ANTÓNIO GUTERRES, SECRETÁRIO GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS VEM A SOFALA
Falar de uma personagem tão
importante como Guterres, acredito que é um grande atrevimento da minha parte.
Vou ser atrevido, desculpem-me.
Convivi de forma mais próxima nos
tempos idos de 1998, a quando da visita de António Guterres então Primeiro
Ministro de Portugal e eu na altura Consul Geral Honorário de Moçambique no
Porto e Zona Norte de Portugal e ele, me
convidou para integrar a comitiva da sua visita oficial a Moçambique. Claro que
esta iniciativa teve o apoio do então Embaixador de Moçambique em Portugal, Pedro Comissário.
O que mais me entusiasmou na
visita de Guterres a Moçambique foi ter incluido no seu programa, a visita oficial à cidade da Beira, pois saindo da prática habitual
dos governantes estrangeiros circunscreverem as suas deslocações a Moçambique, só
a Maputo. Tal entusiasmo da minha parte, fui tão extrovertido que membros da comitiva
houve que me disseram “OH DR MACEDO PINTO, estamos muito curiosos de ir
conhecer a sua Beira, pois está muito entusiasmado com a deslocação à Beira”.
“O que se passará na Beira? O que tem a Beira? ”, diziam eles, os outros membros da comitiva.
Momentos que se viveram na Beira
durante a visita de António Guterres e a sua comitiva em Outubro de 1998, foi
ele que anunciou aos presentes aqui na Beira e numa recepção nas instalações do
Centro Recreativo do Banco de Moçambique
nas Palmeiras que José Saramago tinha ganho o Prémio Nobel da Literatura, o
primeiro português a alcançar tal feito. Um episódio relatado na REVISTA ESTANTE a propósito aqui transcrito,
dada a sua relevância : “Quinta-feira, 8 de outubro de 1998. No aeroporto de Frankfurt,
ao final da manhã, um homem aguarda sozinho a hora de embarcar no avião que o
conduzirá a Madrid e, posteriormente, à ilha espanhola de Lanzarote. Acaba de
deixar a Feira do Livro local e está pronto para voltar a casa. Não lhe passa
pela cabeça que está a ser procurado.
“Senhor José Saramago”, chama uma voz de mulher pelo
altifalante na sala de embarque. O sobressalto leva a que uma hospedeira se
aproxime: “É o senhor?” E continua: “É que está aqui uma jornalista que quer
falar consigo. O senhor ganhou o prémio Nobel!”
As grandes novidades da vida chegam-nos muitas vezes
nas ocasiões mais triviais. E é assim, sem protocolos ou formalidades, que José
Saramago recebe a notícia de que é o primeiro escritor de língua portuguesa a
vencer o prestigiante Nobel da Literatura. A Academia Sueca elogia-lhe as
“parábolas portadoras de imaginação, compaixão e ironia” com que torna
“constantemente compreensível uma realidade fugidia”.
Mas não é nisso que pensa. É em Pilar del Río, a
mulher. Sente-se triste por não estar com ela naquele momento. E dá-se
conta, como há de recordar depois, que “a alegria, se se está sozinho, é nada”.
....Enquanto caminha, resmunga para si próprio: “Tenho
o Nobel, e o quê?”
“...Quinta-feira, 10 de dezembro de 1998. Num banquete
de gala, em Estocolmo, José Saramago ergue-se para proferir um discurso. Os
dois meses após o anúncio da conquista do Nobel foram um corrupio de
entrevistas e declarações públicas.
“Tenho a consciência de que não nasci para isto”,
revelou numa dessas ocasiões. “É assombroso porque, cada vez que acontece algo,
neste caso o Nobel, pergunto-me se aquilo que fiz ao longo da vida deu para
construir uma obra que chega a merecer o mais célebre prémio literário do
mundo. Como é que isto me aconteceu a mim? Uma pergunta para a qual,
honestamente, não tenho resposta.”
Como poderia não ser uma surpresa para o escritor português?
“Nasci numa família de gente muito pobre, camponesa e analfabeta, numa casa
onde não havia livros e em circunstâncias económicas que não me teriam
permitido entrar na universidade”, disse noutra entrevista. “Nada prometia um
prémio Nobel.” E, no entanto, ganhou-o.
Desde o primeiro momento, no aeroporto de Frankfurt,
até subir ao pódio para receber o galardão, Saramago passou o tempo a garantir
que este não haveria de o mudar enquanto homem e escritor.”
“...Ao discursar no banquete de gala, com os olhos do
mundo postos nele, Saramago prova a verdade das suas palavras ao decidir falar
a maior parte do tempo sobre o não cumprimento integral da Declaração Universal
dos Direitos Humanos no mundo. Agradece, por fim, aos editores, tradutores e
leitores. Termina com o elogio a todos os escritores portugueses e de língua
portuguesa: “É por eles que as nossas literaturas existem. Eu sou apenas mais
um que a eles se veio juntar. Disse que não nasci para isto, mas isto foi-me
dado. Bem hajam, portanto.”
Amigos que estiveram neste encontro que recordo e já
partiram, como o caso do saudoso Xavier
Anacleto Fernandes, então Director Geral da Pescamar.
António Guterres, inauguraria uma empresa de produção fabril, de
capitais portugueses, ainda nesta sua visita à Beira e acompanhado do seu
proprietário o Comendador Fernando Pinho Teixeira aquilo que ainda é hoje uma
uma empresa de referência por ter nos seus quadros mais de uma centena de
trabalhadores moçambicanos e cerca de cinquenta por cento da sua produção ser exportada
a partir da Beira para o mercado dos Paises vizinhos de Moçambique, a FERPINTA.
O Secretário Geral das Nações Unidas é
um brilhante engenheiro de profissão que saiu do Instituto Superior Técnico de
Lisboa com média de 19 Valores, onde foi também professor.Tendo sido ainda Alto
Comissário para Os Refugiados, pessoa humanamente sensível, experiente em todo
o tipo de adversidades que por vezes a natureza e/ou o homem, nos trazem. É a pessoa duplamente certa para
visitar Sofala no PÓS IDAI, atento ainda ao alto cargo que no momento
desempenha. Durante a Conferência Internacional de Doadores ocorrida na Beira a
31 de Maio e 1 de Junho passado, na sua qualidade de Secretário Geral das
Nações Unidas, não deixou de nos enviar
e estar presente, através de uma
mensagem em video conferência, carregada de humanismo e solidariedade pelo
momento que ainda atravessamos.
Cá o esperamos Engenheiro António
Guterres e Secretário Geral das Nações Unidas.
Augusto Macedo Pinto
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