Porque nunca esquecerei o 25 de abril de 1974? Porque me trouxe a liberdade que antes nunca havia conhecido, acabou com a PIDE, abriu caminho à descolonização e o fim da guerra colonial e muito mais. Os objectivos do MOVIMENTO DAS FORÇAS ARMADAS, ainda não foram todos atingidos? O caminho faz-se caminhando, os essenciais foram, o meu muito obrigado a todos os militares de ABRIL!
Eis abaixo um antigo meu texto sobre a origem da efeméride. A opinião é de quatro correntes diferentes que eu subscrevo.
A BEIRA E O 25 DE
ABRIL
Amanhã, 17 de Janeiro de 2004, decorrem trinta anos sobre os acontecimentos da cidade da Beira, Moçambique que vieram a ser determinantes na viragem da página da História de Portugal, do seu regime político e, consequentemente, abrir caminho à descolonização. Como adiante se verá em quatro versões de autores e perspectivas diferentes, unânimes são, no entanto, quanto aos efeitos dos tumultos na cidade da Beira.
Por coincidência, encontrava-me nesse dia na Beira, ainda como alferes miliciano, a prestar serviço militar em Tete. Tínhamos combinado um jantar familiar num dos restaurantes chineses, onde estaria o meu primo por afinidade, o então comandante da 5ª Companhia de Comandos, capitão Luciano de Jesus Garcia Lopes, hoje oficial-general das Forças Armadas, daí a razão da minha presença, pois só terminaria o serviço militar a 15 de Fevereiro. A minha família estava de regresso a Portugal no avião dos TAM (Transportes Aéreos Militares), voo esse que acabaria por trazer também de regresso o general Costa Gomes, Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas que se tinha deslocado à Beira por razão daqueles conflitos. Claro que o jantar não se realizou.
Amanhã, 17 de Janeiro de 2004, decorrem trinta anos sobre os acontecimentos da cidade da Beira, Moçambique que vieram a ser determinantes na viragem da página da História de Portugal, do seu regime político e, consequentemente, abrir caminho à descolonização. Como adiante se verá em quatro versões de autores e perspectivas diferentes, unânimes são, no entanto, quanto aos efeitos dos tumultos na cidade da Beira.
Por coincidência, encontrava-me nesse dia na Beira, ainda como alferes miliciano, a prestar serviço militar em Tete. Tínhamos combinado um jantar familiar num dos restaurantes chineses, onde estaria o meu primo por afinidade, o então comandante da 5ª Companhia de Comandos, capitão Luciano de Jesus Garcia Lopes, hoje oficial-general das Forças Armadas, daí a razão da minha presença, pois só terminaria o serviço militar a 15 de Fevereiro. A minha família estava de regresso a Portugal no avião dos TAM (Transportes Aéreos Militares), voo esse que acabaria por trazer também de regresso o general Costa Gomes, Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas que se tinha deslocado à Beira por razão daqueles conflitos. Claro que o jantar não se realizou.
O
então Capitão Garcia Lopes encontrava-se de férias com a família na messe de
Oficiais da Beira, no Macúti. Sendo um oficial exemplar, sempre em operações no
mato, segundo então me contou, ficou chocadíssimo, perplexo e incrédulo com os
insultos ouvidos à sua pátria, à sua farda e à sua família efectuados por um
milhar de pessoas que se juntaram, durante o fim da tarde e início da noite,
junto da messe de Oficiais. A Policia de Segurança Pública foi impotente no
sentido de evitar o apedrejamento aos militares e ao seu edifício, originando
uma lesão com maior gravidade ao Capitão Garcia Lopes com a fractura da
clavícula direita. Os cuidados médicos, pessoalmente pouco amistosos no
hospital da Beira, tiveram de ser continuados ainda na então Lourenço Marques e
posteriormente em Lisboa. As manifestações das referidas pessoas prolongaram-se
durante a noite, só tendo terminado cerca da uma da manhã, com a intervenção
das duas secções da Policia Militar sob o comando do capitão Garcia Lopes e
após o abandono do local pela PSP, que se manifestou impotente para as
dispersar, avançaram sobre as pessoas que atabalhoadamente fugiram do local.
Para uma melhor compreensão e análise destes conflitos/tumultos
ocorridos em Janeiro de 1974, na cidade da Beira e na Região Centro de
Moçambique, permito-me recomendar a leitura das obras de Avelino Rodrigues,
Cesário Borga e Mário Cardoso, “O Movimento dos Capitães e o 25 de Abril - 229
dias para derrubar o fascismo”, da Morais Editores, edição de 1974, pág.284 a
287,de Jorge Jardim, “Moçambique Terra Queimada”, da Editorial Intervenção,
edição de 1976, pág. 160 a 170, de Ricardo Saavedra, “Os Dias do
Fim”, da Editorial Noticias, edição de 1995, pág. 18 a 20 e de David Martelo, “1974
Cessar - Fogo em África”, Publicações Europa América, edição de 2001,
pág. 42 a 45.
Os autores
Avelino Rodrigues, Cesário Borga e Mário Cardoso referem-se aos tumultos na
Beira no Capítulo V “Raízes próximas do 25 de Abril”, no seu subtítulo “Spínola
apoia os capitães contra os racistas de Moçambique”. Jorge Jardim aborda
os conflitos da Beira tendo como título ”Início do enfrentamento” e subtítulos
“Tudo começou na Beira” e ”Planeando a descolonização”. Ricardo Saavedra, no
prólogo da sua obra,ao falar da situação na Beira, È sob o título “A marcha dos
centuriões”, sendo um dos três subtítulos para estes factos, cuja obra
o autor considera ficção. David Martelo insere a sua abordagem ao assunto no Capítulo I, “A situação militar em África nas vésperas do 25 de Abril”, no subtítulo “Situação moral”.
o autor considera ficção. David Martelo insere a sua abordagem ao assunto no Capítulo I, “A situação militar em África nas vésperas do 25 de Abril”, no subtítulo “Situação moral”.
E a Beira de Moçambique vira a página da
História em Portugal:
“Parece bem nítido, agora, que os acontecimentos da Beira (desencadeados sob a inspiração dos “democratas”) foram o “detonador” da acção revolucionária que explodiu em Abril”, Jorge Jardim.
“Parece bem nítido, agora, que os acontecimentos da Beira (desencadeados sob a inspiração dos “democratas”) foram o “detonador” da acção revolucionária que explodiu em Abril”, Jorge Jardim.
“No Congresso do Porto, os centuriões obtiveram o rastilho para o
Movimento dos capitães; nas manifestações da Beira, coesão para atiçar os
nobres sentimentos da classe contra aqueles que os pretendiam transformar em
bodes expiatórios”, Ricardo Saavedra.
“Não é necessário ser muito entendido em questões militares para
compreender o efeito devastador produzido no moral das tropas pelos
acontecimentos da Beira. Constituíram, de resto, um marco decisivo da caminhada
para o 25 de Abril, relançando, no seio do Movimento dos capitães, a questão da
guerra e permitindo sensibilizar oficiais até então renitentes em discutir os
seus contornos políticos.”, David Martelo.
Augusto Macedo
Pinto, Advogado,
Artigo de Opinião, publicado na pág. 13, na edição do Jornal de Noticias do Porto de 16 de Janeiro de 2004.
Artigo de Opinião, publicado na pág. 13, na edição do Jornal de Noticias do Porto de 16 de Janeiro de 2004.