domingo, 30 de julho de 2023

PROFESSOR DOUTOR E ENGENHEIRO JOAO SALOMAO, AUTOR: MOBILIDADE AUTOMOVEL E SINISTRALIDADE NO PAIS, MOCAMBIQUE.

Crónica Crónica MOBILIDADE AUTOMÓVEL E SINISTRALIDADE NO PAÍS July 29, 2023232 1 – Parque Automóvel Nacional O Parque Automóvel Nacional, conforme documentado nos Anuários Nacionais do Instituto Nacional de Estatística, disponíveis no seu portal, tem vindo a crescer significativamente desde 2006, primeiro ano para o qual se dispõe de dados, passando de 234 709 unidades, nesse ano, para 940 887 unidades, no final de 2021. Figura 1 – Parque Automóvel Nacional desde 2006 Tomando como referência o número de unidades existentes no final de 2006, observa-se na Figura 2, que o número duplica em 2012, quase triplica em 2016 e quadruplica em 2021. Assim, num espaço de 15 anos, o parque quadruplicou, significando um aumento de 234 709 unidades, a cada cinco anos, em média. Figura 2 – Ritmo de Crescimento do Parque Automóvel Nacional Tomando como Base o Valor Observado no Final de 2006 2 – Estradas Nacionais A extensão de estradas no País mantém-se praticamente inalterada, com uma distância total de 30 616 km em 2021, e somado 30 331 km em 2010. A extensão das estradas revestidas passou de 6 303 km em 2010 para 8 268 km em 2021, sendo o crescimento de 31 % ou 1 965 km o resultado de pavimentação de estradas antes não revestidas. Figura 3 – Extensão de Estradas Nacionais 3 – Acidentes de Viação Dispõe-se de registos do número de acidentes de viação a partir de 1979, sendo esta informação disponibilizada pela Polícia da República de Moçambique, com base na qual foi elaborada a Figura 4. Até 1982, há um crescimento do número de acidentes, observando-se um decréscimo desde esse ano, até 1984/1985. A partir de 1985, o número de acidentes cresce de forma acelerada até 1994. Passa a ter-se um decréscimo desde 1994 até 2000, mas volta a haver novo crescimento até 2004/2005, altura em que se inicia uma redução significativa até 2020. No ano seguinte, inverte-se a tendência, passando a haver um ligeiro crescimento. Figura 4 – Número de Acidentes de Viação a partir de 1979 A ilustrar as consequências dos acidentes de viação, a Figura 5 apresenta graficamente o número acumulado de vítimas, mostrando o número de mortos, o número de feridos graves e o número de feridos ligeiros. Figura 5 – Número de Vítimas de Acidentes de Viação Tentando compreender melhor a relação que possa existir entre um acidente e o número de vítimas associado, a Figura 6 apresenta o rácio entre o número de vítimas, sejam elas mortais ou feridos, e o número de acidentes de viação. Para melhor entendimento, o rácio calculado é multiplicado por 100, de modo a evitar ter de lidar com valores numéricos inferiores à unidade, passando efectivamente a traduzir o rácio por cada 100 acidentes. Por exemplo, em 1979, o rácio do número de mortos por acidente de viação é de 0.16 e ao multiplicar este rácio por 100, o rácio em causa passa a ser 16. São apresentadas três linhas quebradas: – o rácio entre o número de mortos e o número de acidentes; – o rácio entre o número de feridos graves e o número de acidentes; – o rácio entre o número de feridos ligeiros e o número de acidentes. Figura 6 – Rácio do Número de Vítimas de Acidentes de Viação Face ao Número de Acidentes de Viação Começando pela curva do rácio entre o número de mortos e o número de acidentes, este parece oscilar aleatoriamente, subindo e descendo, até 1988. De 1988 a 2001, observa-se um patamar em que o rácio é, em média, cerca de 18, ou seja, por cada 100 acidentes, há 18 mortos. A partir de 2002, há uma tendência de crescimento suave, até 2008, ano em que se passa a ter um crescimento mais acentuado que irá culminar com 107 mortos por cada 100 acidentes. Este último valor significa que, em cada acidente de viação no País, houve, em média, um morto. Como antes dito, entre 1988 e 2001, sendo o rácio médio 18, tal quer dizer que há 18 mortos, em média, em cada cem acidentes de viação. É esta correlação que se deve ter presente, ao olhar para a estatística dos acidentes de viação. Quanto ao número de feridos graves, a figura mostra, após uma fase inicial incaracterística de 1979 a 1989, o rácio do número de feridos graves, por cada 100 acidentes de viação, passa de 57 em 1989, para 62 em 2008. Passados 11 anos, o rácio de feridos graves por cada 100 acidentes de viação, passa de 62 em 2008 para 86 em 2019. Logo a seguir, em 2020, há uma queda acentuada, mas em 2021 volta a ter-se a tendência ascendente. De qualquer modo, não há razão que fundamente algum optimismo, na queda de 2020 para 2021, uma vez que tal pode ter sido unicamente devido às restrições de circulação durante a pandemia do coronavírus. E efectivamente, apesar de em 2021 ainda se estar em tempo de pandemia, a tendência de crescimento do rácio prevalece. Ao observar o número de feridos ligeiros, o rácio de feridos ligeiros por cada 100 acidentes de viação registou uma tendência decrescente de 1979 a 1991, passando de 76 feridos ligeiros por cada 100 acidentes, para 56. Em 1992 há um valor excepcionalmente baixo de 25 feridos por cada 100 acidentes, crescendo para um valor 54 em 1993 e mantendo-se com uma inclinação ascendente, inicialmente suave, mas depois mais acentuada, a partir de 2009 e até 2019, em que o rácio é 131. Em 2020, o rácio decresce, voltando, no entanto, a ser ascendente em 2021. A visualização do quadro existente no que toca a acidentes de viação e vítimas resultantes, faz-se melhor apresentando na mesma figura, o número de acidentes de viação e o rácio do número de vítimas mortais por cada 100 acidentes de viação. É o que está patente na Figura 7. Figura 7 – Número de Acidentes de Viação e Rácio do Número de Vítimas Mortais por cada 100 Acidentes de Viação Não há lugar a qualquer dúvida de que, contrariando a tendência decrescente acelerada de redução do número de acidentes de viação, inversamente, o rácio do número de vítimas mortais por cada 100 acidentes de viação é cada vez mais elevado. Dito de outra forma, apesar de o número de acidentes de viação ter baixado significativamente, os acidentes que continuam a ter lugar têm consequências mais nefastas, ou morre-se muito mais nos acidentes. Bibliografia http://www.ine.gov.mz/estatisticas/publicacoes/anuario/nacionais * O autor é Engenheiro Civil e Sanitário e foi professor na Universidade Eduardo Mondlane no Departamento de Engenharia Civil da Faculdade de Engenharia. RELATED ARTICLES CONSUMO DE ÁGUA NO GRANDE MAPUTO COM CHEIAS March 21, 2023 2 COMMENTS Maria July 30, 2023 At 9:01 am Muito interessante. É um problema para os ministérios: Transporte- vias e estado das viaturas; Interior – conduta dos automobilistas, peões, venda de produtos à beira da estrada; Saúde – saúde pública e custos de internamentos por traumas. O que fazer? Reply FA Souto July 30, 2023 At 10:01 am Obrigado. É a primeira vez que tomo conhecimento deste tipo de informação. Poderemos concluir que o crescimento acentuados de mortes por acidente decorre do aumento de casos envolvendo transportes coletivos? Reply LEAVE A REPLY Comment: Name:* Email:* Website: Save my name, email, and website in this browser for the next time I comment.

Sem comentários:

Enviar um comentário