"Desconfiem dos mercados, diz o Papa Bento XVI no Benin . (Presidente do Benin, Thomas Yayi Boni (E), cumprimenta papa Bento 16 na sua chegada a Cotonou/Foto AFP)Na sua segunda viagem à África como líder da Igreja Católica, o papa Bento XVI pediu esta sexta-feira que os países africanos resistam à tentação de se render às forças do mercado à medida que eles crescem e se modernizam. O papa chegou à maior cidade de Benin, na África Ocidental, no início de uma viagem de três dias cujo ponto alto será a publicação de um documento papal sobre a África escrito após um sínodo de bispos africanos no Vaticano em 2009. Benin também é considerado o berço do chamado “Vodu” em África e o papa deve encontrar-se com os líderes das religiões tradicionais hoje, sábado. No seu discurso de chegada, o papa falou sobre a necessidade de os países africanos se modernizarem, mas afirmou que isso não deve acontecer a qualquer custo. Entre as "armadilhas", ele afirmou que os países africanos devem evitar a "rendição incondicional às leis do mercado e das finanças". Ironicamente, o novo primeiro-ministro italiano, Mario Monti, foi até o aeroporto de Roma despedir-se do papa. O governo do primeiro-ministro Monti tem a tarefa de introduzir reformas econômicas para salvar a Itália - e possivelmente a Europa - da ruína financeira por causa da instabilidade dos mercados financeiros. Bento XVI pediu que as nações que evitem os possíveis efeitos "destrutivos" das forças do mercado, assim como o tribalismo, as tensões inter-religiosas e a erosão dos valores humanos, culturais, éticos, familiares e religiosos. "A transição para a modernidade precisa ser guiada por critérios seguros baseados em valores reconhecidos", afirmou ele, acrescentando que esses são "a dignidade da pessoa humana, a importância da família e o respeito à vida". Falando a jornalistas que estavam a bordo do avião que o trouxe para o continente africano, o papa também falou sobre algumas das principais questões que afectam o continente e a Igreja Católica na região. Ele afirmou que o mundo deveria perguntar por que boa parte do continente ainda estava tão necessitada após tantas tentativas internacionais de ajudar a África. Preocupação pelo auge das igrejas evangélicas na América Latina e ÁfricaDurante os três dias no Benin, Bento 16 - guia de 1,181 bilhão de católicos no mundo - permanecerá duas noites na capital. O único deslocamento previsto será uma viagem de ida e volta neste sábado para a cidade litorânea de Ouidah, a 40 km a oeste da capital, onde há um museu de um culto animista, o vodu. Na cidade, celebra missa no grande estádio local.Embora o número de católicos em Benin cresça rapidamente, 40% da população de 9 milhões segue o vodu, que foi levado por escravos ao Caribe. Cerca de 27% descrevem-se como cristãos, enquanto 22% dizem ser muçulmanos, mas estima-se que muitas dessas pessoas combinem as práticas do vodu com de outras religiões. Durante o voo para este país africano, o papa expressou a sua preocupação pelo auge das igrejas evangélicas na América Latina e África. Em conversa com jornalistas, ele afirmou que, perante esse desafio, a Igreja Católica tem de oferecer uma mensagem simples, profunda e compreensível.O papa afirmou que as igrejas evangélicas crescem porque expõem uma mensagem aparentemente compreensiva e uma liturgia participativa que, na realidade, consiste no "sincretismo de religiões".África e Sida. Esta é a 22ª viagem do papa Bento 16 nos seus seis anos de pontificado. Também é a segunda vez que o papa visita a África, onde já esteve em 2009, quando viajou para os Camarões e Angola e causou protestos mundiais quando sugeriu que a distribuição de preservativos agravou o problema da Sida.Desde então, o pontífice parece ter suavizado essa postura, afirmando num livro, publicado no ano passado, que o uso do preservativo é aceitável “em alguns casos”, principalmente para reduzir o risco de infecções por HIV.Não é de hoje que os católicos africanos se veem divididos entre a doutrina da Igreja e a realidade de uma doença mortal, que castiga milhões. É na África subsaariana que estão concentrados quase 70% dos casos de HIV no mundo."O que o papa disse é o ideal", explicou Lea Glago, jornalista e católica de 28 anos de Benin, referindo-se aos comentários feitos em 2009. "Mas, para ser honesta com você, não respeito isso e acho difícil respeitar. Não conheço ninguém ao meu redor que o faça", acrescentou.Organizações católicas de caridade são responsáveis por oferecer grande parte dos cuidados para as vítimas da Sida na África subsaariana, onde vivem 22 milhões de soropositivos. O pragmatismo às vezes tem precedência sobre a análise do significado dos pronunciamentos do Vaticano.No pequeno reino da Swazilândia, na África Austral, país com a pior taxa de prevalência de HIV, com cerca de 26% da população adulta soropositiva, alguns missionários católicos dizem preferir se concentrar em salvar vidas."Como um homem da Igreja, grande parte do que é feito não é oração. É uma resposta à crise", explicou o padre Martin McCormick, missionário e fundador da Hope House (Casa da Esperança), um abrigo para pacientes com Sida e seus familiares.McCormick também supervisiona 60 escolas católicas, onde os 8 mil estudantes são órfãos da Sida. "Se você tem 8 mil crianças famintas, não se volta para o Vaticano. Pensa em dar uma 'resposta humana' ao que vê à sua frente. Não penso em políticas ou filosofias", afirmou.Ainda na Swazilândia, a irmã Diane Dalle Molle, uma freira católica que há oito anos aconselha e examina pessoas para detecção do HIV, afirmou: "Podemos dizer-lhe o que está disponível lá fora. Não fornecemos preservativos, mas eles sabem onde consegui-los", explicou.Alguns, no entanto, decidem se ater ao dogma. Gift Mambipiri, líder do movimento estudantil católico do Zimbabwe, afirmou que "a Igreja trata da vida e de salvar vidas. A abordagem holística prega abstinência e fidelidade total".Na Nigéria, o país mais populoso da África, o director da agência nacional anti-sida, chamou a postura da Igreja Católica com relação aos preservativos de "irrealista". "Na realidade, muitos compreendem (o uso do preservativo), mas não querem ir contra a doutrina", explicou John Idoko, director da agência nigeriana de controle contra a Sida.Ele disse que no ano passado um grupo de católicos "fanáticos" levou a sua agência, o Ministério da Saúde e uma agência de controle de drogas à Justiça por promover o uso de preservativos, alegando que distribuíam camisinhas com buracos e incentivavam a disseminação do HIV. O caso foi arquivado depois que os pleiteantes fracassaram em provar as suas alegações.Na África do Sul, país com o maior número de casos de HIV do mundo, a Igreja Católica e suas clínicas, abrigos, programas de cuidados domésticos e orfanatos viram-se na linha da frente do combate à Sida.No gabinete da Conferência dos Bispos Católicos Sul-africanos, a irmã Victoria explicou que o Programa de Educação para a Vida se baseia na promoção da abstinência. "Não somos permitidos a ensinar sobre os preservativos", afirmou. "Sexo é para o casamento. Tentamos encorajar a abstinência. Enfrentamos a realidade, mas precisamos dizer a verdade", afirmou." Fonte Rádio Moçambique
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