MELHORAR a qualidade de formação dos professores e garantir que estejam nas salas de aulas, responsabilizar as lideranças das escolas e envolver mais os pais constituem as principais sugestões do 2º Encontro de Reflexão sobre Educação e Desenvolvimento Humano em Moçambique, que ontem juntou cerca de 50 mulheres que contribuíram para o sector nos últimos 40 anos.
Entre as figuras de destaque esteve Graça Machel, na qualidade de antiga ministra da Educação – ela foi a segunda após Gideon Ndobe – e Luísa Diogo, ex-primeira-ministra.
Intervindo no mesmo painel com a ex-primeira-ministra e quatro professoras de carreira, Graça Machel apontou a baixa qualidade da formação dos professores como o actual elo mais fraco do sector, destacando que felizmente hoje se reconhece que os pacotes 10ª classe mais 1 ou 10ª + 2 não trouxeram resultados animadores para a Educação. Nesse sentido, advogou a reestruturação da preparação dos docentes pois “enquanto tivermos professores mal formados sempre teremos problemas sérios na Educação”.
Entre as melhorias a introduzir, a também presidente da Fundação para o Desenvolvimento da Comunidade (FDC) apontou a questão da língua portuguesa, da matemática e das ciências naturais. “Como podem ensinar a ler e a escrever se eles próprios lêem e escrevem mal”, questionou.
Exortou as instituições de pesquisa para que estudem, sem preconceitos tribais, as dinâmicas socioculturais do norte do país para que se percebam as razões do que ela designou de “ciclo de insucesso das políticas em prol da educação”, uma vez que é na parte do país onde se registam os maiores desníveis de género tanto no acesso como na manutenção da rapariga na escola.
Por sua vez, Luísa Diogo exortou o Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano para que ao reestruturar o sector não se percam os ganhos já alcançados ao longo dos 40 anos de independência do país. Reconheceu a necessidade de mudança dos formatos de formação de professores, mas defende que elas devem ser implementadas mantendo o ritmo de crescimento.
Entre as alternativas, aponta a formação de docentes em exercício no local de trabalho e o progresso dos actuais cursos enquanto se perspectivam as alterações, advertindo que “se pararmos para melhorar, voltaremos aos níveis de 1975”.
Rachel Melànie, professora de formação, defendeu que independentemente de não saber ler, nem escrever toda a mãe deve criar condições para que os filhos cheguem à escola e no regresso a casa tenham um ambiente e tempo de rever as matérias.
“Não é pelo facto de ela não saber ler nem escrever que a mãe vai se alhear de acompanhar o filho. Deve diariamente ver o que o menor escrever na escola pois se não vigiar a criança vai desleixar-se”, disse.
A percepção das dinâmicas da sala de aulas, a correcção da forma como o aluno é tratado e o desenvolvimento de empatia entre o educando e o professor foram as contribuições de Eulália Maximiliano, outra docente de profissão.
Maria de Fátima, outra mulher que deu a vida pela Educação, defendeu a necessidade de se respeitar o professor para depois exigir-lhe responsabilidades, explicando que aquelas figuras precisam de apoio de todos para lidar com turmas numerosas, falta de recursos e desleixo dos pais dos educandos.
A sexta oradora, Elisabeth Sequeira disse que o professor é fundamental, mas apenas se estiver na sala de aulas pois na sua ausência o processo de ensino não ocorre, pelo que os elevados índices de absentismo que um estudo apresentado na abertura do encontro devem ser alterados.
No seu discurso de abertura, Jorge Ferrão, ministro da Educação e Desenvolvimento Humano, disse que ter se decidido convidar aquelas mulheres que deram a sua vida ao sector como forma de recolher a sua importância na melhoria do ensino que se pretende solidário, inclusivo e alinhado com os desafios do país.
Apontou que as recentes pesquisas apontam que os melhores resultados pedagógicos registam-se em escolas geridas por mulheres e em turmas entregues à professoras.
José Chissano"
FONTE: JORNAL NOTICIAS DE MOÇAMBIQUE
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