O processo de implementação, desde 2015, da mecanização agrária que consiste na provisão de tractores e os respectivos implementos às instituições de investigação e aos centros de prestação de serviços, abertos para o efeito, está desde a última campanha a aumentar os níveis de rendimento por hectare e a gerar expectativas de expansão para a próxima época.
O equipamento mecanizado responsável pelo “boom” dos rendimentos é parte integrante de um lote de 513 tractores importados pelo Fundo de Desenvolvimento Agrário (FDA), ao abrigo do Programa Mais Alimentos, financiado pelo governo do Brasil, visando instalar Centros de Prestação de Serviços Agrários em 47 Distritos das 11 províncias do país.
O equipamento, fruto de investimento calculado em mais de 97 milhões de dólares americanos, inclui para além dos tractores as charruas, grades, niveladoras, semeadoras, adubadoras, pulverizadores acoplados entre outros implementos como carroçarias destinadas a escoar a produção dos campos aos centros comerciais.
No entanto, desde a sua alocação aos centros de prestação de serviços nas diversas províncias do país para responder à demanda no arranque da campanha, as máquinas estão a operar mudanças nos campos de cultivo dos produtores que as solicitaram, para tirar melhor contributo associado ao custo a pagar por hectare.
O advento da “idade do ferro” na agricultura moçambicana, para além do aumento dos níveis de rendimentos nas culturas alimentares praticadas, vai constituir um estímulo às pessoas que dela dependem porquanto cerca de 80 por cento dos concidadãos ainda vivem no meio rural onde é sua fonte primária de subsistência.
Segundo as estimativas de estudos mais recentes, três quartos da população mundial, ou cerca de sete biliões, estarão, até 2050, a residir nas cidades devido a uma diversidade de factores. Porém, a entrada, no país, da mecanização agrária pode travar o êxodo rural e incentivar o labor da terra na expectativa de tirar óptimos resultados nas vastas áreas cultivadas.
Na recente visita às províncias de Niassa e Nampula, norte do país, foi possível constatar até que medida a mecanização constitui, na óptica dos produtores, um valor acrescentado para o amanho da terra e os enormes benefícios tanto para a saúde quanto nos rendimentos mercê do emprego da tecnologia mecanizada e a assistência de extencionistas no exercício da actividade.
EMPREGO DO TRACTOR
E O AUMENTO DAS ÁREAS CULTIVADAS
No distrito costeiro de Angoche, província de Nampula, a reportagem da AIM visitou a Associação Luta Contra a Pobreza de Parta, no posto administrativo de Namaponda que detém uma extensão de terra fértil estimada em 290 hectares, onde semeia diversas culturas alimentares, em particular o arroz.
A associação constituída por 60 membros (em paridade de género) não trabalhava além de 30 hectares, cujo processo de preparação da terra levava a semana devido a qualidade lamacenta e aquosa do solo.
Segundo Abílio Assane, membro da associação, a entrada do tractor no trabalho de preparação do solo permitiu aumentar a área cultivada para os actuais 90 hectares, donde esperam um rendimento ainda maior comparativamente ao que conseguiam até muito recentemente.
“A ajuda do tractor é muito valiosa porque além de levar menos tempo a fazer a lavoura das áreas por cultivar faz também a gradagem, que é bastante importante para o nivelamento dos solos que é determinante para o desenvolvimento das culturas”, disse Assane.
Os produtores estão satisfeitos com o advento tecnológico porque para além de reduzir o número de horas que dedicavam ao trabalho bucólico, pois tinham de levantar sempre durante a matina, podem agora preservar a saúde física que era brutalizada pela enxada de cabo curto assim como o esforço para dilacerar a terra.
A lavoura mecânica tem uma enormidade de vantagens. Primeiro, o aspecto profundidade no processo da remoção da terra que, dependendo do tipo de solo e culturas, pode partir dos 15 aos 30 centímetros que, com a enxada é muito difícil atingir. O tractor revolve o solo, faz a mistura dos micro-organismos e os nutrientes.
Na fase da gradagem, melhora o nivelamento que é igualmente importante para a produtividade. Reduz o tempo de amanho nas machambas. As horas que os produtores antes tinham de dedicar ao cultivo podem agora ser destinadas a outras actividades.
A associação conta com o auxílio e acompanhamento de um extencionista que monitora o amanho da terra, no sentido de ajudar os produtores a garantir óptimos rendimentos por hectare, assim como evitar a invasão de pragas como o gafanhoto amarelo.
Ainda na província de Nampula, concretamente no distrito de Monapo, está o Estabelecimento Penitenciário de Itoculo, com uma população reclusa estimada em 59 pessoas que para além de estar a terminar a pena em regime aberto, aprendem actividades que conducentes a sua reinserção social, quando regressarem ao convívio social.
Segundo o director do Estabelecimento Penitenciário, Laisse Fernando, a mecanização permitiu lavrar mais 40 hectares elevando para 90 a área lavrada (transformada em paisagem de milho) e, por conseguinte, as boas perspectivas para a colheita, donde esperam tirar cerca de 30 mil toneladas.
Na província do Niassa, no distrito meridional de Mecanhelas, na localidade de Entrelagos, está o produtor Joaquim, com 10 de experiência no domínio agrário, que possui 14 hectares dos quais 10 para o arroz e o remanescente ao milho.
Segundo Joaquim, sem o auxílio das máquinas lavrava entre quatro a seis hectares, e bastas vezes tinha de empregar uma mão-de-obra auxiliar num universo de 50 pessoas. Porém a situação agora mudou devido ao advento da idade do ferro.
“BOOM” DOS RENDIMENTOS
POR HECTARE MERCÊ DA MECANIZAÇÃO
Não obstante a chegada tardia da precipitação, depois do início da época chuvosa, uma vez que a agricultura moçambicana é ainda maioritariamente de sequeiro, os produtores das províncias de Niassa e Nampula que conseguiram solicitar as máquinas além de alagar as áreas de cultivo têm um horizonte de esperança mais confortante em relação aos rendimentos por hectare.
Os produtores da Associação de Luta Contra a Pobreza de Parta que, mercê do auxílio do tractor, conseguiram alargar a área de cultivo estão igualmente esperançosos de aumentar os volumes de rendimentos, que se antes não passavam de 800 quilogramas a expectativa agora é colher entre duas toneladas e meia a três de arroz.
O produtor da localidade de Entre Lagos disse, por seu turno, nos 10 hectares onde semeou o arroz a expectativa é tirar 35 toneladas, enquanto na área reservada ao milho está confiante na colheita de 10 toneladas.
FUTURO DOS CPS NA ERA
DA MECANIZAÇÃO AGRÁRIA
Comparativamente aos tempos da enxada de cabo curto, onde os produtores chegavam a empregar até 50 pessoas e despender um total de seis mil meticais (109 dólares americanos) com o pagamento da mão-de-obra lavradora, aos Centros de Prestação de Serviços pagam apenas 2500 meticais, valor abaixo da metade.
Segundo o director dos Serviços Distrais de Actividades Económicas, Miguel Massunda Júnior, o produtor passa a contribuir com um valor simbólico (2500 meticais). O pagamento pode ser à partida ou no final da safra, quando o produtor tiver vendido o seu produto, até porque haverá contratos firmados.
Os CPS deverão, no futuro, transformar-se em casas agrárias e passar a ostentar a imagem de centros de prestação de serviços por excelência. Nessa altura, eles passam a ser escolas onde os produtores trocam experiências, fazem dias de campo, actividades que os vão projectar e quiçá o aumento constante e progressivo da produção e a produtividade. A casa agrária pode estabelecer a ponte, em termos de cadeia de valores, com o próprio mercado.
“O nosso desiderato é transformar os Centros de Prestação de Serviços numa casa agrária que possa vender diversos insumos sementes, pesticidas até adubos assim como ensinar a manusear, porque quando não devidamente manipulados, ao invés de melhorar a fertilidade dos solos vão piorar”, rematou a fonte. (AIM)
Leonel Muchano,da AIM"
FONTE: JORNAL DOMINGO DE MOÇAMBIQUE.
Sem comentários:
Enviar um comentário