manter, este ano, o volume de negócios do ano passado: 25 milhões de euros.
No ano passado, as 20 empresas que ainda subsistem exportaram 44 mil toneladas"
FONTE: www.dinheirovivo.pt
FONTE: www.dinheirovivo.pt
Sem comentários:
Enviar um comentário