quinta-feira, 10 de abril de 2014

ROTINAS FOMENTADORAS DE PRODUTIVIDADE NA NOSSA VIDA, VEJA EM www.dinheirovivo.pt

"De Jane Austen a Scott Fitzgerald, os 7 elementos comuns a alguns génios, que podem facilitar uma rotina fomentadora da produtividade

Inspire-se nas rotinas diárias de alguns génios e seja mais produtivo

secretária escritores
A importância das rotinas
D.R.
04/04/2014 | 13:55 | Dinheiro Vivo
Juan Ponce de León passou a vida em busca da fonte da juventude. Eu tenho passado a minha em busca da rotina diária ideal. Porém, apesar de os tempos dos calendários de papel com códigos de cores terem cedido lugar a aplicações de organização na nuvem, a rotina continua a esquivar-se; cada dia é um novo dia, tão imprevisível quanto uma corrida num rodeo e igualmente veloz.Naturalmente, fiquei fascinada com o livro recente “Daily Rituals: How Artists Work”  (Rituais Diários: Como os Artistas Trabalham). O autor, Mason Curry, examina os horários de 161 pintores, escritores e compositores, assim como de filósofos, cientistas e outros pensadores excecionais.
Ao lê-lo, fui-me convencendo de que, para estes génios, uma rotina era mais do que um luxo — era essencial ao seu trabalho. Como diz Currey, “Uma rotina sólida promove um caminho bem conhecido para as nossas energias mentais e ajuda a evitar a tirania dos estados de espírito.” E embora o livro, em si mesmo, seja um delicioso sortido de trivialidades e não um manual de instruções, comecei a notar alguns elementos comuns nas vidas dos génios mais saudáveis (os que confiaram mais na disciplina do que, digamos, na bebida e nas anfetaminas), que lhes permitiram o luxo de uma rotina fomentadora da produtividade:
Um espaço de trabalho com distrações mínimas. Jane Austen pediu que uma certa dobradiça rangente nunca fosse oleada, para ter sempre um aviso quando alguém se aproximasse da sala em que escrevia. William Faulkner, não tendo fechadura na porta do estúdio, retirava a maçaneta e levava-a consigo para dentro — algo com que o atual trabalhador do cubículo apenas pode sonhar. A família de Mark Twain não ousava irromper pela porta do seu escritório — se precisassem dele, tocavam uma buzina para o fazerem sair. Graham Greene foi ainda mais longe, alugando um escritório secreto: só a mulher sabia a morada e o número de telefone. Mais distraído pela vista da sua janela do que por interrupções, quando N.C. Wyeth tinha problemas em concentrar-se, colava um cartão no vidro.
Um passeio diário. Para muitos génios, um passeio diário era essencial ao funcionamento do cérebro. Para Soren Kierkegaard, os passeios diários eram tão inspiradores que, muitas vezes, ele corria de volta para a secretária e recomeçava a escrever, ainda de chapéu e com a bengala ou o guarda-chuva. É bem sabido que Charles Dickens fazia passeios de três horas todas as tardes — e o que observava alimentava diretamente a sua escrita. Tchaikovsky contentava-se com um passeio de duas horas, mas não regressava nem um minuto antes, convencido de que privar-se dos 120 minutos completos o faria adoecer. Beethoven fazia longas caminhadas após o almoço, levando consigo um lápis e um papel, para o caso de ter uma inspiração. Erik Satie fazia o mesmo nos seus longos percursos a pé entre Paris e o subúrbio da classe trabalhadora onde vivia, detendo-se sob os candeeiros de iluminação pública para apontar ideias que lhe ocorriam durante a viagem; diz-se que durante a guerra, quando esses candeeiros foram desligados, a sua produtividade diminuiu.
Registos e medições. Anthony Trollope escrevia apenas três horas por dia, mas impunha-se um ritmo de 250 palavras por cada 15 minutos, e se acabasse o romance que estava a escrever antes de as três horas terminarem, começava imediatamente um novo livro. Ernest Hemingway também registava a sua produção diária de palavras num gráfico, “para não me enganar a mim mesmo.” BF Skinner começava a terminava as suas sessões de escrita com recurso a um cronómetro, “e registava cuidadosamente num gráfico o número de horas que escrevia e as palavras que produzia.”
Uma clara linha divisória entre trabalho importante e tarefas de rotina. Antes de haver email, havia cartas. Fiquei perplexa (e recebi uma lição de humildade) ao perceber quanto tempo cada pessoa atribuía à simples reposta a cartas. Muitos dividiam o dia em trabalho a sério (como compor ou pintar durante a manhã) e tarefas de rotina (responder a cartas à tarde). Outros dedicavam-se às tarefas de rotina quando o trabalho a sério não estava a correr bem. Mas, se a quantidade de correspondência era idêntica à de hoje, esses génios históricos tinham uma vantagem: o correio chegava a intervalos regulares, e não continuamente.

O hábito de parar quando o trabalho corre sobre rodas e não quando estão encalhados.
Hemingway explica: “Escreve-se até chegar a um ponto em que ainda temos sumo e sabemos o que vai acontecer a seguir; então paramos e tentamos aguentar até ao dia seguinte”. Arthur Miller disse, “Não acredito em secar o reservatório, percebe? Acredito em afastar-me da máquina de escrever quando ainda tenho coisas para dizer”. À exceção de Wolfgang Amadeus Mozart — que se levantava às seis, passava o dia num corrupio de lições de música, concertos, compromissos sociais e muitas vezes só ia para a cama à uma da manhã — muitos escreviam de manhã, paravam para almoçar e dar um passeio, passavam uma hora ou duas a responder a cartas e paravam de trabalhar pelas duas ou três da tarde. “Percebi que alguém que está cansado e precisa de um descanso mas, mesmo assim, continua a trabalhar, é um tolo”, escreveu Carl Jung. Ou talvez um Mozart.
Um companheiro prestável. Martha Freud, mulher de Sigmund, “ordenava-lhe a roupa, escolhia-lhe os lenços e até lhe punha a pasta de dentes na escova”, nota Currey. Gertrude Stein preferia escrever ao ar livre, contemplando pedras e vacas; por isso, nas suas viagens ao campo, em França, arranjava um sítio para se sentar, enquanto Alice B. Toklas enxotava algumas vacas para o campo de visão da escritora. A mulher de Gustav Mahler subornava os vizinhos com bilhetes para a ópera, para que mantivessem os cães calados enquanto ele compunha — apesar de ter ficado amargamente desapontada quando o marido a forçou a desistir da sua prometedora carreira musical.
Os artistas solteiros também tinham ajuda: a irmã de Jane Austen, Cassandra, assumia a maior parte das tarefas domésticas para que Jane tivesse tempo para escrever — “A composição parece-me impossível com a cabeça cheia de porções de carneiro e doses de ruibarbo”, escreveu Jane. E Andy Warhol ligava à amiga e colaboradora Pat Hackett todas as manhãs, contando-lhe em pormenor as atividades do dia anterior. “Fazer o diário”, como eles lhe chamavam, podia demorar duas horas — com Hackett tirando notas aplicadamente e batendo-as à máquina todos os dias de semana, desde 1976 até à morte de Warhol, em 1987.
Vidas sociais limitadas. Um dos amantes de Simone de Beauvoir pôs as coisas nestes termos: “não havia festas, nem receções, nem valores burgueses… era um género de vida despojada, uma simplicidade deliberadamente construída para que ela pudesse fazer o seu trabalho”. Marcel Proust “tomou em 1910 a decisão consciente de se retirar da sociedade”, escreve Currey. Pablo Picasso e a sua namorada Fernande Olivier tomaram de empréstimo a Stein e Toklas a ideia de que o domingo era um dia para passar em casa — para poderem “livrar-se das obrigações da amizade por uma tarde que fosse”.
Este último hábito — um isolamento relativo — parece-me muito menos atrativo que alguns dos outros. Contudo, as rotinas destes pensadores parecem-me estranhamente convincentes, embora possam parecer inatingíveis e extremas.
A própria ideia de podermos organizar o tempo como queremos é inalcançável para a maioria de nós — por isso, termino com um brinde a todos aqueles que realizaram o seu melhor trabalho dentro dos constrangimentos da rotina de outra pessoa.
Como Francine Prose, que começava a escrever quando a carrinha da escolar levava os filhos e parava quando voltavam; ou T.S. Eliot, que achou muito mais fácil escrever depois de ter um emprego num banco, do que quando era um poeta esfomeado; e até mesmo F. Scott Fitzgerald, cujos primeiros escritos eram realizados nos momentos que sobravam do horário estrito que seguia como jovem oficial do exército. Esses dias não são tão lendários como as noites de Paris, ensopadas em gim, que viriam mais tarde, mas eram muito mais produtivos — e, sem dúvida, mais generosos para o seu fígado. Ser forçado a seguir no rasto da rotina de outra pessoa pode ser irritante, mas mantém-nos mais facilmente no caminho.
E, claro, é disso que se fala quando se fala de rotina — um caminho que percorremos ao longo do dia. Quer esse caminho seja aberto por nós mesmos, quer sigamos o caminho definido pelos nossos constrangimentos, talvez o mais importante seja mesmo continuarmos a andar.

Sarah Green é editora adjunta sénior na Harvard Business Review.
“Percebi que alguém que está cansado e precisa de um descanso mas, mesmo assim, continua a trabalhar, é um tolo”, escreveu Carl Jung "
FONTE: www.dinheirovivo.PT

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