FACIM: Investir sem ilusões
O Presidente da República, Filipe Nyusi, convidou os empresários nacionais e internacionais que participaram na Feira Internacional de Maputo (FACIM), e não só, a investirem no país, mas sem ilusões, uma vez que Moçambique continua vulnerável a choques económicos externos e a um complexo cenário de calamidades naturais. A feira encerra hoje com um vasto programa recreativo e cultural.
Termina hoje a quinquagésima segunda edição da FACIM que decorre desde a segunda-feira passada, em Ricatla, distrito de Marracuene, na província de Maputo. Para o dia de hoje está prevista a visita do Ministro de Transportes e Comunicações, Carlos Mesquita, que vai percorrer o Pavilhão Moçambique onde se encontram representadas as províncias, instituições de apoio ao sector privado e empresas nacionais.
O governante também efectuará uma visita pelos pavilhões Kongwa, Nachingeia, Guaza Mutini, Madtchedje, Chai e a zona de produtores e do sector de Pescas. Nestes locais estão expostas empresas nacionais ligadas aos sectores de energia e recursos minerais, transportes e comunicações, sector financeiro e pesqueiro e empresas estrangeiras.
A presente edição decorre num contexto adverso para o país, caracterizado pela crise económica interna e internacional, tensão militar e as calamidades naturais, nomeadamente a seca e estiagem que ainda afecta a zona Sul e Centro do país
Por essa razão, o certame não teve o fulgor habitual, apesar do esforço dos expositores nacionais e internacionais que acorreram ao certame, mas o número de visitantes deu mostras de ter decaído em razão dos fenómenos enunciados.
Durante a cerimónia de abertura oficial da feira, o Presidente da República, Filipe Nyusi, disse que com muito sacrifício, disciplina, trabalho árduo e dedicação o país poderá contornar os obstáculos e tornar a economia mais dinâmica, vibrante e resiliente aos choques económicos externos.
Conforme referiu, o lema seleccionado para a presente edição (“Promovendo as Ligações Económicas com Potencial para Exportações”) não poderia ser mais pertinente e oportuno, tendo em conta o actual contexto económico do país, uma vez que a mensagem que está a ser transmitida ao longo do país é para produzir mais, promovendo a qualidade do produto nacional. Entretanto, não se pode falar de exportações sem auto-suficiência e sem excedentes.
“É igualmente neste sentido que temos estado a promover e a acarinhar o sector produtivo privado. O sector privado que deve liderar a auto-suficiência garantindo o aumento da colheita de receitas e que vai inflacionar positivamente os rendimentos do cidadão empregando-o”, disse.
O Presidente da República frisou ainda que notou, com satisfação, que não obstante os constrangimentos que existem o empresariado nacional não ficou na defensiva. Não desfaleceu e nem optou por lamentações.
“Os parceiros internacionais, pela experiência universal que acumulam, tem mostrado a sua consciência de que as razoes que desaceleram a economia não são sempre fatais em diferentes etapas de exercício empresarial, pelo contrário, arregaçaram as mangas, accionaram o seu engenho humano e continuaram a trabalhar com afinco e determinação para afirmação da actividade económica em Moçambique”.
É nesta perspectiva que o sector privado, o pequeno, médio e até o grande empresariado foi desafiado a capitalizar as oportunidades oferecidas pelos acordos regionais e pela abertura da economia global, fortalecer a cooperação e o associativismo empresarial como instrumento de partilha, de custos e de reforço da capacidade competitiva a nível nacional e a escala global.
Por outro lado, deve intervir com vista a fomentar a industrialização do país com ênfase no uso e canalização de matéria-prima nacional, reforçar a capacidade produtiva na agricultura, pescas, agro-indústria, turismo, exploração de recursos naturais e hidrocarbonetos e energia.
“É preciso financiar adequadamente as demandas do sector produtivo. Nós queremos sair deste dilema de sempre cantarmos agricultura para, a partir do próximo ano, começar a produzir comida para o nosso povo e assegurar a fluidez dos circuitos de comercialização agrária e rural, implementando iniciativas que resultem na criação de mais postos de emprego”, sublinhou Filipe Nyusi.
Nyusi recordou que a FACIM é um espaço privilegiado para galvanizar negócios, estimular parcerias económicas e reforçar as ligações entre nossas empresas e entre estas e o mundo. Por isso, exortou aos empresários e empreendedores para que façam do período de permanência naquele espaço um momento de estabelecimento de fortificação e de conquista de novos mercados a escala nacional, regional e global.
EXPOSITORES SATISFEITOS
A nossa Reportagem percorreu o recinto e constatou que há um sentimento de satisfação dos expositores nacionais e estrangeiros. A título de exemplo, a Presidente do Conselho de Administração (PCA) da Empresa Moçambicana de Medicamentos (Medimoc), Carlota Salomão disse que houve um intenso estabelecimento de contactos que podem gerar parcerias.
“Recebemos visita de alguns expositores internacionais que queriam conhecer a nossa empresa e conhecer as possibilidades que tinham para o estabelecimento de parcerias. Esperamos mais contactos que se materializem em negócios para ambas as partes”, disse.
Por seu turno, a directora executiva do Balcão Único de Atendimento de Gaza, elogiou a organização da presente edição da FACIM, sobretudo pelo facto de o Instituto para Promoção de Exportações (IPEX) ter disponibilizado os espaços com antecedência. “Nos primeiros dias tivemos muitas quebras a nível da segurança. Tivemos perdas de produtos e, noutros casos, foram vandalizados. Mas a questão ficou resolvida e melhorou muito”.
No stand da província de Gaza apuramos que a meta era a procura de investidores nacionais e estrangeiros para a produção e processamento do arroz, tomate e castanha. Aliás, a par das parcerias, dois expositores estrangeiros manifestaram interesse em se apresentar formalmente ao governo.
Enquanto isso, a província da Zambézia levou como “cartão de visitas” os sectores da agricultura e florestas, pesca, turismo, recursos minerais e indústria e comércio. Para Momade Juízo, director da Industria e Comércio, o nível de visitantes nacionais e estrangeiros recebidos durante o certame foi satisfatório.
“Tivemos um número considerável de expositores estrangeiros que deixaram os seus contactos e levaram os nossos. Verificaram as nossas amostras e parece que a nossa província pode ter alguns resultados positivos da FACIM”.
Enquanto isso, Horácio Linaula, director provincial da Indústria e Comércio de Niassa, celebrou o número de visitantes recebidos, sobretudo estrangeiros. A média foi de 50 visitantes estrangeiros por dia que procuravam saber das oportunidades nos sectores da agricultura, plantas medicinais e a gastronomia com produtos da província, para além do habitual interesse pelos recursos naturais.
“Gostaríamos que Niassa seja a província preferida dos investidores. Temos terra fértil, com uma produção muito grande mesmo sem recorrer a adubos. Não podemos nos esquecer do potencial na área do turismo. Os investidores podem apostar em Niassa porque ainda não há muita concorrência e podem obter grandes rendimentos”.
No que se refere aos expositores estrangeiros, contactamos António Rodrigues, director de marketing da Maxmat, uma empresa portuguesa que elogiou a organização do evento. “A FACIM é uma das feiras mais bem organizadas que já presenciamos”.
“Participamos pela primeira vez e saímos daqui muito agradavelmente surpreendidos. O contacto com a população e os empresários moçambicanos tem sido excelente. A receptividade em relação a marca e os produtos também tem sido boa. Saímos satisfeitos também com a prestação que tivemos e com o acolhimento que nos foi dado”, sublinhou.
António Rodrigues referiu ainda que a sua empresa foi contactada, ainda em Portugal, por empresários moçambicanos interessados em representar a nossa marca. Estando em fase de estudo e aceitação de propostas. Aquela empresa trouxe diversos produtos com destaque para moto-enxadas para agricultura, material de construção, jardins, material de cozinha, entre outros.
Por seu turno, Priscila de Moura, da Clarice Electrodomésticos, empresa fabricante de fogões no Brasil, disse que também participa pela primeira vez. Para ela, a organização esteve tranquila e ficou satisfeita com a recepção. “Percebemos que a maior parte do público é consumidor, mas estamos a receber contactos de empresas distribuidoras”.
Um dos objectivos da sua vinda a Moçambique foi para encontrar parceiros e ou revendedores. Aliás, apesar de não ter nenhum contrato assinado, um número considerável de clientes demonstraram interesse nos seus produtos, no entanto ela mostrou-se optimista para fechar bons negócios.
Texto de Angelina Mahumane
angelina.mahumane@snoticicas.co.mz"
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FONTE: DOMINGO, JORNAL DE MOÇAMBIQUE.
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