domingo, 8 de maio de 2016

LAGO NIASSA, PROVINCIA DO NIASSA, MOÇAMBIQUE UM PARAISO IMPERDIVEL A VISITAR, A NATUREZA RECEBE-O/A DE BRAÇOS ABERTOS

O lago Niassa é um dos destinos turísticos menos explorados do nosso país. Faltam-lhe investimentos em infraestruturas e o povo das cercanias apenas utiliza este imenso reservatório de água doce e pouco menos.
Viajar para o lago Niassa é ir ao encontro da natureza tal como foi inventada. Se não fosse a parte urbana da vila de Metangula, sede do distrito de Lago, que metamorfoseou uma parte considerável da paisagem, muitos aficionados por passagens bíblicas diriam que aquele é um pedaço do Jardim do Éden.
Da capital provincial, Lichinga, para o lago é necessário percorrer uns 110 quilómetros em estrada asfaltada que servem de introito para um espectáculo que só os deuses sabem como criaram. Ar puro, revigorante, montes e montanhas de perder de vista, enfim, uma paisagem para cartões postais.
Por ali, seria tudo perfeito se não soubéssemos que a vegetação verde que hoje adorna o ecossistema fica sujeita a queimadas descontroladas durante toda a época seca, o que até põem em risco a vida da própria população local. Arde o capim e, por contágio fortalecido pelo vendo, casas e celeiros viram cinza.
Entretanto, o tempo fresco ainda só começou e, por isso, a fotossíntese vai no adro, pelo que está tudo verde como manda o figurino. A intercalar a mata são visíveis plantações de eucaliptos e casuarinas que se enfileiram caprichosamente como soldados em dia de parada na avenida.
À medida que nos afastamos de Lichinga em direcção ao nordeste, a estrada se afunila até parecer de faixa única. O capim cresce a ponto de estorvar o trânsito. Prudência exige-se a quem vai ao volante porque surgem sempre motociclistas, ciclistas, transportadores semi-ecolectivo e peões de todas as idades que trafegam alheios ao perigo. Puros incautos.
Salta à vista o facto de as comunidades locais preservarem até hoje o hábito de viver em aldeias comunais, aquelas que foram combatidas com sofreguidão pelos opositores que surgiram logo após a independência nacional. Porém, aquelas aldeias estão ali até hoje, alinhadinhas. Aliás, é assim em quase toda a região norte do país.
Tanto na travessia das aldeias como no resto da via, a viagem corre lenta porque aqui e ali há uma curva e contracurva apertada que é mascarada pelo capim alto que quase nos engole. Nas aldeias a vida parece estagnada, mas ganha ímpeto nos pequenos mercados onde não falta a batata-reno e feijão manteiga.
Vistas as coisas por um ângulo meramente de mercado, estes dois produtos agrícolas deviam constar da bandeira da província, a par do peixe chambo (tilápia) e do seu concorrente, o minúsculo peixe conhecido por ussipa ou ucipa (não temos a grafia certa). São de uma fartura incrível.
Enquanto o resto do país se queixa do preço da batata importada, em Niassa há baldes e sacos cheios e disponíveis em qualquer esquina, o peixe é encontrado fresco ou seco. Em todo o lado. O feijão, idem.
E por falar em fartura, Niassa também possui uma riqueza incrível de alho e cebola, aquela roxa que os nutricionistas formais e informais recomendam. Este conjunto de produtos é uma espécie de vício dos produtores. E a terra bastante fértil faz-lhes os desejos.
MANIAMBA
Com quase uma hora de viagem, se alcança a pequena vila de Maniamba, um lugar com história de resistência e de luta pela Independência. Os livros de História de Moçambique versam sobre este povoado em longas páginas. Em tempos que lá vão, quando o colonialismo português ainda por cá fazia das suas, andou por ali um tal Batalhão de Caçadores que deixou registado que aquele aldeamento era mal organizado e muito sujo. Mas, essas foram água passadas que, como diz o velho adágio, “não movem moinhos”.
Hoje, Maniamba não é apenas lugar que encerra elementos históricos. É ali onde está uma das maiores reservas de carvão térmico do país. Pena é que o preço deste recurso mineral seja tão volátil e tenha despencado que a sua exploração esteja quase adiada.
De Maniamba em diante a estrada se torna ainda mais estreita e mais dominada pelo capim alto. De permeio há macacos que rapidamente se esgueiram nas margens prenhes de arbustos. Fotografá-los é um exercício de caçador. Exige paciência e alguma perseverança.
O que anima neste percurso é que só restam uns 30 quilómetros até ao destino, mas os buracos que a partir de ali se espalham pelo asfalto geram um certo desconforto. Para agravar, o terreno é acidentado e exige redobrada atenção de todos porque tem subidas e descidas que se alternam em curvas e contracurvas.
Quanto mais nos aproximamos, mais acentuadas se tornam as descidas, mais altas se tornam as montanhas que cortejam a estrada, mais densa é a floresta e mais medonha se torna a via. Mas, esse temor se esfuma quando finalmente surge entre as montanhas o desenho da imensa praia do lago Niassa. É lindo. É de cortar a respiração.
Com o nosso objectivo já à vista, os últimos metros do percurso já não doem. Antes pelo contrário. Tem um sabor diferente. O capim alto, os macacos, as curvas e contracurvas somem da mente. O lago é tudo. Ele domina pela sua graciosidade.
LAGO NIASSA
A administradora do distrito, Deolinda Alfeu, encabeça o governo local há escassos seis meses e, mesmo assim, já evidencia um conhecimento invejável sobre a área sobre a sua jurisdição. É ela quem nos recebe e nos revela estórias sobre o distrito e, particularmente, sobre o lago que é partilhado com o Malawi e com a Tanzânia.
O lado moçambicano tem cerca de 6400 quilómetros quadrados e é onde actuam 1682 embarcações maioritariamente de pesca artesanal que, apesar de a vila dispor de energia eléctrica da rede nacional há alguns anos, não possuem meios de frio para a conservação de eventuais excedentes.
Como resultado disso, há 1232 comerciantes de peixe seco, contra 658 comerciantes de peixe fresco, o que é por si sintomático. Aliás, há ainda525 processadores de pescado que colaboram nos esforços para secar e defumar o peixe que depois é comercializado em mercados mais distantes.
Deolinda Alfeu lamenta a inexistência de um frigorífico com capacidade para conservar tanto peixe que o lago oferece. Aliás, diz que estes poderiam produzir mais de 20 mil toneladas por ano de faina, mas as limitações são tantas que acabam se contentando com umas sete mil toneladas.
E mesmo a propósito da energia eléctrica, a nossa Reportagem apurou dos cerca de 115 mil habitantes do distrito, apenas quatro mil tem acesso à energia da rede nacional e mais uma pequena franja que beneficia de sistemas de energia solar ou fotovoltaica.
Entretanto, e para a tristeza da administradora Deolinda, “a nossa população não aprecia muito os sistemas solares. O povo quer energia da Electricidade de Moçambique (EDM). Esse é o nosso desafio. Estender a rede”, disse.
Também parece irónico ver um infinito lago de água doce, que tem 560 quilómetros de cumprimento e 80 de largura, com uma profundidade de 700 metros a banhar um território onde grande parte da população não tem acesso à água potável.
TERRITÓRIO VIRGEM
Com os olhos postos na imensidão daquele lago, percebemos que homens, mulheres e crianças usam-no como lavandaria colectiva. Toda a parafernália da cozinha é lavada ali. Roupa interior e exterior. A família inteira toma banho ali. No final, ainda se enche alguns recipientes de água que será usada para o consumo doméstico.
Também salta à vista o facto de todo aquele potencial turístico estar praticamente guardado à espera de melhores dias. Imagine-se um lago daquela dimensão, com mais de mil espécies de peixes, 300 das quais tidas como endémicas, ou seja, só ocorrem ali.
Não há hotéis e os lodges que existem, num total de 22, apenas quatro merecem essa categoria e são apontados como exemplos. Os outros funcionam assim-assim e passam a maior parte do ano às moscas.
Deolinda Alfeu afirma que brevemente será apresentado o Plano Estratégico de Desenvolvimento do Distrito do Lago, instrumento por via do qual se vai piscar o olho aos potenciais investidores para orientarem o seu capital para aquelas paragens virgens.
É que, o lago Niassa não é um polo turístico isolado. Ele está naturalmente integrado num meio onde a natureza foi generosa, onde se pode fazer escaladas às montanhas que o cercam, pode-se apreciar e explorar a floresta repleta de recursos florestais como a madeira preciosa, de primeira, segunda, terceira e quarta classe.
E porque a floresta vem sempre acompanhada de fauna, quem visita o lago pode se surpreender com aves como patos dos charcos, galinhas do mato, pombos, rolas e gansos. Para os aficionados por animais maiores, há elefantes, hipopótamos, búfalos, leões, leopardos, crocodilos, facocheros, raposas e zembras. Também tem cudos, porco-espinho e bravo, pala-palas, lobos, entre outros.
Este menu farto demonstra que quem for a investir naquela área e souber combinar um pacote de turismo lacustre e cinegético pode sair dali com uns bons tostões, gerar emprego, elevar o distrito a outros patamares na arena nacional e internacional e ajudar a desenvolver aquele espaço.
HOTÉIS CAPULANA
Mas, nem tudo está parado por ali. Juvêncio Muchanga, director provincial de Cultura e Turismo, elabora de forma minuciosa sobre os planos que existem para dar mais vida ao lago Niassa que um dos principais, senão mesmo o principal atractivo turístico daquela província.
É verdade que muitos planos estão ainda no papel e na mente, como é o caso do estabelecimento de um ou mais hotéis Capulana ao longo da costa do lago. “Este é o nosso atractivo mais forte e combina muito bem o turismo de sol e praia com actividades desportivas como a canoagem, natação, pesca desportiva, assim como a simples apreciação da água doce e azul”.
Juvêncio assegura que os planos estão avançados e afirma que há fundos disponíveis para a implementação, os espaços que devem ser ocupados foram já identificados e o que está a faltar é definir o tamanho das infraestruturas (se terão 12, 16, 24 ou mais quartos). “São assuntos que estão a ser aprofundados. Mas, os concursos serão lançados em breve”.
FONTE: JORNAL DOMINGO DE MOÇAMBIQUE

Sem comentários:

Enviar um comentário