quinta-feira, 11 de julho de 2019

ANTÓNIO GUTERRES, SECRETÁRIO GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS VEM A SOFALA


ANTÓNIO GUTERRES, SECRETÁRIO GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS VEM A  SOFALA



Falar de uma personagem tão importante como Guterres, acredito que é um grande atrevimento da minha parte. Vou ser atrevido, desculpem-me.

Convivi de forma mais próxima nos tempos idos de 1998, a quando da visita de António Guterres então Primeiro Ministro de Portugal e eu na altura Consul Geral Honorário de Moçambique no Porto e Zona Norte de Portugal e ele,  me convidou para integrar a comitiva da sua visita oficial a Moçambique. Claro que esta iniciativa teve o apoio do então Embaixador de Moçambique em Portugal,  Pedro Comissário.

O que mais me entusiasmou na visita de Guterres a Moçambique foi ter incluido no seu programa,  a visita oficial  à cidade da Beira, pois saindo da prática habitual dos governantes estrangeiros circunscreverem as suas deslocações a Moçambique, só a Maputo. Tal entusiasmo da minha parte,  fui tão extrovertido que membros da comitiva houve que me disseram “OH DR MACEDO PINTO, estamos muito curiosos de ir conhecer a sua Beira, pois está muito entusiasmado com a deslocação à Beira”. “O que se passará na Beira? O que tem a Beira? ”, diziam eles,  os outros membros da comitiva.

Momentos que se viveram na Beira durante a visita de António Guterres e a sua comitiva em Outubro de 1998, foi ele que anunciou aos presentes aqui na Beira e numa recepção nas instalações do Centro Recreativo  do Banco de Moçambique nas Palmeiras que José Saramago tinha ganho o Prémio Nobel da Literatura, o primeiro português a alcançar tal feito. Um episódio relatado na  REVISTA ESTANTE a propósito aqui transcrito, dada a sua relevância : Quinta-feira, 8 de outubro de 1998. No aeroporto de Frankfurt, ao final da manhã, um homem aguarda sozinho a hora de embarcar no avião que o conduzirá a Madrid e, posteriormente, à ilha espanhola de Lanzarote. Acaba de deixar a Feira do Livro local e está pronto para voltar a casa. Não lhe passa pela cabeça que está a ser procurado.

“Senhor José Saramago”, chama uma voz de mulher pelo altifalante na sala de embarque. O sobressalto leva a que uma hospedeira se aproxime: “É o senhor?” E continua: “É que está aqui uma jornalista que quer falar consigo. O senhor ganhou o prémio Nobel!”

As grandes novidades da vida chegam-nos muitas vezes nas ocasiões mais triviais. E é assim, sem protocolos ou formalidades, que José Saramago recebe a notícia de que é o primeiro escritor de língua portuguesa a vencer o prestigiante Nobel da Literatura. A Academia Sueca elogia-lhe as “parábolas portadoras de imaginação, compaixão e ironia” com que torna “constantemente compreensível uma realidade fugidia”.

Mas não é nisso que pensa. É em Pilar del Río, a mulher. Sente-se triste por não estar com ela naquele momento. E dá-se conta, como há de recordar depois, que “a alegria, se se está sozinho, é nada”.

....Enquanto caminha, resmunga para si próprio: “Tenho o Nobel, e o quê?”





“...Quinta-feira, 10 de dezembro de 1998. Num banquete de gala, em Estocolmo, José Saramago ergue-se para proferir um discurso. Os dois meses após o anúncio da conquista do Nobel foram um corrupio de entrevistas e declarações públicas.

“Tenho a consciência de que não nasci para isto”, revelou numa dessas ocasiões. “É assombroso porque, cada vez que acontece algo, neste caso o Nobel, pergunto-me se aquilo que fiz ao longo da vida deu para construir uma obra que chega a merecer o mais célebre prémio literário do mundo. Como é que isto me aconteceu a mim? Uma pergunta para a qual, honestamente, não tenho resposta.”

Como poderia não ser uma surpresa para o escritor português? “Nasci numa família de gente muito pobre, camponesa e analfabeta, numa casa onde não havia livros e em circunstâncias económicas que não me teriam permitido entrar na universidade”, disse noutra entrevista. “Nada prometia um prémio Nobel.” E, no entanto, ganhou-o.

Desde o primeiro momento, no aeroporto de Frankfurt, até subir ao pódio para receber o galardão, Saramago passou o tempo a garantir que este não haveria de o mudar enquanto homem e escritor.”

“...Ao discursar no banquete de gala, com os olhos do mundo postos nele, Saramago prova a verdade das suas palavras ao decidir falar a maior parte do tempo sobre o não cumprimento integral da Declaração Universal dos Direitos Humanos no mundo. Agradece, por fim, aos editores, tradutores e leitores. Termina com o elogio a todos os escritores portugueses e de língua portuguesa: “É por eles que as nossas literaturas existem. Eu sou apenas mais um que a eles se veio juntar. Disse que não nasci para isto, mas isto foi-me dado. Bem hajam, portanto.”

Amigos que estiveram neste encontro que recordo e já partiram,  como o caso do saudoso Xavier Anacleto Fernandes, então Director Geral da Pescamar.

António Guterres,  inauguraria uma empresa de produção fabril, de capitais portugueses, ainda nesta sua visita à Beira e acompanhado do seu proprietário o Comendador Fernando Pinho Teixeira aquilo que ainda é hoje uma uma empresa de referência por ter nos seus quadros mais de uma centena de trabalhadores moçambicanos e cerca de cinquenta por cento da sua produção ser exportada a partir da Beira para o mercado dos Paises vizinhos de Moçambique, a FERPINTA.

O Secretário Geral das Nações Unidas é um brilhante engenheiro de profissão que saiu do Instituto Superior Técnico de Lisboa com média de 19 Valores, onde foi também professor.Tendo sido ainda Alto Comissário para Os Refugiados, pessoa humanamente sensível, experiente em todo o tipo de adversidades que por vezes a natureza e/ou o homem,  nos trazem. É a pessoa duplamente certa para visitar Sofala no PÓS IDAI, atento ainda ao alto cargo que no momento desempenha. Durante a Conferência Internacional de Doadores ocorrida na Beira a 31 de Maio e 1 de Junho passado, na sua qualidade de Secretário Geral das Nações Unidas,  não deixou de nos enviar e estar presente,  através de uma mensagem em video conferência, carregada de humanismo e solidariedade pelo momento que ainda atravessamos.

Cá o esperamos Engenheiro António Guterres e Secretário Geral das Nações Unidas.

Augusto Macedo Pinto

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