sexta-feira, 7 de setembro de 2012

GODINHO DE MATOS, EMBAIXADOR DE PORTUGAL EM MOÇAMBIQUE MÁRIO GODINHO DE MATOS: "MOÇAMBIQUE OFERECE OPORTUNIDADES ENORMES"

"Embaixador de Portugal em Moçambique fala ao Dinheiro Vivo sobre o que atrai cada vez mais portugueses àquele país africano

Mário Godinho de Matos: "Moçambique oferece oportunidades enormes"

O embaixador, Mário Godinho de Matos
O embaixador, Mário Godinho de Matos
D.R.
04/09/2012 | 13:17 | Dinheiro Vivo
Depois dos números revelados por Pedro Reis, presidente da AICEP, que confirmam um aumento considerável das trocas comerciais entre Portugal e Moçambique, o embaixador português em Maputo, Mário Godinho de Matos, fala ao Dinheiro Vivo sobre o que faz com que o país africano esteja na moda. Leia aqui a entrevista de Pedro Reis, da AICEP
Têm ideia de quantos portugueses chegam diariamente ou mensalmente a Moçambique para viver? Ficam maioritariamente na capital, Maputo?Infelizmente não é possível ter uma ideia exata, ou mesmo aproximada. A perceção generalizada é que estão a chegar muitos portugueses, mas os números oficialmente conhecidos não o confirmam. Isto é, tem havido um aumento ligeiro do número de inscritos no Consulado-Geral, mas nada que se aproxime do que as pessoas afirmam e julgam conhecer. Do mesmo modo, de acordo com as últimas informações conhecidas, houve um aumento de pedidos de vistos na Embaixada de Moçambique em Lisboa, mas nada que confirme as especulações que se vão fazendo um pouco por todo o lado.
Por outro lado, deve ser reconhecido que a nova dinâmica económica de Moçambique, sobretudo com os chamados megaprojetos, requer uma quantidade significativa de quadros, técnicos, médios e superiores, nem sempre disponíveis neste País. Este facto, aliado à partilha comum da língua portuguesa, certamente cria oportunidades que os portugueses poderão estar bem posicionados para aproveitar.
Quais são os principais objetivos dos portugueses que decidem ir para Moçambique? Trabalhar nas empresas moçambicanas, portuguesas ou abrir o seu próprio negócio?É muito difícil ter um retrato fiel dos objetivos dos portugueses que veem para Moçambique com intenção de ficar, na medida em que apenas temos conhecimento daqueles que, por uma razão ou outra, decidem contactar os serviços da Embaixada. Entre estes últimos, que serão certamente uma pequena parte do total, encontra-se de tudo um pouco. Quero dizer que já fomos contactados por pessoas que vieram abrir os seus próprios negócios, outras que vieram trabalhar para empresas portuguesas ou moçambicanas e mesmo alguns que vieram apenas à procura de oportunidades. No entanto, ressalvo que o seu escasso número não permite um retrato fiel da situação real.
Na altura em que se realiza a FACIM, há um fluxo ainda maior: são 140 empresas portuguesas, o maior pavilhão da feira. Ainda há muitas oportunidades em Moçambique? Em que áreas?A presença de cerca de 140 empresas, entre as portuguesas e as de capitais mistos ou mesmo empresas moçambicanas de capitais portugueses, não permite concluir diretamente que há um fluxo maior de portugueses a procurarem Moçambique para trabalhar. O que sabemos, isso sim, é que essas empresas vem à procura de aumentar negócios, encontrar novas oportunidades ou mesmo estabelecer contactos para futuros investimentos e parcerias. Felizmente, o ritmo das trocas comerciais entre os dois países tem vindo a intensificar-se a ritmos muito elevados: no último ano, tanto as exportações como as importações cresceram a um ritmo anual de cerca de 44%. Já este ano, os dados do primeiro semestre apontam para um crescimento de 34%, o que é notável se tivermos em consideração que partimos do nível mais alto de sempre, alcançado em 2011.Evidentemente, todo este interesse, toda esta movimentação e a importância desta presença de empresas e seus representantes, confirmam aquilo que já sabíamos: Moçambique está numa dinâmica de crescimento muito positiva, mantendo-se em valores anuais de crescimento do PIB em torno da meta dos 8%. Há inclusive alguma expectativa de que esse valor possa subir, tendo em conta os enormes projetos de investimento anunciados, não apenas na área da exploração dos recursos minerais, como o carvão e o gás natural, mas também em outros sectores como a construção de infraestruturas, como caminho de ferro, estradas, redes elétricas, tratamento e fornecimento de águas, etc.Esta situação particularmente otimista que Moçambique vive, naturalmente que oferece oportunidades enormes para quem as puder aproveitar. Não apenas diretamente nos sectores envolvidos, como também numa multitude de áreas indiretamente ligadas, seja no fornecimento de bens, de equipamento e de consumo, seja no fornecimento de serviços.Convém não esquecer que Moçambique é ainda um país relativamente pouco desenvolvido, que parte de uma base carenciada para um crescimento que tem vindo a acelerar e que se espera que venha a aumentar. Isto significa que há enormes desafios que terá de vencer e que constituem enormes oportunidades. Por exemplo, nos sectores da logística ou dos estudos de impacte ambiental. Estes sectores, a par de outros mais bem conhecidos como a engenharia, são domínios onde a nossa sofisticação tecnológica, aliada à partilha da língua comum e à relativa escassez de quadros moçambicanos, oferecem interessantes vantagens comparativas que as nossas empresas poderão aproveitar. Creio mesmo que muitas se estão já a posicionar para o poderem fazer da melhor maneira.
Este fluxo é bom para Moçambique?Volto a insistir que não dispomos de dados oficiais que confirmem a existência de fluxos anormais de portugueses. Agora, na medida em que os portugueses que venham sejam portadores de competências técnicas e tecnológicas que faltem em Moçambique, especialmente quando estejam inseridos em projetos ou parcerias que acarretem transferência de “saber-fazer”, certamente que isso será muito benéfico para Moçambique, como tem sido no passado.Aliás, um dos aspetos dos investimentos portugueses que mais nos orgulha é o efeito que têm na criação de emprego. Na verdade, cada milhão de euros investido pelas empresas portuguesas cria, em média, 66 postos de trabalho, o que fica muito acima da média de investimentos de outras nacionalidades. Isso tem certamente a ver com a nossa capacidade de diálogo com a cultura e o modo de ser e trabalhar dos moçambicanos. Mas também representa uma vantagem comparativa que certamente continuará a beneficiar novos projetos de empresas e capitais portugueses. Tanto mais quando se sabe que a principal prioridade governativa da autoridades moçambicanas continua a ser o combate à pobreza, através, nomeadamente, da criação de emprego.
Leis como a que foi publicada recentemente, que impede os advogados não moçambicanos de exercer em escritórios de Direito, podem multiplicar-se e afastar os imigrantes?O facto de se tratar de uma decisão de uma organização corporativa, como é a Ordem dos Advogados, não nos permite concluir que as Autoridades moçambicanas estejam a pensar alterar as normas aplicáveis à contratação de estrangeiros. De um modo geral, embora haja exceções decorrentes de projetos de investimento em áreas específicas, esse limite ronda os 10% do pessoal de uma empresa. Daí que seja tão importante a capacidade de criação de emprego dos projetos de empresas ou capitais portugueses. Por outro lado, Portugal também tem vindo a alertar, até como resultado da nossa própria experiência, para a necessidade de encarar com flexibilidade estes limites, em sectores de forte componente tecnológica, sob pena de se inviabilizarem certos investimentos. Acresce que quando falamos de sectores com forte componente técnica ou tecnológica, estamos a falar de áreas em que não bastam os conhecimentos teóricos que se adquirem numa universidade, é necessário aprender a fazer para adquirir o “saber-fazer” que permite subsistir no mercado e ganhar vantagem competitiva. Esse é um processo que demora algum tempo. Estamos convictos que as Autoridades moçambicanas também estão alerta para estes factos e que saberão, oportunamente, tomar as medidas adequadas para favorecer a aceleração do seu crescimento económico.
Embaixador de Portugal em Moçambique está confiante no crescimento das relações bilaterais" Fonte:  www.dinheirovivo.pt

Sem comentários:

Enviar um comentário