"Por: João de Sousa
19 de Setembro de 1941 … Roberto
Chichorro
Cresceu no campo e diz que tem o campo dentro
dele, razão pela qual fugiu da capital portuguesa para o sí0-
tio sossegado numa casa de arquitectura moderna do Vale
da Perra, uma aldeia entre Ourém e Fátima, onde agora
passa os dias a pintar e a contemplar a natureza.
Nasceu em Lourenço Marques, hoje Maputo. Foi
uma criança feliz com um passado vivido nos arredores da
cidade, na parte suburbana, por isso foi uma infância passada no meio das árvores, do campo e dos pássaros. Contrariamente ao que acontecia com os meninos daquele tempo,
só foi para a escola com 8 anos de idade.
Em miúdo era extremamente tímido. Não parece,
mas ainda é.
Jogou futebol nos juniores do Desportivo de Lourenço Marques. Chegou a defrontar Eusébio, que na época
jogava no Sporting. Depois duma pesada derrota por 5/0
num torneio realizado na Namaacha, ficou amigo daquele
que mais tarde viria a ser o “pantera negra”.
A PINTURA
Desde miúdo que pintava e desenhava. Um dos primeiros quadros que se lembra de ter pintado foi o da sua
mãe a lavar a roupa no tanque, debaixo da laranjeira do
quintal da sua casa. Dele fica esta história:
“Os meus pais tinham ido ao cinema, que era na cidade, e eu fiquei em casa, então arranjei um lençol velho e
prendi-o a quatro barrotezitos de madeira para fazer uma
tela. Pintei um cavalo no meio do campo, nunca mais me
esqueço, e pendurei o quadro na parede da sala. Quando o
meu pai chegou a casa olhou e disse: “Ó rapaz, tira já aquilo dali para fora e deixa lá essas manias”. Foi assim um
grande não”.
Começa a olhar mais a sério para a pintura quando
estava na tropa. Nessa altura o primeiro quadro que pintou
foi o de um miúdo que vendia jornais e pedia esmola. Foi
um quadro que Roberto Chichorro ofereceu a uma das suas
namoradas. Quando deixou o serviço militar expôs pela primeira vez no Núcleo de Arte de Lourenço Marques.
Em 1982, no decurso do Campeonato do Mundo de
Futebol a Espanha surge no seu horizonte. A doença do pai
faz adiar o sonho, que só se concretiza em 1986. Na capital
espanhola, onde permaneceu 3 anos, para além de pintar aprendeu a fazer gravura e cerâmica. A Itália, de forma muito passageira, faz parte do seu roteiro. Em Portugal, onde acabou por fixar residência, esta aventura dura há bastante
tempo.
Roberto Chichorro retrata “sempre as pessoas e
a vida das pessoas”. Muitos dizem que só pinta alegria,
mas ele diz que “se procurarem” há também um fundo de
tristeza.
É dele esta frase: “na vida temos de saber estar com
a nossa dimensão. A gente só deve ambicionar, sem causar
distúrbios nem a nós próprios nem a ninguém. Estica o teu
bracinho até onde ele chegar e arranca a laranja que te compete.”
Roberto Carneiro Alcáçovas de Sousa Chichorro,
meu vizinho nos bons tempos do bairro da Malhangalene,
nasceu no dia 19 de Setembro de 1941. Tem 78 anos de
idade.■
OBS: este artigo foi escrito tendo por base uma
entrevista que Roberto Chichorro concedeu ao jornal
português “Observador”.■"
FONTE: JORNAL O AUTARCA DE MOÇAMBIQUE
FONTE: JORNAL O AUTARCA DE MOÇAMBIQUE
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