A VISITA que o Presidente da República, Filipe Jacinto Nyusi, efectuou aos Estados Unidos de 14 a 22 de Setembro pode ser considerada histórica e com impacto económico para o país.
Histórica visita, pois acredita-se que esta deslocação tenha dado um novo impulso às relações bilaterais que nem sempre foram fáceis, mas sempre conduzidas de forma sábia pela diplomacia moçambicana desde a independência nacional.
Elevar as relações para um outro nível com os Estados Unidos parece ser uma das apostas do Presidente Nyusi. Basta lembrar que durante a pré-campanha para as eleições que o levariam ao poder Nyusi deslocou-se, entre outros países, aos Estados Unidos, país onde a diáspora moçambicana não é expressiva e nem vota.
Aliás, o próprio Presidente Nyusi terá dito nalgum momento durante a visita (nos encontros com os empresários) que voltava aos Estados Unidos para reiterar a mensagem que fez passar quando lá esteve na qualidade de candidato às presidenciais de Outubro de 2014.
Na esfera política, Filipe Nyusi teve, na chamada “Terra do Tio Sam”, um encontro com senadores e congressistas, figuras importantes e cuja opinião influencia no relacionamento entre os Estados Unidos e outros países. Mas seriam mais importantes ainda as reuniões com os secretários de Estado norte-americano, John Kerry, e da Conselheira Nacional de Segurança, Susan Rice, em ocasiões em que a actual situação política no país foi um dos temas centrais. Com o primeiro foi na Secretaria do Estado e com a segunda na Casa Branca.
Nestes encontros o Presidente da República expôs aquilo que constitui a sua visão sobre os actuais desafios do país e as respostas para ultrapassá-los.
Dos políticos norte-americanos o Chefe do Estado recebeu o encorajamento para prosseguir nos seus esforços para alcançar a paz em Moçambique.
A DIPLOMACIA ECONÓMICA
UM dos principais objectivos do estadista moçambicano nos Estados Unidos foi manter os investimentos americanos em curso no país e atrair outros, tendo neste sentido se encontrado com a nata empresarial local nas três cidades que escalou, nomeadamente Washington, Houston e Nova Iorque.
Nyusi disse que o ambiente político em Moçambique é, no geral, estável e que o país está aberto ao negócio e deseja que todo o mundo possa explorar as oportunidades que o país oferece. Apelou-os, neste contexto, a estabelecer parcerias para desenvolverem negócios em vários sectores de actividade com enorme potencialidade como agricultura, recursos minerais, transportes, turismo, banca, seguros, entre outros.
Destes, o Presidente Nyusi recebeu bons sinais. Alguns que já investem em Moçambique querem aumentar os seus investimentos, enquanto para outros a entrada no mercado nacional ainda se situa ao nível de intenção. Aliás, de acordo com o embaixador de Moçambique em Washington, Carlos Santos, há muitos norte-americanos que têm mostrado interesse de investir no país.
A corroborar com esta afirmação, o Presidente Barack Obama colocou Moçambique na rota do investimento que os norte-americanos começaram a fazer no Continente Africano. “Abrimos e expandimos novos escritórios comerciais e de investimento de Gana a Moçambique”, referia o Presidente Obama, falando na abertura do Fórum de Negócios entre África e os Estados Unidos, organizada à margem da Assembleia-Geral das Nações Unidas.
As petrolíferas, algumas das quais já presentes no país, emitiram também bons sinais. A Exxon Mobil-Rex Tellerson considera que o país tem um futuro risonho pela frente e assegurou que quer avançar nas operações de pesquisa de petróleo e gás nas áreas já concessionadas.
Já a Dionnex Energy, que ganhou o concurso lançado em Junho do ano passado na localidade da Palmeira, distrito da Manhiça, província de Maputo, promete começar para o ano a actividade de prospecção de petróleo e gás nesta região do país se ao fim do mês que começa hoje forem concluídas as negociações para a assinatura dos contratos entre a empresa e o Governo moçambicano.
Por altura da presença do Chefe do Estado moçambicano o presidente executivo da Anadarko, Al Walker, dizia esperar que o projecto em desenvolvimento em Moçambique arranque em 2022, estimando tomar a decisão final no próximo ano.
Ainda no âmbito da diplomacia económica, um dos marcos importantes desta deslocação do Presidente da República aos Estados Unidos foi o encontro com a directora do Fundo Monetário Internacional, Crhistine Largarde, que abriu caminho para a reaproximação entre o Executivo moçambicano e esta instituição da 'Bretton Woods'.
Para já, o que que ficou claro é que a Procuradoria-Geral da República vai liderar a auditoria às contas das empresas EMATUM, Pro-Indicus e a MAM, no âmbito da dívida pública, avaliada em cerca de 1.4 bilião de dólares. Desta forma, o FMI cedeu em relação à auditoria forense, que faria este exercício em relação às contas do Estado.
A missão concluiu quinta-feira a missão que vinha realizando há uma semana, tendo mais uma vez registado os progressos em curso.
PRÉMIO PELA CONSERVAÇÃO DO AMBIENTE
O PAÍS ficou seriamente afectado pela caça furtiva, mas nos últimos tempos tem havido um esforço para travar este fenómeno com teias internacionais e apostou na preservação das áreas de conservação da natureza. Esta está a tornar-se quase que uma questão pessoal do Chefe do Estado, que abraçou um novo discurso sobre a matéria. Segundo o presidente do International Conservation Caucus Foundation (ICCF), que atribuiu o prémio, Nyusi promove uma nova abordagem de desenvolvimento rural, que passa pela utilização do parques e reservas nacionais como motores da educação, desenvolvimento económico e prestação de serviços para as comunidades que partilham ecossistemas com estes espaços.
A distinção poderá aumentar a responsabilidade do Chefe do Estado e do país em relação a este problema.
O ICCF é uma instituição sedeada em Washington, nos Estados Unidos da América (EUA), cuja missão é ajudar os governos dos países do mundo a adoptar políticas de conservação da natureza e da biodiversidade.
Um dos objectivos preconizados pela organização é a melhoria das estruturas judiciais para a conservação da vida selvagem e de combate ao crime de abate indiscriminado dos animais selvagens.
Moçambique possui 13 áreas de conservação, geridos com o fim de conservar o seu património natural.
FORMAÇÃO DE MOÇAMBICANOS NOS PETRÓLEOS
QUANDO visitou a plataforma da ENI, na bacia do Rovuma, na qualidade de candidato às presidenciais de 2014, o Presidente Nyusi ficou triste por não ver, entre os trabalhadores presentes, algum moçambicano.
Hoje o seu sentimento já não é o mesmo. Por exemplo, na imponente sede da Anadarko (em Houston, a capital do Estado do Texas, ou simplesmente a cidade de petróleo e gás), um dos pontos que escalou na sua visita aos Estados Unidos, o Chefe do Estado ficou agradavelmente surpreendido por aquilo que viu e ouviu. É que neste momento a petrolífera norte-americana conta, na sua sede, com seis moçambicanos, que estão a fazer cursos de treinamento em diversas áreas técnicas.
Um desses quadros é a geóloga Ermelinda Dalsuco, que trabalha na caracterização dos reservatórios de gás.
Ela teve a oportunidade de explicar ao Presidente Nyusi e comitiva sobre o trabalho de análise dos solos, no quadro de pesquisa de hidrocarbonetos.
A estes e a outros moçambicanos radicados em Houston e cidades norte-americanas próximas o Presidente recomendou, já num encontro com eles, para não desperdiçarem a oportunidade de serem formados naquele país. “Aprendam ao máximo”, disse Nyusi, que manifestou o seu orgulho por ter ouvido a explicação sobre a identificação dos solos contendo gás da voz de uma compatriota.
REAFIRMAÇÃO DO COMPROMISSO SOBRE OS ASSUNTOS GLOBAIS
EM Nova Iorque o Chefe do Estado cumpria a última etapa da sua visita aos Estados Unidos. Aqui, para além de contactos diplomáticos e ainda com empresários baseados nesta cidade, o Presidente da República participou na 71.ª sessão da Assembleia-Geral das Nações Unidas, evento que foi marcado pela passagem do primeiro aniversário da adopção dos Objectivos do Desenvolvimento Sustentável. Trata-se de de um plano de acção de 15 anos para a prosperidade no mundo, através do combate à pobreza e à penúria, acabar com as guerras e proteger o planeta. O programa é conhecido por Agenda 2030 e contém 17 objectivos e 159 metas.
Filipe Nyusi disse que 2016 representa o início de uma nova era no quadro da agenda global, pois reflecte a ambição colectiva e o consenso global sobre a necessidade de se acelerar a criação de condições para que os nossos esforços com vista à erradicação da pobreza e à construção do desenvolvimento sejam centrados no Homem de forma a acabar com os problemas globais que afectam o mundo, como as mudanças climáticas, pobreza, conflitos, analfabetismo, entre outros.
Ele defende a necessidade de esta agenda ser inclusiva. Por isso anunciou aos seus homólogos que o Governo moçambicano criou um grupo multissectorial, que inclui técnicos do Governo, académicos, sociedade civil, entre outros, para monitorar a sua aplicação.
Antes dos debates da Assembleia-Geral propriamente ditos o estadista moçambicano foi um dos oradores na reunião de alto nível sobre Refugiados e Migração, em resultado de conflitos armados, desastres naturais, instabilidade política, pobreza, falta de emprego, falta de terras e ao mau ambiente económico e de negócios.
Para fazer face ao problema foram estabelecidos mecanismos para a protecção dos migrantes e refugiados nos países acolhedores.
Este assunto toca de forma particular a Moçambique que, de acordo com as estatísticas, acolhe cerca de 23 mil pessoas requerentes de asilo que procuraram sossego no nosso país.
Ciente dos problemas que o fenómeno gera no país, tais como o aumento do desemprego e a criminalidade, sobretudo, o Chefe do Estado disse na Assembleia-Geral das Nações Unidas que os refugiados e imigrantes encontram em Moçambique um ambiente favorável para reiniciar as suas vidas. Afirmou que o país tem estado a pautar por soluções que passam pelo repatriamento voluntário, integração e reassentamento.
O ponto de vista que Moçambique partilhou em Nova Iorque foi que os problemas da imigração e dos refugiados devem ser abordados através da adopção de políticas que respeitam os direitos humanos e dignidade. A cooperação regional e internacional, bem como a partilha de responsabilidade entre os países de proveniência, de trânsito e os acolhedores é outra saída a considerar, segundo Filipe Nyusi.
Mas também o Presidente da República é de opinião que bem aproveitados os imigrantes e os refugiados podem constituir uma mais-valia, pois entre estes há talentos e isso é o que Moçambique tem estado a fazer.
LÁZARO MANHIÇA"
FONTE: NOTICIAS, JORNAL DE MOÇAMBIQUE.
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