"Para a Vale, a Ásia não é mais só a China, diz o presidente
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Em entrevista ao GLOBO, Murilo Ferreira afirma que companhia busca ampliar negócios com países como Indonésia, Vietnã e Taiwan
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RIO — Há pouco mais de um ano no cargo, Murilo Ferreira está feliz da vida com a concessão da licença prévia para o projeto de expansão do S11D, na Serra Sul de Carajás, que deve garantir à companhia um minério de ferro de qualidade ainda melhor, além de ser o maior investimento da história da Vale e o maior de uma empresa brasileira hoje, no total de R$ 40 bilhões. Ferreira revela ainda, em entrevista ao GLOBO, que a Vale pretende focar em um número menor de projetos de grandes volumes de recursos. Ele rejeita a tese de que há excesso de oferta de aço e revela que, apesar de ter a China como seu principal mercado, de onde vem um terço das receitas, a Vale já enxerga outras oportunidades na Ásia, em países com altas taxas de crescimento econômico.
O GLOBO: Os 750 milhões em bônus que acabam de ser emitidos já serão em parte para financiar o projeto da Serra Sul de Carajás?
MURILO FERREIRA: Esses recursos financiam os inúmeros projetos de capital da Vale. Temos Salobo (mina de cobre em Marabá, no Pará) e muitos outros projetos que estão terminando agora. Temos o projeto de Moçambique (Moatize II e Corredor Nacala), de porto e ferrovia, que são US$ 6,5 bilhões, e vão ficar para 2014, e o projeto de potássio Rio Colorado (na província de Mendoza, na Argentina), que demanda US$ 5,9 bilhões. Então, vamos focar num menor número de projetos, mas com valor unitário de investimento muito alto, como esse do S11D (Serra Sul de Carajás).
Qual o impacto das questões políticas em países como a Argentina e Moçambique para as decisões de investimentos da companhia?
FERREIRA: Em Moçambique, tivemos a aprovação da concessão pelo Conselho de Ministros, tanto da ferrovia quanto do porto. Só faltava essa instância. Não enxergamos instabilidade política em Moçambique, muito pelo contrário. Em Rio Colorado, estamos aguardando licenças ambientais da ferrovia e do porto, assim como o regulamento fiscal. Eu ainda não estava aqui, mas sei que algumas premissas estavam desalinhadas com o que foi aprovado pelo Conselho de Administração em 2010. Meu dever é tentar fazer uma reavaliação para submeter ao Conselho de Administração baseado nos fatos correntes. Não houve da minha parte qualquer avaliação sobre o evento político na Argentina.
O projeto de gás que vai abastecer Rio Colorado, Las Lajas, é uma joint-venture com a YPF. A reestatização da YPF não teve impacto na operação?
FERREIRA: Não notamos mudança. Foi-nos garantido, pelos contatos que tivemos, que o projeto está assegurado.
Na África, além de Moçambique, há a Guiné (onde vai ser construída a mina de ferro de Zogota e a usina de Simandou), que talvez seja mais preocupante. O governo da Guiné deve votar ainda este mês o Código de Mineração?
FERREIRA: Temos informação de que uma série de procedimentos legislativos foram adiados na Guiné, mas não temos confirmação das novas datas.
As exigências do governo da Guiné podem fazer com que a Vale se retire de lá pelo que está proposto?
FERREIRA: Nós temos que ver se o projeto ainda apresenta rentabilidade, quais são as premissas que vão levar o estudo de viabilidade a ser refeito.
Quando vai ser refeito?
FERREIRA: Quando estiver tudo certo com a parte legal. Nós nunca trabalhamos com a premissa de que eles teriam 51% do sistema logístico. Os royalties já existiam, mas passaram a ser indexados ao preço do aço. Há uma série de modificações das quais não tenho elementos suficientes para fazer um julgamento neste momento. Na hora em que tiver, vamos fazer a avaliação e eu vou retornar ao Conselho de Administração.
Ainda este ano?
FERREIRA: Eu esperava que fosse a partir de julho, mas já fui informado de que isso não ocorrerá.
Com o investimento no S11D, em Carajás, há expectativa de aumento na produção do minério de ferro da companhia. Mas hoje estamos vendo no mundo um excesso de oferta de aço. Isso não significa que a demanda pelo minério, matéria-prima do aço, pode cair? Como isso se reflete hoje nas perspectivas da Vale?
FERREIRA: Primeiro, eu queria definir o que é esse excesso de aço no mundo. A China tem crescido muito na produção de aço. Em 2010, produziu 619 milhões de toneladas, em 2011, 683 milhões de toneladas, e em 2012 tem estimativa de produzir 720 e 743 milhões de toneladas. A Coreia também tem crescido de forma importante. A Hyundai, que não produzia praticamente nada em 2005, está produzindo 8,4 milhões e, no ano que vem, estará acima de 12 milhões de toneladas. Essa sobreoferta não está toda ligada e tem custo alto. A produção de 1,5 bilhão de toneladas ou de capacidade instalada de 1,8 bilhão é menos disponível para transações transoceânicas do que o minério de ferro. Precisamos analisar isso geograficamente, sob o ponto de vista da competitividade. A Vale precisa das expansões na produção, especialmente do minério do Norte do Brasil, que é de altíssima qualidade.
O principal destino desta expansão em Carajás será o mercado asiático?
FERREIRA: Estava ocorrendo uma anomalia no mundo: os G-7 serem os principais consumidores de matéria-prima. Hoje, pelo menos dois terços da população mundial estão na Ásia. Estamos vendo um deslocamento (do consumo de minério) para países da Ásia. Sempre se fala muito de China e Índia, esquecendo que a Indonésia tem 250 milhões de pessoas. É um mercado que cresce 5% desde 2005, recuperou-se brilhantemente da crise de 1998. O Vietnã vem crescendo muito bem, a Tailândia também. Acho que isso pode acontecer também na América do Sul, liderado pelo Brasil, que vem tendo um crescimento bastante positivo.
Como a Vale trabalha com a hipótese de um freio na economia chinesa?
FERREIRA: Sempre vi previsões de catástrofes sobre a China. Chamo esse movimento de PCC: Pessoas Contra a China. Alguns segmentos na economia chinesa desaceleraram, mas nos últimos oito anos, a China cresceu em média 10,6%. Hoje vai crescer 8,5%, 8%, até 7,5% sobre uma base muito maior. As previsões, desde 1998, do próprio governo chinês sempre foram inferiores, a não ser 1998. Tenho recebido (muitas pessoas dizendo): “Há uma bolha de imóveis na China”. Essa “bolha” é uma oferta bem maior, em algumas cidades. O resto do país está demandando muitos imóveis. Vimos nos últimos dois meses grande reaquecimento na construção de ferrovias, que é intensiva em aço. O sistema de logística da China, construído há tão pouco tempo, já está dando sinais de fadiga. O que enxergamos com clareza é que a China está começando um processo de mudança de investimento em ativos fixos (como em infraestrutura) para consumo das pessoas. É exatamente o contrário do que vai acontecer no Brasil em breve. O consumo vai se estabilizar e haverá cada vez mais investimentos em ativos fixos. Não devemos (a Vale) nos limitar à China, como chamei a atenção anteriormente. Diversos países estão com crescimento importante.
Qual o percentual desses outros países asiáticos nas receitas da companhia?
FERREIRA: Não é muito grande ainda. Taiwan, por exemplo, é um mercado importante e nós já temos uma planta de níquel lá. O Vietnã ainda está uns quinze anos atrasado em relação ao consumo, na comparação com a China.
Vai haver um redirecionamento da companhia para esses outros países?
FERREIRA: O crescimento da Ásia veio para ficar. Brinquedos e têxteis, você não acha hoje mais na China. Já mudaram para outros países do Sudeste Asiático. Os chineses ficar com equipamentos mais pesados e produtos mais elaborados. Os outros países vão passar pelo mesmo processo que nos primeiros dez anos deste século a China passou. Isso é muito semelhante ao que aconteceu no Japão, muita coisa passou para a Coreia, depois para a China. Queremos participar desse processo.
Isso traz à tona a questão do transporte do minério e a competição com os australianos. A Vale está construindo centro de distribuição na Malásia para chegar a esses mercados. Os grandes navios, os Valemax, ficaram desinteressantes?
FERREIRA: A Vale entrou nesse negócio (de construir grandes navios para transporte de minério) porque o mercado de frete enfrentava volatilidade excessiva nos preços. Em 2008, o preço do minério de ferro chegou a US$ 200 (a tonelada) na China, sendo US$ 80 pelo minério e US$ 120 do frete. Hoje, o frete está entre US$ 20 e US$ 25, e o minério de ferro a US$ 135 na China. Então, passou-se a dar o devido valor a quem está produzindo. O Conselho de Administração tem aprovado a venda desses navios e a contratação de frete por longo prazo.
Quantos Valemax já foram vendidos?
FERREIRA: Vendemos quatro (dos 19 próprios) e levaremos ao Conselho um número importante em breve. A nossa orientação é pegar esses recursos e investir no negócio principal, desde que haja garantia do frete.
A licença prévia de Carajás é importante, mas a questão ambiental ainda tem um impacto grande nos projeto de crescimento da companhia?
FERREIRA: Eu queria louvar o trabalho do nosso comitê de meio ambiente, que tem diretores-executivos, diretores, gerentes, técnicos. Em um ano da minha gestão, ele tem apresentado resultados ótimos. Em janeiro deste ano tivemos a licença do N5-Sul (parte da mina N5, na Serra Norte de Carajás), a primeira licença lá nos últimos dez anos. A licença prévia da Serra Sul, S11D, é um fato histórico. Não gosto de ficar reclamando de governo, gosto de saber o que a gente pode fazer melhor.
E como vai o trabalho para melhorar o capital humano da empresa?
FERREIRA: Fizemos recentemente convênio com o CNPQ com bolsas para 12,5 mil pessoas em engenharia. Naquele processo muito doloroso que nós passamos na década de 80 e 90, na profissão de engenheiro muitos migraram para o mercado financeiro, as empresas contratavam poucos engenheiros, e os estudantes ficaram desestimulados. A maior parte dessas bolsas se destina a alunos no Norte do Brasil, especialmente Pará e Maranhão. Esse é um trabalho que eu quero ver prosperar. Quando eu fui presidente da Alunorte, talvez o maior legado do time de diretores e gerentes daquela época tenha sido conseguir que todos os empregados concluíssem o ensino médio.
Dos 136 mil trabalhadores, quantos não têm ensino médio?
FERREIRA: Perto de 40 mil pessoas, somando próprios e terceirizados. Se Deus permitir, que o nosso time consiga o mesmo, que seja a maior bênção da minha estada aqui na Vale.
O senhor já disse que a Vale não vai elevar sua participação na Companhia Siderúrgica do Atlântico (a CSA), mas os alemães da ThyssenKrupp querem se desfazer do negócio. A Vale pode abandonar esse projeto que está dando prejuízo bilionário, considerando que a própria Thyssen está encontrando dificuldades para a venda?
FERREIRA: O processo, na verdade, começou na semana passada quando o Morgan Stanley e o Goldman Sachs foram escolhidos para auxiliar a Thyssen na venda. Temos cerca de 27% (na CSA). Se vamos manter... é bem provável que sim. Não colocamos à venda nossa parte. Mas se alguém chegar e quiser ter 100% do capital, é outra coisa.
O que deu errado?
FERREIRA: A premissa deles era de dólar a R$ 2,50 e, quando terminaram, o dólar estava a R$ 1,67. Só aí, é uma grande diferença. Talvez tenha faltado um pouco de “tropicalização”, examinar as diferenças entre implantar um projeto na Europa e no Brasil. Mas isso é passado, e agora estamos avaliando o futuro.
Que impacto se espera do câmbio na dívida da companhia, que está subindo?
FERREIRA: No trimestre findo em 30 de junho, é natural que haja impacto porque a desvalorização foi muito forte. Daqui a pouco, vão dizer: “O lucro caiu”, e foi só a variação cambial. Nossa dívida e nossa receita são em dólar...
A Vale tem hoje disputas judiciais em relação ao pagamento de impostos sobre lucros de subsidiárias no exterior e cobranças por exploração mineral. São cerca de R$ 30 bilhões, mas só uma pequena parte está provisionada. A Vale reclama que tem de pagar em dinheiro. A Vale está sendo discriminada?
FERREIRA: Nós queremos discutir o mérito desse assunto. Por enquanto nós discutimos de que forma somos dispensados de fazer o depósito, ou se vamos fazer o depósito em dinheiro para poder discutir o mérito da questão.
O GLOBO: Os 750 milhões em bônus que acabam de ser emitidos já serão em parte para financiar o projeto da Serra Sul de Carajás?
MURILO FERREIRA: Esses recursos financiam os inúmeros projetos de capital da Vale. Temos Salobo (mina de cobre em Marabá, no Pará) e muitos outros projetos que estão terminando agora. Temos o projeto de Moçambique (Moatize II e Corredor Nacala), de porto e ferrovia, que são US$ 6,5 bilhões, e vão ficar para 2014, e o projeto de potássio Rio Colorado (na província de Mendoza, na Argentina), que demanda US$ 5,9 bilhões. Então, vamos focar num menor número de projetos, mas com valor unitário de investimento muito alto, como esse do S11D (Serra Sul de Carajás).
Qual o impacto das questões políticas em países como a Argentina e Moçambique para as decisões de investimentos da companhia?
FERREIRA: Em Moçambique, tivemos a aprovação da concessão pelo Conselho de Ministros, tanto da ferrovia quanto do porto. Só faltava essa instância. Não enxergamos instabilidade política em Moçambique, muito pelo contrário. Em Rio Colorado, estamos aguardando licenças ambientais da ferrovia e do porto, assim como o regulamento fiscal. Eu ainda não estava aqui, mas sei que algumas premissas estavam desalinhadas com o que foi aprovado pelo Conselho de Administração em 2010. Meu dever é tentar fazer uma reavaliação para submeter ao Conselho de Administração baseado nos fatos correntes. Não houve da minha parte qualquer avaliação sobre o evento político na Argentina.
O projeto de gás que vai abastecer Rio Colorado, Las Lajas, é uma joint-venture com a YPF. A reestatização da YPF não teve impacto na operação?
FERREIRA: Não notamos mudança. Foi-nos garantido, pelos contatos que tivemos, que o projeto está assegurado.
Na África, além de Moçambique, há a Guiné (onde vai ser construída a mina de ferro de Zogota e a usina de Simandou), que talvez seja mais preocupante. O governo da Guiné deve votar ainda este mês o Código de Mineração?
FERREIRA: Temos informação de que uma série de procedimentos legislativos foram adiados na Guiné, mas não temos confirmação das novas datas.
As exigências do governo da Guiné podem fazer com que a Vale se retire de lá pelo que está proposto?
FERREIRA: Nós temos que ver se o projeto ainda apresenta rentabilidade, quais são as premissas que vão levar o estudo de viabilidade a ser refeito.
Quando vai ser refeito?
FERREIRA: Quando estiver tudo certo com a parte legal. Nós nunca trabalhamos com a premissa de que eles teriam 51% do sistema logístico. Os royalties já existiam, mas passaram a ser indexados ao preço do aço. Há uma série de modificações das quais não tenho elementos suficientes para fazer um julgamento neste momento. Na hora em que tiver, vamos fazer a avaliação e eu vou retornar ao Conselho de Administração.
Ainda este ano?
FERREIRA: Eu esperava que fosse a partir de julho, mas já fui informado de que isso não ocorrerá.
Com o investimento no S11D, em Carajás, há expectativa de aumento na produção do minério de ferro da companhia. Mas hoje estamos vendo no mundo um excesso de oferta de aço. Isso não significa que a demanda pelo minério, matéria-prima do aço, pode cair? Como isso se reflete hoje nas perspectivas da Vale?
FERREIRA: Primeiro, eu queria definir o que é esse excesso de aço no mundo. A China tem crescido muito na produção de aço. Em 2010, produziu 619 milhões de toneladas, em 2011, 683 milhões de toneladas, e em 2012 tem estimativa de produzir 720 e 743 milhões de toneladas. A Coreia também tem crescido de forma importante. A Hyundai, que não produzia praticamente nada em 2005, está produzindo 8,4 milhões e, no ano que vem, estará acima de 12 milhões de toneladas. Essa sobreoferta não está toda ligada e tem custo alto. A produção de 1,5 bilhão de toneladas ou de capacidade instalada de 1,8 bilhão é menos disponível para transações transoceânicas do que o minério de ferro. Precisamos analisar isso geograficamente, sob o ponto de vista da competitividade. A Vale precisa das expansões na produção, especialmente do minério do Norte do Brasil, que é de altíssima qualidade.
O principal destino desta expansão em Carajás será o mercado asiático?
FERREIRA: Estava ocorrendo uma anomalia no mundo: os G-7 serem os principais consumidores de matéria-prima. Hoje, pelo menos dois terços da população mundial estão na Ásia. Estamos vendo um deslocamento (do consumo de minério) para países da Ásia. Sempre se fala muito de China e Índia, esquecendo que a Indonésia tem 250 milhões de pessoas. É um mercado que cresce 5% desde 2005, recuperou-se brilhantemente da crise de 1998. O Vietnã vem crescendo muito bem, a Tailândia também. Acho que isso pode acontecer também na América do Sul, liderado pelo Brasil, que vem tendo um crescimento bastante positivo.
Como a Vale trabalha com a hipótese de um freio na economia chinesa?
FERREIRA: Sempre vi previsões de catástrofes sobre a China. Chamo esse movimento de PCC: Pessoas Contra a China. Alguns segmentos na economia chinesa desaceleraram, mas nos últimos oito anos, a China cresceu em média 10,6%. Hoje vai crescer 8,5%, 8%, até 7,5% sobre uma base muito maior. As previsões, desde 1998, do próprio governo chinês sempre foram inferiores, a não ser 1998. Tenho recebido (muitas pessoas dizendo): “Há uma bolha de imóveis na China”. Essa “bolha” é uma oferta bem maior, em algumas cidades. O resto do país está demandando muitos imóveis. Vimos nos últimos dois meses grande reaquecimento na construção de ferrovias, que é intensiva em aço. O sistema de logística da China, construído há tão pouco tempo, já está dando sinais de fadiga. O que enxergamos com clareza é que a China está começando um processo de mudança de investimento em ativos fixos (como em infraestrutura) para consumo das pessoas. É exatamente o contrário do que vai acontecer no Brasil em breve. O consumo vai se estabilizar e haverá cada vez mais investimentos em ativos fixos. Não devemos (a Vale) nos limitar à China, como chamei a atenção anteriormente. Diversos países estão com crescimento importante.
Qual o percentual desses outros países asiáticos nas receitas da companhia?
FERREIRA: Não é muito grande ainda. Taiwan, por exemplo, é um mercado importante e nós já temos uma planta de níquel lá. O Vietnã ainda está uns quinze anos atrasado em relação ao consumo, na comparação com a China.
Vai haver um redirecionamento da companhia para esses outros países?
FERREIRA: O crescimento da Ásia veio para ficar. Brinquedos e têxteis, você não acha hoje mais na China. Já mudaram para outros países do Sudeste Asiático. Os chineses ficar com equipamentos mais pesados e produtos mais elaborados. Os outros países vão passar pelo mesmo processo que nos primeiros dez anos deste século a China passou. Isso é muito semelhante ao que aconteceu no Japão, muita coisa passou para a Coreia, depois para a China. Queremos participar desse processo.
Isso traz à tona a questão do transporte do minério e a competição com os australianos. A Vale está construindo centro de distribuição na Malásia para chegar a esses mercados. Os grandes navios, os Valemax, ficaram desinteressantes?
FERREIRA: A Vale entrou nesse negócio (de construir grandes navios para transporte de minério) porque o mercado de frete enfrentava volatilidade excessiva nos preços. Em 2008, o preço do minério de ferro chegou a US$ 200 (a tonelada) na China, sendo US$ 80 pelo minério e US$ 120 do frete. Hoje, o frete está entre US$ 20 e US$ 25, e o minério de ferro a US$ 135 na China. Então, passou-se a dar o devido valor a quem está produzindo. O Conselho de Administração tem aprovado a venda desses navios e a contratação de frete por longo prazo.
Quantos Valemax já foram vendidos?
FERREIRA: Vendemos quatro (dos 19 próprios) e levaremos ao Conselho um número importante em breve. A nossa orientação é pegar esses recursos e investir no negócio principal, desde que haja garantia do frete.
A licença prévia de Carajás é importante, mas a questão ambiental ainda tem um impacto grande nos projeto de crescimento da companhia?
FERREIRA: Eu queria louvar o trabalho do nosso comitê de meio ambiente, que tem diretores-executivos, diretores, gerentes, técnicos. Em um ano da minha gestão, ele tem apresentado resultados ótimos. Em janeiro deste ano tivemos a licença do N5-Sul (parte da mina N5, na Serra Norte de Carajás), a primeira licença lá nos últimos dez anos. A licença prévia da Serra Sul, S11D, é um fato histórico. Não gosto de ficar reclamando de governo, gosto de saber o que a gente pode fazer melhor.
E como vai o trabalho para melhorar o capital humano da empresa?
FERREIRA: Fizemos recentemente convênio com o CNPQ com bolsas para 12,5 mil pessoas em engenharia. Naquele processo muito doloroso que nós passamos na década de 80 e 90, na profissão de engenheiro muitos migraram para o mercado financeiro, as empresas contratavam poucos engenheiros, e os estudantes ficaram desestimulados. A maior parte dessas bolsas se destina a alunos no Norte do Brasil, especialmente Pará e Maranhão. Esse é um trabalho que eu quero ver prosperar. Quando eu fui presidente da Alunorte, talvez o maior legado do time de diretores e gerentes daquela época tenha sido conseguir que todos os empregados concluíssem o ensino médio.
Dos 136 mil trabalhadores, quantos não têm ensino médio?
FERREIRA: Perto de 40 mil pessoas, somando próprios e terceirizados. Se Deus permitir, que o nosso time consiga o mesmo, que seja a maior bênção da minha estada aqui na Vale.
O senhor já disse que a Vale não vai elevar sua participação na Companhia Siderúrgica do Atlântico (a CSA), mas os alemães da ThyssenKrupp querem se desfazer do negócio. A Vale pode abandonar esse projeto que está dando prejuízo bilionário, considerando que a própria Thyssen está encontrando dificuldades para a venda?
FERREIRA: O processo, na verdade, começou na semana passada quando o Morgan Stanley e o Goldman Sachs foram escolhidos para auxiliar a Thyssen na venda. Temos cerca de 27% (na CSA). Se vamos manter... é bem provável que sim. Não colocamos à venda nossa parte. Mas se alguém chegar e quiser ter 100% do capital, é outra coisa.
O que deu errado?
FERREIRA: A premissa deles era de dólar a R$ 2,50 e, quando terminaram, o dólar estava a R$ 1,67. Só aí, é uma grande diferença. Talvez tenha faltado um pouco de “tropicalização”, examinar as diferenças entre implantar um projeto na Europa e no Brasil. Mas isso é passado, e agora estamos avaliando o futuro.
Que impacto se espera do câmbio na dívida da companhia, que está subindo?
FERREIRA: No trimestre findo em 30 de junho, é natural que haja impacto porque a desvalorização foi muito forte. Daqui a pouco, vão dizer: “O lucro caiu”, e foi só a variação cambial. Nossa dívida e nossa receita são em dólar...
A Vale tem hoje disputas judiciais em relação ao pagamento de impostos sobre lucros de subsidiárias no exterior e cobranças por exploração mineral. São cerca de R$ 30 bilhões, mas só uma pequena parte está provisionada. A Vale reclama que tem de pagar em dinheiro. A Vale está sendo discriminada?
FERREIRA: Nós queremos discutir o mérito desse assunto. Por enquanto nós discutimos de que forma somos dispensados de fazer o depósito, ou se vamos fazer o depósito em dinheiro para poder discutir o mérito da questão.
© 1996 - 2012. Todos direitos reservados a Infoglobo Comunicação e Participações S.A. Este material não pode ser publicado, transmitido por broadcast, reescrito ou redistribuído sem autorização." Fonte NEWS BRIEF.
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