segunda-feira, 6 de setembro de 2021
7 DE SETEMBRO DE 1974, EM TETE, EPISÓDIOS HISTÓRICOS RETRATADOS PELO MILITAR E DIPLOMATA DE REFERENCIA DA DIPLOMACIA MOCAMBICANA, LOPES TEMBE
7 DE SETEMBRO DE 1974, EM TETE, EPISÓDIOS HISTÓRICOS RETRATADOS PELO MILITAR E DIPLOMATA DE REFERENCIA DA DIPLOMACIA MOCAMICANA, LOPES TEMBE.
“DO 25 DE ABRIL DE 1974 AO ACORDO DE LUSAKA DE 7 DE SETEMBRO DE 1974
Através de noticiários internacionais, particularmente da BBC, e com a alteracao do programa da Rádio Clube de Mocambique, inteiramo-nos a respeito do golpe de estado militar em Portugal a 25 de Abril de 1974. A orientacao do comando superior da FRELIMO foi de mantermos vigilancia e não sermos levados pelos acontecimentos pois a nossa continuava.Em Tete comecamos a receber alguns engenheiros e técnicos de Cabora Bassa entre portugueses e um mocambicano, o Engenheiro Loforte.Na mesma altura iniciamos encontros secretos entre as nossas forcas e os militares do exército portugues, enquanto decorriam negociacoes com o governo militar portugues para o cessar – fogo que culminaram com o Acordo de 7 de Setembro de 1974 em Lusaka. Fui incumbido da missao de acompanhar aqueles técnicos de Cabora Bassa para Lusaka que se dirigiam para Nachingueia. Partimos no dia 7 de Setembro e, quando já era noite , próximo da ponte do rio Luangwa na zona fronteirica entre Mocambique, Zimbabwe e a Zambia, o nosso carro avariou e ficámos retidos toda a noite. Era costume escutar a rádio, tanto os programas da voz da FRELIMO como também de Lourenco Marques e uma estacao de rádio sul – africana ( RSA) em portugues , ingles e outras linguas africanas. Foi na RSA que ouvimos a noticia dos tumultos em Lourenco Marques. Os Camaradas que me acompanhavam, contraiados com as noticias que ouviam, sugeriam liquidar aqueles técnicos de Cabo Bassa ao que prontamente recusei e expliquei-lhes que aquilo não era politica da FRELIMO. Praticamente não dormi toda a noite pois receava que qualquer coisa pudesse acontecer àqueles homens.
Ao amanhecer fomos socorridos por um carro nosso vindo de Lusaka que levou aqueles homens e eu interrompi a viagem regressando para Kassuende.
Nas negociacoes de Lusaka encontrava –se o nosso comandante provincial José Moiane. Com a assinatura do Acordo de Lusaka deu – se o cessar – fogo e recebemos instrucoes da direccao da FRELIM, através do comandante José Moiane, para pararmos com as acoes militares e agruparmos todas as forcas guerrilheiras dos quatro sectores com os soldados portugueses no quartel militar do Fingoé. Porém as forcas guerrilheiras deviam manter-se em alerta. Dos quarteis os soldados seriam selecionados para seguirem para Lourenco Marques ( Maputo), Beira e Nampula onde se verificavam focos de instabilidade criados pelos colonos descontentes.
Quando chegou o helicóptero militar portugues à nossa base central de Kassuende, não havendo outro quadro superior, o comandante José Moiane sugeriu-me a missao de acompanhar o helicóptero que devia ir buscar os nossos guerrilheiros às bases em Fingoé. Já era final da tarde quando embarcámos de Kassuende. Ao descolarmos de helicóptero, senti-me muito mal e, no meio de soldados portugueses, fui invadido por sentimentos de medo e confusao, não percebendo o que se estava a passar comigo. Parecia que eu era prisioneiro dos portugueses. Porém ao desembarcarmos no quartel do Fingoé, encontrei os Camaradas Alberto Chipande, chefe-adjunto do Departamento da Defesa, e Sebastiao Mabote, Chefe Nacional das Operacoes afetado em Tete, e os guerrilheiros que vinham das várias bases da FRELIMO.Ao avistá-los senti-me aliviado do medo que me apoquentava. Como os guerrilheiros já se encontravam no quartel militar portugues, já não foi necessário prosseguir com a missao de ir às nossas bases.Assim, no dia seguinte o helicóptero levou-me de volta a Kassuende onde dei continuidade aos nossos trabalhos, enquanto iniciava a distribuicao dos nossos guerrilheiros e seu transporte através de cargueiros militares para diferentes pontos do pais.”
AUTOR: DA UDENAMO À FRELIMO E A DIPLOMACIA MOCAMBICANA LOPES TEMBE NDELANA, EDICAO MARIMBIQUE, MAPUTO, MARCO DE 2012, PÁGINAS 112 e 113.
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