A Câmara do Comércio de Moçambique (CCM) está em processo de reformas que visa resgatar a sua funcionalidade em face da presente conjuntura económica nacional e internacional. Para o efeito está a decorrer o desenho do Plano Estratégico, instrumentos que vai nortear a recuperação da agremiação nas diferentes frentes.
A nova direcção da Câmara do Comércio de Moçambique (CCM), empossada em Julho do ano passado, pretende resgatar a dignidade da instituição com objectivo de torna-la mais robusta e à altura dos actuais desafios da economia, bem como dota-la de serviços orientados para os associados, apurou o domingo junto de Julião Dimande, novo presidente da organização.
Com efeito, várias acções estão em curso, entre elas, a angariação de novos membros, resgate dos antigos e dos hesitantes bem como o desenho de um plano estratégico visando recuperar a saúde da instituição e segurança dos filiados.
Neste momento, está em curso a sensibilização dos membros sobre a importância daquela organização, mobilização de parcerias internas e internacionais, acções de apoio aos membros, com destaque para a formação e acesso ao financiamento.
“Mais do que isso é importante que a câmara comece a trilhar por um rumo inovador, particularmente no que se refere aos serviços que prestamos aos membros para que possam sentir-se seguros e tirar maior proveito da sua filiação”, disse.
A nossa Reportagem apurou que no final do mês de Março será realizada a primeira sessão ordinária que deverá aprovar um pacote de propostas de acção a serem implementados durante os próximos três anos. No entanto, algumas acções serão desenvolvidas dentro de dias, tal é o caso de formações a serem levadas a cabo em parceria com o Instituto para a Promoção de Pequenas e Médias Empresas (IPEME).
Conforme nos foi revelado, o treinamento em alusão vai abranger a todos os associados e, para a sua materialização, vários técnicos da CCM estão a proceder a um inquérito de actualização de dados das empresas filiadas para que se conheça o número e as áreas de actividade para, deste modo, serem definidas as matérias específicas a serem ministradas a cada grupo alvo.
“Vamos arrancar com acções de formação para que os membros possam ter acesso aos pacotes de financiamento disponibilizados pelo IPEME. Temos outros serviços como é o caso de assistência para os associados”, sublinhou.
Segundo Dimande a integração nesta organização oferece às empresas um vasto leque de vantagens, com destaque para a emissão do certificado de origem, que é um importante instrumento no comércio externo, assim como a participação em missões empresariais dentro e fora do país, linhas de financiamento, entre outros.
O inquérito agora em curso, numa primeira fase circunscrito à cidade de Maputo, também visa aferir o número real de membros, as expectativas em relação à agremiação, que agora apresenta um novo elenco, objectivos, missão e metas. Deste modo, será possível determinar com maior precisão o que leva a que as empresas não participem activamente e o que gostariam que fosse feito para responder as suas inquietações.
O nosso interlocutor disse que para a atracção de novos membros será necessário investir fortemente em novos serviços, com particular destaque para a promoção de palestras, seminários, realização de missões empresariais.
Para se tornar abrangente, a CCM decidiu estabelecer três delegações regionais, que serão dirigidas por três vice-presidentes, cujo enquadramento legal está a ser avaliado.
DIVULGAR A INSTITUIÇÃO
A CCM foi criada em 1986 para dar resposta a várias preocupações que o governo colocava como prioritárias, como é o caso do controlo das importações, distribuição de excedentes e procedimentos atinentes às exportações.
Entretanto, a evolução do panorama económico nacional e internacional levou a que esta entidade mergulhasse numa profunda letargia. Recentemente, e com vista a ultrapassar o problema, o novo elenco introduziu reformas a serem aplicadas também aos cerca de 300 associados que permanecem activos, dos mais de 500 filiados aquando da sua criação.
A nossa reportagem apurou que a redução do número de membros deveu-se, entre outros aspectos, ao surgimento de outras câmaras bilaterais tais como as câmaras Moçambique-Portugal, Moçambique-Brasil, Moçambique-Angola, entre outras.
A Câmara do Comércio de Moçambique é nacional, entretanto existem cerca de oito câmaras de carácter bilateral (entre dois países) que tratam de assuntos de interesse dos dois estados apenas, a título de exemplo encontramos a Câmara Moçambique-África do Sul, Moçambique-Estados Unidos, Moçambique-Portugal, Moçambique-Brasil, entre outras.
Mesmo tratando de assuntos de interesse de dois países, as câmaras criadas no país têm um vínculo com a câmara universal. “É uma facilidade de serviços entre os dois países e são bem-vindas porque dinamizam o ambiente de negócios e nunca ocuparam o espaço da CCM”, referiu.
Com a reactivação da agremiação, espera-se que as outras câmaras possam se filiar à câmara-mãe. “Não é obrigatório que as bilaterais estejam filiadas a Câmara de Comércio de Moçambique mas temos uma relação saudável, trocamos de informações e serviços”.
Segundo apuramos quando a CCM foi criada a visibilidade que deixava a nível das câmaras nacionais era maior, liderava várias missões, mas passou a não fazer por causa das dificuldades que enfrentou, sobretudo de índole financeira.
“É verdade que a câmara por si tem a obrigação de saber ultrapassar os seus problemas. É o que estamos a fazer, criando novas parcerias e mecanismos para que os seus membros se sintam, de facto, com serviços que lhes permitam a aceder a outros serviços que vão trazer uma mais-valia para a própria câmara, de modo a ter maior sustentabilidade”, disse.
Para depois acrescentar que a maior parte dos problemas que a câmara tem são estruturais e que só precisa se organizar que é o que está a ser feito neste momento. A ideia é trabalhar para ter uma câmara que aparece mais, com serviços para os seus membros e para a sociedade.
Dimande reconhece que a CCM deixou escapar várias oportunidades de financiamento, o que contribuiu para que perdesse alguma agilidade quando comparada com outras entidades com finalidades similares, como é o caso da Confederação das Associações Económicas (CTA).
Em jeito de exemplo, sublinhou que em outros países onde existem câmaras do comércio qualquer investidor tem como porta de entrada este tipo de organização, o que não acontece em Moçambique.
No que se refere às parcerias firmadas com agremiações congéneres, a nossa fonte, fez saber que dois técnicos moçambicanos vão se deslocar para a Suécia no próximo mês de Abril para treinamentos sobre requisitos para a materialização de negócios com empresários daquele país europeu. Estes cursos são financiados pelo governo da Suécia.
AMBIENTE DE NEGÓCIO
Num outro desenvolvimento, Julião Dimande disse à nossa equipe de Reportagem que o comércio vai bem no país, contudo, olhando sob ponto de vista mais específico, o ambiente de negócio não tem sido promissor.
A título de exemplo, a depreciação do metical em relação ao dólar influencia o ambiente de negócios porque a capacidade de compra e de procura não é a mesma que os moçambicanos tinham antes. Perante este quadro, Dimande afirma que aos agentes económicos nacionais compete reverter o quadro com investimento na produção e na produtividade.
“É nisto que queremos apostar com os nossos parceiros. Garantirmos a formação em cadeia para a produção de comida e a respectiva venda de excedentes”, aludiu o nosso entrevistado.
Respondendo a uma pergunta sobre o acesso ao financiamento, Dimande disse que esta componente ainda é uma dor de cabeça, sobretudo para as Pequenas e Médias Empresas (PME´s), razão pela qual um dos ramos abraçados é o acesso ao financiamento para este grupo de empresas, que também terão facilidades na formação e acompanhamento na elaboração dos projectos a custo zero até a aceder ao financiamento.
Angelina Mahumane
FONTE: JORNAL DOMINGO DE MOÇAMBIQUE.