HORTICULTURA: Produção nacional conquista supermercados
Supermercados que operam na cidade e província de Maputo estão a reduzir a quantidade de hortícolas e legumes importados da África do Sul graças à implementação dos acordos de produção, compra e venda destas culturas por parte de camponeses estabelecidos nos distritos de Namaacha e Moamba.
A implementação destes acordos visa oferecer oportunidades comerciais aos produtores das províncias de Maputo, Gaza e Inhambane localizados nas áreas abrangidas pelo Projecto de Desenvolvimento de Cadeias de Valor nos Corredores do Maputo e Limpopo (ProSUL), uma iniciativa do governo moçambicano, através do Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural (MASA).
Dados disponíveis indicam que, num primeiro momento, os supermercados impuseram quantidades mínimas para que os camponeses pudessem produzir em função dos volumes necessários para manter as bancas abastecidas com produtos frescos e de qualidade.
Depois de ganharem ritmo e a confiança das maiores prateleiras de produtos alimentares, os produtores agora são livres de vender de forma aberta a qualquer interessado, mantendo aberto o espaço para que parte da colheita seja fornecida aos supermercados em regime de encomenda.
Para o alcance destes objectivos, o governo envolveu a Sociedade de Investimentos Gapi que se ocupa da assistência técnica e financeira aos camponeses. No caso em apreço, o Gapi está a estimular a montagem de sombrites e a facilitar o aceso a linhas de crédito pois, já se observa uma evolução na produção.
“Estes produtores têm menos riscos, não há feitos directos do calor nas culturas, tem sistema de rega e produz-se durante todo o ano”, disse António Souto, Administrador-delegado.
Por outro lado, observa-se que os supermercados mostram uma maior disponibilidade de receber a produção agrícola nacional uma vez que esta apresenta boa qualidade para ser comercializada. Aliás, grande parte dos camponeses abrangidos coloca os seus produtos nos supermercados Shoprite, Horta Boa e FoodLovers. “A experiência tem sido boa para as partes”, acrescentou.
Por seu turno, os produtores envolvidos na iniciativa dizem estar satisfeitos com os resultados da produção feita em estufas que foi introduzida pelo ProSUL porque, para além dos ganhos na qualidade e quantidades, o mercado está assegurado para o fornecimento de batata Reno, tomate, pepino inglês e híbrido, pimento colorido, entre outros.
Conforme nos revelaram, a duração dos contratos firmados com os supermercados FoodLovers e Shoprite depende da eficiência dos membros abrangidos, os quais esmeram na produção porque, por exemplo, já arrecadaram cerca de 130 mil meticais resultantes da venda de tomate para o FoodLovers, Horta Boa e no mercado local. Pela venda de mais de nove mil unidades de pepino, aqueles camponeses obtiveram cerca de 150 mil meticais e o pimento colorido rendeu 330 mil meticais.
domingoapurou que para colocarem a produção nestes locais, os produtores devem responder a alguns requisitos, nomeadamente ter a posse do Número Único de Imposto Tributário (NUIT) e fazer parte de uma organização formal para facilitar na hora de passar recibos e facturas. “Por essa razão, a maior parte dos agrários estão organizados em associações”, disseram.
Para além do mercado formal, a produção também tem abastecido o mercado informal com destaque para o Mercado Grossista do Zimpeto, Malanga e Fajardo, na cidade de Maputo, que tem sido a porta de saída de produtos frescos que fornecem outros mercados do país.
O ProSUL foi desenhado pelo Centro de Promoção da Agricultura (CEPAGRI) e está a ser implementado pela Gapi em 19 distritos das províncias de Maputo, Gaza e Inhambane e conta com um orçamento de 45 milhões de dólares americanos disponibilizados pelo Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA).
Para além, do FIDA, contribuem para esta acção entidades como o Fundo Fiduciário do Governo Espanhol e pelo Programa de Adaptação de Agricultura Familiar (ASAP), cujo objectivo é melhorar a renda de mais de 20 mil famílias compostas, na sua maioria, por pequenos produtores, a partir do incremento dos volumes de produção, produtividade e melhoria da qualidade em três cadeias de valor, designadamente horticultura, mandiocas e carnes vermelhas.
BOA PARCERIA
COM FOODLOVERES
Segundo Isaías Júnior, do Supermercado FoodLovers, localizada na cidade de Matola, desde que foi contactado pelos representantes da Gapi a propor a assinatura de um contrato com os produtores de Mafuiane e Moamba, há cerca de três meses, deixou de importar alguns produtos frescos e passou a adquiri-los internamente.
“O nosso mercado é o primeiro que explora a comercialização de frutas e vegetais e antes do contacto com os produtores nacionais importávamos quase tudo da África do Sul. Entretanto, decidimos estabelecer contratos com os produtores nacionais para nos fornecerem hortícolas e a parceria tem sido muito boa”, disse.
Aquele supermercado tem recorrido desde então a hortícolas produzidas internamente com destaque para batata Reno, pepino inglês, pimento colorido, tomate, feijão-verde, repolho, couve, espinafre, beterraba entre outros. No entanto, continua a importar frutas.
“O que tentamos fazer é conversar com os produtores para que nos forneçam produtos com alguma consistência de modo a mantermos as prateleiras cheias por muito tempo. Era comum assinarmos contratos com os camponeses para abastecer o mercado durante um período e eles não conseguirem honrar e termos rupturas do stock. Esse problema precisa ser resolvido e só assim vamos deixar de confiar no mercado sul-africano”, sublinhou Isaías.
A nossa fonte destacou que para se ultrapassar estes problemas, deve se incentivar aos agricultores a variarem as culturas e a acreditar que podem produzir durante todo o ano. Para tal, devem apostar em tecnologias de produção e em cooperativismo.
Dados em nosso poder indicam que só o Supermercado FoodLoveres recebe, semanalmente, cerca de duas toneladas de tomate, 500 quilogramas de pepino inglês, três toneladas de batata Reno, cerca de 300 quilogramas de pimento verde e 100 quilogramas do pimento colorido.
Em relação aos preços, segundo Isaías Júnior, existe uma ligeira diferença se comparado com os produtos sul-africanos que, em regra, são mais caros. “Acredito que os produtos da África do Sul sejam um pouco mais caros porque os custos de produção são altos por causa dos adubos e os custos de importação. Os nossos que são orgânicos e isso deve influenciar no preço final”, sublinhou.
Refira-se que aquele supermercado tem recebido a produção nacional há cerca de três anos e durante o período em que há abundância de culturas moçambicanas interrompe a importação.
OS MERCADOS INFORMAIS
Os mercados de Maputo, nomeadamente Grossista de Zimpeto e Fajardo, também têm recebido produtos nacionais, com destaque para a batata Reno, Pepino Inglês e Híbrido e pimento diverso. Os comerciantes têm ido adquirir os produtos directamente nas machambas.
Durante a nossa ronda constatamos que os preços são atractivos mas, continuam baixos em relação aos produtos importados. Em geral, a produção nacional sai menos dispendiosa e, por ser orgânica, a qualidade também é diferente. Por exemplo, o preço mínimo é de 220 meticais e chega a 300 meticais o saco de 10 quilogramas. A caixa de tomate parte de 150 meticais até 400 meticais o de primeira
Rodrigues Mundlovo, vendedor do Mercado Grossista do Zimpeto, disse à nossa Reportagem que actualmente aquele espaço está a ser abastecido apenas com tomate nacional. Entretanto, apesar de existir abundância da batata Reno nacional esta tem concorrido com a sul-africana que está ligeiramente mais cara.
“Os produtos importados estão mais caros devido aos custos da operação, diferentemente dos nacionais que são adquiridos localmente. Mas em termos de preferência, temos vendido mais produtos nacionais, talvez por serem mais orgânicos”, disse.
Enquanto isso, Ivo Pumule, comerciante, defende que importar não está a trazer nenhum beneficio porque a moeda moçambicana está muito desvalorizada em relação a sul-africana, dai que os custos são mais altos. Por causa disso, opta pela aquisição de produtos dentro do país. “Tenho recebido tomate e batata Reno nacional. A batata é daqui da Moamba e sai bem mais barata que a importada”.
Para Alberto Chirindza, os produtores devem começar a apostar também no cultivo da cebola e a devem ser criadas condições para que seja durante todo o ano, pois só assim é que podem acabar com as importações. “Já temos tomate, pepino, batata Reno e outros produtos, mas falta o incremento da produção da cebola. A partir dos meados deste mês de Outubro vamos começar a vender a cebola nacional mas, as quantidades são pequenas que não dá para muito tempo”, sublinhou."
FONTE: DOMINGO, JORNAL DE MOÇAMBIQUE
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