António Guterres defende que a ONU deve estar preparada para
mudar Nova Yorque (12 de Dezembro) – Tomou posse nesta segunda-feira (12)
António Guterres no cargo de Secretário Geral da Organização das Nações Unidas
(ONU). No seu primeiro discurso após a tomada de posse, o ex-primeiro ministro
de Portugal afirmou que a ONU deve estar preparada para mudar. A cerimónia
começou com um tributo a Ban Ki-moon e concluiu com o discurso do ex-primeiro-ministro
português. António Guterres começou o discurso dizendo-se honrado por ter sido
escolhido como secretário-geral, agradecendo o trabalho de Ban Kimoon. "É
uma honra seguir os seus passos", afirmou, dirigindo-se directamente ao sul-coreano.
O ex-primeiro-ministro português falou depois dos desafios que enfrenta
actualmente o mundo, lembrando também que houve vários avanços nos últimos
anos, ao nível da globalização e das tecnologias. Mas que isso também resulta
em maior instabilidade, violência e conflito. "A globalização fez aumentar
as desigualdades. Muita gente ficou para trás, incluindo nos países
desenvolvidos", disse Guterres. "A ONU deve estar preparada para
mudar", afirmou Guterres, falando da "incapacidade" das Nações
Unidas para prevenir crises. "Devemos duplicar os esforços para resolver
os conflitos", indicou o português, discursando nessa altura em francês.
"A prevenção é o que os fundadores das Nações Unidas nos pediram para
fazer. É a melhor forma de salvar vidas e de reduzir o sofrimento humano. Onde
a prevenção falha, devemos fazer mais para resolver conflitos",
considerou. "Estou preparado para me envolver pessoalmente na resolução de
conflitos onde isso trouxer um valor acrescentado, reconhecendo o papel de
liderança dos Estados-membros", afirmou. Falando dos capacetes-azuis, Guterres
disse que por vezes são chamados a manter a paz que não existe. O
secretário-geral designado pediu uma "reforma global da estratégia das
Nações Unidas" ao nível da manuten- ção de paz. "A ONU nasceu da
guerra, temos que estar aqui para a paz", indicou Guterres. O nosso dever,
afirmou, "é trabalharmos juntos para passarmos de ter medo uns dos outros,
para confiar uns nos outros", indicou. As três áreas prioritárias para
Guterres são paz, desenvolvimento e organização interna. O ex-primeiro-ministro
português foi aplaudido em diversas ocasiões, nomeadamente quando pediu mais
eficácia e menos burocracia, dizendo que não pode demorar nove meses a destacar
alguém para o terreno. "Não basta fazer melhor, temos que comunicar melhor
o que fazemos, de forma a que todos compreendam", defendeu. E prometeu
alcançar a paridade de género nas nomeações para os altos cargos da ONU durante
o seu mandato. Depois do inglês e francês, Guterres falou em espanhol para
dizer que há um desafio: os jovens. "A ONU deve capacitar os jovens",
defendeu, destacando a necessidade de inclui-los "na tomada de decisões
que afectam o seu futuro". "Farei o meu melhor para servir a nossa
humanidade", concluiu Guterres. Juramento de Guterres O presidente da
Assembleia Geral da ONU, Peter Thomson, lembrou o histórico processo para
eleger o novo secretário-geral, António Guterres, no início da cerimónia de
juramento. E disse que ele é "um homem que encarna o espírito das Nações
Unidas" e que pode contar com o apoio de todos os membros. Segundo Thomson,
Guterres é "um líder para este tempo quando temos que transformar o mundo
para ser um melhor lugar para todos". Depois, já com o presidente Marcelo
Rebelo de Sousa e o primeiroministro António Guterres junto ao púlpito, António
Guterres prestou juramento: "Eu, António Guterres, declaro solenemente e
prometo exercer em total lealdade, discrição e consciência as funções que me
são confiadas enquanto servidor público das Nações Unidas, exercer estas
funções e pautar a minha conduta apenas tendo em mente os interesses das Nações
Unidas, e não procurar ou aceitar, no que respeita às minhas responsabilidades,
instruçõesde qualquer governo ou outra organização". O mandato de
Guterres, o nono secretário-geral das Nações Unidas, começa a 1 de janeiro de
2017. Último discurso de Ban Ki-moon Antes do juramento de Guterres, a
Assembleia Geral prestou homenagem a Ban Ki-moon, que fez o seu último
discurso. "Estou muito emocionado pelo vosso tributo", disse Ban
Kimoon, falando do privilégio que foi ser secretário-geral das Nações Unidas.
"Para mim, o poder das Nações Unidas nunca foi abstrato ou
académico", explicou. "É a história da minha vida. Esta apreciação
profunda tornou-se ainda mais forte todos os dias do meu serviço nas Nações
Unidas", acrescentou. O sul-coreano disse que o mundo enfrentou vários
desafios nos últimos 10 anos, desde crise económica à irrupção de novos
conflitos, doen ças, desastres naturais. "Este tumulto testou-nos",
afirmou. Ban Ki-moon discursou primeiro em inglês e depois passou para o
francês. "Os princípios da carta das Nações Unidas devem continuar a mover
o nosso mundo", referiu. Ban Ki-moon destacou o "caleidoscópio de
rostos" com que se cruzou ao longo dos últimos dez anos. "Mesmo
quando me preparo para sair, o meu coração fica aqui", afirmou, dizendo passar
o testemunho a Guterres, "um homem de integridade e compaixão". E
terminou desejando ao seu sucessor e a todos os estados-membros "paz,
prosperidade e grande sucesso". Ao terminar o discurso, Ban Ki-moon foi
ovacionado pela Assembleia-Geral. Tributo a Ban Ki-moon Antes do discurso, o
representante de Laos na ONU apresentou uma resolução de tributo a Ban Ki-moon,
agradecendo o trabalho que este desempenhou ao longo de 10 anos, que foi
aprovada por todos os membros da Assembleia Geral. Ban Ki-moon deixa o cargo no
final do ano, sucedendo-lhe António Guterres. A resolução "presta tributo
a Ban Ki-moon pelo seu contributo excecional para o trabalho da organização e
as suas realizações em melhorar a vida das pessoas e proteger o nosso mundo
para futuras gerações e em promover e proteger os direitos humanos e liberdades
fundamentais para todos, no interesse de um mundo mais seguro". "Ele
guiou as Nações Unidas por um período de mudanças", indicou também o
presidente da Assembleia Geral das Nações Unidas, Peter Thomson. Um dos temas destacados
foi, por exemplo, o apoio de Ban Ki-moon à igualdade de género que tem sido
"a pedra angular do seu mandato". Os vários representantes regionais
fizeram depois a sua homenagem a Ban Ki-moon. O representante de Burkina Faso,
em nome do grupo africano, destacou o seu "serviço à humanidade" e o
papel que teve durante a epidemia do ébola. O representante da Costa Rica
destacou a "sabedoria" e "determina- ção" de Ban Ki-moon ao
longo da última década. E recordou as palavras do secretário-geral: "Não
temos um plano B, porque não temos um planeta B." Lembrando que ele
prometeu ser um "construtor de pontes", disse que ele cumpriu. O
embaixador da Suécia nas Nações Unidas, em representação da Europa Ocidental,
disse que Ban Kimoon tem sido "o rosto e a voz da ONU", tendo
defendido o papel das mulheres e que os direitos humanos estão no centro de
tudo. E falou num mundo "mais ligado do que nunca", lembrando que no
ano em que tomou posse, foi também apresentado o iPhone. O representante sueco indicou
que Ban Ki-moon foi "um verdadeiro campeão do clima", destacando o
seu trabalho para tornar o Acordo de Paris numa realidade. Os membros da
Assembleia Geral também agradeceram o "apoio constante" da mulher de
Ban Ki-moon, Ban Soon-Taek. A embaixadora dos EUA nas Nações Unidas agradeceu o
seu "sacrifício" e o da sua família. Samantha Power começou a
homenagem falando da infância de Ban Ki-moon e de como o secretáriogeral ainda
hoje não sabe a sua data de nascimento, já que os pais decidiram só o registar quando
soubessem que ele ia sobreviver. E fala da zona rural da Coreia do Sul onde o
secretário-geral da ONU nasceu em 1944, das suas origens humildes e do conflito
que o rodeava. A embaixadora falou da "cren- ça duradoura" de Ban
Ki-moon de "não deixar ninguém para trás", da sua "devoção"
em relação às alterações climáticas e aos perigos que isso representa e da
forma como sempre "defendeu a dignidade dos mais marginalizados".
"Em nome dos nossos filhos, e dos filhos dos nossos filhos, nunca
poderemos agradecer o trabalho de Ban Ki-moon", disse Samantha Power, que
acrescentou que Guterres "é o homem para este trabalho, em tempos
desafiadores". Convidados de Guterres António Guterres veio acompanhado
pela mulher, Catarina Vaz Pinto, pelos filhos Mariana e Pedro, e pela irmã
Teresa, mas nenhum do familiares se mostrou disposto a quebrar a regra de
silêncio que os tem caraterizado. O padre Vítor Melícias e o médico pessoal
Leopoldo Matos, pelo contrário, não fugiram a manifestar a alegria e o orgulho
de estarem com o amigo António Guterres neste dia feliz. Vieram de Lisboa de
propósito e ainda antes da cerimónia já estavam emocionados, já guardaram
algumas lágrimas que sabem que vão deixar sair no momento do juramento. Marcelo
esteve sentado no lugar da delegação portuguesa, ao lado de António Costa.■ (Ana Sousa Dias e Susana
Salvador, dxa ONU)
FONTE: O AUTARCA,
JORNAL DE MOÇAMBIQUE.
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