sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

BEIRA MOÇAMBIQUE HÁ 46 ANOS OS TUMULTOS DOS COLONOS JUNTO À MESSE DE OFICIAIS NO MACÚTI CONTRIBUI DECISIVAMENTE PARA O 25 DE ABRIL DE 1974 EM PORTUGAL E O CAMINHO DA LIBERDADE PORTUGUESA.

"Visita de Marcelo Rebelo resgata a importância da Beira na viragem da página da História de Portugal - A visita coincide menos de 24 horas de se assinalar os acontecimentos da cidade da Beira que vieram a ser determinantes na viragem da página da História de Portugal, do seu regime político e, consequentemente, abriram caminho à descolonização Beira (O Autarca) – Marcelo Rebelo, Presidente de Portugal, realiza esta tarde uma visita histórica à cidade da Beira. É uma visita de apenas oito horas que inicia ao meio dia com a sua chegada ao Aeroporto Internacional da Beira (AIB) e termina as 08h00 da noite, com a partida do AIB de regresso a capital moçambicana, Maputo. Apesar de ser pouco tempo, é uma visita carregada de enorme simbolismo. Marcelo Rebelo é o vigésimo Presidente de Portugal e não há memória sobre outro estadista português alguma vez ter visitado a cidade da Beira, apesar da importância histórica que a urbe tem em relação a Portugal. Curiosamente, a visita tem lugar menos de 24 horas de se assinalar os acontecimentos da cidade da Beira (17 de Janeiro de 1974) que vieram a ser determinantes na viragem da página da História de Portugal, do seu regime político e, consequentemente, abriram caminho à descolonização. Sobre a viragem da página da História de Portugal, comumente refere-se mais ao 25 de Abril, que recorda a Revolução de 25 de Abril de 1974, também conhecida como a Revolução dos Cravos, nas ruas de Lisboa, capital de Portugal, que abriu caminho para a descolonização das antigas colónias portuguesas que acabaram acedendo suas independências no ano seguinte Frase: Um povo que não conhece a sua história está condenado a repeti-la – Edmund Burke (Pensador) O Autarca – Jornal Independente, Quinta-feira – 16/01/20, Edição nº 3835 – Página 02/05 Continuado da Pág. 01 (1975), incluindo Moçambique. Mas, sobre este acontecimento existem várias narrativas de factos antecedentes, sendo que os da Beira – um porto índico estratégico e importante terminal de caminho-de-ferro, são referidos com alguma insistência como tendo sido fortemente determinantes para a concretização do golpe em Portugal. A revolta da Beira em relação ao regime colonial português remonta desde da década 60, com o vigor de D. Sebastião Soares de Resende, Bispo da Beira, que teve uma acção determinante na denúncia das más condições de vida e da exploração laboral que atingia a população indígena. Antes da sua morte, em Janeiro de 1967, na sequência de um cancro, pela sua postura crítica ao colonialismo português foi acusado pelo regime de ser comunista. No momento da sua agonia, apesar de acompanhado por médicos em Lisboa, quis voltar a Moçambique para ser sepultado na Beira, junto da população que o amava e sempre a defendeu – segundo lembrou o jornalista António Marujo num artigo sobre a vida do fundador do Jornal Diário de Moçambique, posteriormente estatalizado e hoje adquirido por um grupo misto de empresários liderado pela família Sidat. No início da década 70 a Beira volta a estar em ebolição. Luiz Carvalho no seu texto “Mário Tomé e Aniceto Afonso, no pátio do Museu Militar”, escreve que na memória de todos estão bem vivos os incidentes de 1972, em torno do caso dos padres do Macúti. Ou seja: a denúncia, a partir do púlpito daquela paróquia, dos crimes cometidos por militares contra populações negras, o que valeu a prisão e expulsão de dois sacerdotes católicos. Segundo o autor, em Janeiro de 1974, porém, a situação torna-se explosiva. O detonador é uma emboscada efectuada, no dia 14, pela Frelimo nos arredores de Vila Manica, uma zona nunca fustigada. Entre as vítimas figura a mulher de um fazendeiro branco. A população das cidades, que sempre se sentira imune à guerra, fica em estado de choque. Sente-se desprotegida e abandonada pela tropa, que é vivamente criticada. Um detalhado relatório do movimento dos capitães da Beira dá conta dos acontecimentos subsequenttes. Assim, a 16 de Janeiro, verifica-se uma manifestação em Vila Pery (actual cidade de Chimoio que dista a menos de 200 quilómetros da cidade da Beira). Em reunião com membros do Governo e chefias militares, elementos civis afirmam «que prescindiam da presença do Exército» e reivindicam «o fornecimento de armamento e meios de comunicação» para a sua autodefesa. Os protestos alastram à Beira. No dia seguinte, 17 de Janeiro de 1974, e por iniciativa da Associação Comercial da Beira, os comerciantes fazem uma greve geral. Ao mesmo tempo, uma multidão de brancos concentra-se em frente do edifício do Governo, reclamando apoio «na repressão ao terrorismo» e a satisfação das «reivindicações apresentadas pela população» de Vila Pery. A messe dos oficiais é o alvo privilegiado da ira popular. Perante a passividade das forças policiais, os militares são vaiados e insultados e a messe apedrejada. A Polícia Militar intervém à bastonada. Ouvem-se tiros de ambos os lados. Oito civis recebem tratamento hospitalar, enquanto um capitão parte uma clavícula. No dia seguinte, 18, aterram na Beira o comandante-chefe de Moçambique, general Basto Machado, bem como o chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, general Costa Gomes, ido propositadamente de Lisboa. Machado é insultado por uma multidão enfurecida. Há reencontros com a PSP, enquanto novos edifícios militares são apedrejados. Os incidentes repetem-se no dia seguinte, com a PSP a efectuar várias prisões; uma multidão concentra-se em frente do comando e obriga à libertação dos detidos. Portanto, esses são alguns eventos importantes que antecederam a Revolução de 25 de Abril, e que colocam a Beira no centro de toda atenção para que acontecesse o golpe em Portugal e as antigas colónias acedessem a independência que não tardou a acontecer. Motivo mais que suficiente sublinhar que a visita de Marcelo Rebelo resgata a importância da Beira na viragem da página da História de Portugal; e sugerimos leitura ao artigo a seguir (reedição) de autoria do Dr. Augusto Macedo Pinto, Advogado■ (Chabane Falume)"
FONTE: JORNAL O AUTARCA DE MOÇAMBIQUE

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