"Gaza de olhos virados para o turismo
O GOVERNO de Gaza quer ver o sector do turismo mais interventivo na produção global de receitas, contribuindo para a economia local com pouco mais de três porcento. A província pretende incentivar os investidores a apostarem nas belas praias situadas ao longo da sua costa, designadamente Bilene, Chongoene, Xai-Xai, Xizavane e Chidenguele, assim como tirar vantagens que o ecoturismo pode oferecer. Numa recente entrevista ao nosso Jornal, Raimundo Diomba, governador de Gaza, falou também dos avanços significativos no aproveitamento das potencialidades que os sistemas de regadio oferecem para a produção alimentar e da esperança de, em breve, voltar a ver os homens de negócio a prosseguir com os estudos visando a retomada do projecto das areias pesadas de Chibuto, um empreendimento interrompido no ano passado, alegadamente por insuficiência de energia eléctrica para alimentar a unidade fabril de processamento daquele minério. De seguida transcrevemos as partes mais incisivas da conversa com o governador: Maputo, Segunda-Feira, 6 de Setembro de 2010:: Notícias
NOTÍCIAS (NOT) - O fraco desempenho da área do turismo foi sempre uma grande preocupação do seu Executivo, no que toca à contribuição deste sector na produção global de receitas na província. Qual é o actual estágio do sector, senhor governador?
RAIMUNDO DIOMBA (RD) - O turismo é, sem dúvidas, um dos sectores que nos preocupa, e está nas prioridades definidas pelo nosso Governo como um dos que deve contribuir para o rápido desenvolvimento da província. Os passos estão a ser dados, medidas estão a ser tomadas e comparativamente aos anos anteriores, verificamos uma certa subida, uma vez que conseguimos, em 2007, receitas neste sector que atingiram 27 milhões de meticais para, no ano seguinte, passarmos para mais de 60 milhões e, em 2009, para 105 milhões. No semestre findo realizamos 39 milhões contra pouco mais de 32 milhões em igual período do ano passado. Como se pode depreender, tem havido uma gradual subida, mas pretendemos muito mais, porque na produção global de receitas, o turismo continua a apresentar-se como o elo mais fraco, com uma percentagem de pouco mais de três porcento.Praia de ChidengueleLIMPOPO REGISTA CRESCIMENTO DE TURISTAS Maputo, Segunda-Feira, 6 de Setembro de 2010:: Notícias
UMA das áreas que nos últimos tempos constitui uma verdadeira fonte de receitas no concernente ao turismo é o Parque Nacional do Limpopo. Procuramos saber do governador sobre o que tem sido feito para que esse movimento se traduza em algo benéfico para a população que vive na periferia dos projectos ao que ele respondeu RD - O Parque Nacional do Limpopo está em franco crescimento, temos uma nova entrada para os turistas oriundos da África do Sul, a partir de Giryondo, que permite a entrada a partir deste local, no distrito de Massingir. Isto facilita assim os turistas, que desta forma, já não são obrigados a dar a grande volta de entrada a partir de Maputo, para ter acesso aos nossos parques e praias. O número de animais está igualmente a crescer e estamos a preservar esses animais na perspectiva de defender o eco-sistema. Há uma subida considerável de turistas que visitam o parque e como pode notar em 2006 tivemos a presença de mais de 17 mil visitantes para em 2009 conhecermos a presença de mais de 25 mil. Tem sido nossa preocupação tudo fazer para que as populações que vivem na periferia do parque assumam as suas responsabilidades perante este importante empreendimento económico e sintam como fazendo parte da sua gestão, daí a necessidade de uma permanente interacção com a direcção do parque. A outra intervenção importante visando a facilitação dos turistas consistiu no melhoramento da estrada entre Massingir e a fronteira de Giryondo. Este acesso não só permite a entrada de turistas para o Parque Nacional do Limpopo, como é uma excelente entrada para as praias de Gaza, nomeadamente Bilene, Xai-Xai, Chongoene, Xizavane, Chidenguele e Denguine. Os turistas têm a partir desta comunicação a oportunidade de ter acesso a locais histórico-culturais como são os casos de Chaimite em Chibuto, Coolela e Nwadjahane em Mandlakaze, para além das matas sagradas de Xai-Xai. NOT - E em relação ao Parque Nacional de Banhine, que projectos há? RD - Estamos a trabalhar no sentido de os turistas, particularmente sul-africanos, passarem a preferir Banhine como zona de trânsito obrigatório para as estâncias turísticas de Inhambane, porque o parque faz fronteira com esta província. Neste momento, o local que funciona essencialmente como um centro de pesquisas, está a conhecer transformações profundas, visando tornar esta estância em destino turístico. Estão nessa perspectiva, a ser criadas as necessárias condições para o acolhimento dos turistas. Animais como avestruzes, búfalos e antílopes estão a registar um franco crescimento, tendo igualmente subido o número de trabalhadores afectos ao parque. Assim sendo, com a criação paulatina de condições ora em curso, acreditamos que Banhine irá em breve contribuir para o crescimento económico da província. NOT - O crescimento do número de animais nesses parques traz consigo outros problemas, designadamente o conflito Homem/fauna bravia, como tem vindo a ser monitorada essa situação? RD - Todo o crescimento traz sempre consigo outro tipo de problemas. O que temos vindo a fazer é um controlo rigoroso da movimentação dos animais para que estes não criem problemas à segurança das pessoas. Essas questões estão a ser acauteladas pelos gestores dos parques.
PARAM DESMANDOS NA OCUPAÇÃO DE ESPAÇOS Maputo, Domingo, 5 de Setembro de 2010:: Notícias NOT - A ocupação desordenada da costa para a instalação de estâncias foi sempre um “calcanhar de Aquiles”. Como é que o Governo provincial lida com este problema? RD - Há avanços visando disciplinar o sector. Começamos a notar investimentos sérios no sector e de forma organizada, o que é um bom passo. Está a reduzir o número de pessoas que pratica negócios na nossa zona costeira sem a devida autorização. Foram definidos parâmetros e padrões a serem observados para a realização de investimentos em Chongoene e Bilene. A preocupação continua porque temos que persistir na manutenção da disciplina e ordem nessas zonas.NOT - Que acções estão a ser realizadas no sentido da reabilitação dos sete mil hectares no regadio de Chókwè? RD - Estão a ser tomadas medidas para o cumprimento da orientação deixada pelo Primeiro-Ministro e já foi lançado o concurso para o apuramento da empresa, que irá realizar os trabalhos de reabilitação nessa área. Acredito que os trabalhos vão arrancar ainda este ano. O nosso objectivo e tendo em linha de conta os enormes investimentos que o Estado tem estado a fazer, é que os regadios possam produzir ao longo de todo o ano. Com estas condições temos a obrigação de garantir que se produza para o consumo interno e para a comercialização de excedentes fora da província. Como sabe, temos tido enormes problemas em relação à zona norte de Gaza, porque são zonas secas e com fracos recursos hídricos para desenvolver eficazmente a produção de alimentos, daí que cabe uma grande responsabilidade aos distritos como Chókwè, Bilene e Xai-Xai, no aproveitamento racional das potencialidades hídricas que possuem. Not - Em que estágio está a reparação da comporta de Massingir e a reabilitação da barragem de Macarretane que tinha em vista a melhoria nos sistemas de rega ao longo do vale do Limpopo? RD - Em relação à Macarretane, os trabalhos terminaram em Maio, estando o sistema a funcionar normalmente e a garantir água ao regadio de Chókwè. As 39 comportas de que dispõe o sistema estão a funcionar em pleno. Estamos preocupados com a comporta avariada de Massingir, mas está-se na fase de apuramento da empresa que irá realizar os trabalhos. Enfrentamos o problema da busca de financiamentos mas, felizmente, esse assunto ficou já ultrapassado graças ao financiamento garantido pelo Banco Africano de Desenvolvimento, de pouco mais de 20 milhões de dólares americanos. NOT - Existe um acordo com a província chinesa de Hubey na área agrícola. Haverá já resultados no âmbito desse entendimento? RD - Já está entre nós uma companhia chinesa que está a trabalhar no regadio de Xai-Xai, na transmissão de novas tecnologias de produção de arroz e seu processamento. Estamos a trabalhar de forma afincada para que no âmbito dessa cooperação possamos adquirir na China equipamento agrícola para a prossecução dos objectivos definidos na mecanização agrícola. Acreditamos que nesse âmbito poderemos ter em breve aqui em Xai-Xai, um parque de máquinas para o apoio à actividade agrícola. Esta é uma das nossas maiores prioridades. CRESCE O EFECTIVO BOVINO Maputo, Segunda-Feira, 6 de Setembro de 2010:: Notícias PARA além da agricultura, a província de Gaza tem a tradição na criação de gado, com destaque para o bovino. Entretanto, esta é uma área que não conhece uma evolução em termos de introdução de técnicas como processamento da carne e seus derivados o que torna menos visível esta área. NOT- A par dos investimentos em curso na área agrícola, qual é a evolução na criação de gado bovino em particular? RD - Há um crescimento assinalável dos efectivos pecuários. A título de exemplo, em 2007, eram reportados cerca de 400 mil bovinos e neste momento estamos com mais de 600 mil cabeças. Isso é muito bom para que as nossas indústrias de processamento de carne possam trabalhar em pleno. Estamos a incentivar os distritos nortenhos de Gaza, para que redobrem a sua participação neste âmbito, pois existem localmente excelentes condições para a criação de gado caprino e bovino, particularmente. Vamos prosseguir com os nossos programas de fomento, direccionando as nossas atenções aos camponeses com menos posses, mas com muita experiência na criação de animais. É nesse âmbito que priorizamos parte dos Fundos de Desenvolvimento Distrital ao financiamento deste tipo de iniciativas.
NOT- A crise de abastecimento de água às populações do norte de Gaza continua preocupante. Que soluções à vista para o fim do problema? RD - Estamos a abrir furos para fazer face a esta situação. São furos de grande profundidade e nalguns casos com um elevado teor de salinidade. Estamos igualmente a priorizar a construção de represas de grandes dimensões, na perspectiva de minimizarmos esse problema. Estamos a trabalhar com os japoneses para que nos ajudem a resolver este problema, através de equipamento que se adapte à situação específica da região norte de Gaza. NOT- A cidade de Chibuto enfrenta também a crise de água e existem promessas por parte do Ministério das Obras Públicas e Habitação de solucionar definitivamente o problema. Em que passo isso está, senhor governador? RD - O processo está de facto num estágio bastante avançado, os estudos foram feitos e ainda este mês (Agosto passado) saber-se-á, que empresa irá reabilitar o sistema existente, dando continuidade aos esforços que estão sendo desenvolvidos pelas autoridades municipais de Chibuto. Devo dizer que graças à iniciativa da edilidade, já há uma maior capacidade de retenção da água nos depósitos e depois de muitos anos sem água, o problema está sendo resolvido. O problema é que o sistema de canalização se encontrava num estado bastante obsoleto, razão pela qual a água bombeada nalgum momento, a sua pressão rompe com a tubagem. O Ministério das Obras Públicas tem já garantido valores para a materialização das obras. NOT- Chibuto enfrenta outro grande problema que é a erosão. Que medidas estão a ser tomadas para conter o fenómeno? RD - É um esforço comum que estamos a desenvolver para impedir que nem Chibuto e nem outras zonas da nossa província continuem com a ameaça destruidora da erosão. Felizmente há sinais positivos, particularmente nas cidades de Chibuto e Xai-Xai, onde há iniciativas conjuntas levadas a cabo pelas edilidades e pelo Governo. Para além de acções que envolvem as próprias comunidades na mitigação deste mal, decorrem obras de construção de barreiras nos locais mais críticos para se evitar a progressão do aluimento de terras. Ao longo da costa temos estado igualmente a trabalhar por forma a impedir que o mar, por exemplo, ganhe mais espaço no continente, através da educação dos cidadãos, para que assumam as suas responsabilidades de defesa ambiental, através da cultura de boas práticas de relacionamento com a natureza. NOT- Fale-nos, por favor, do projecto de asfaltagem da estrada Macarretane-Chicualacuala, no norte da província? RD - Será, sem dúvidas, a realização de um sonho do Governo e da população de Gaza. A construção dessa estrada será feita ainda este mês. As obras foram adjudicadas a três empresas. Vamos todos trabalhar no sentido de encontrar alternativas que concorram para um aproveitamento racional desse investimento, tirando vantagens das enormes potencialidades que a região norte possui para a prática do eco-turismo, criação de gado e exploração florestal. A partir deste mês começaremos a ver acções práticas visando a construção da muito esperada estrada Macarretane/Chicualacuala, numa extensão de mais de 300 quilómetros. HÁ AINDA ESPERANÇA NAS AREIAS PESADAS Maputo, Segunda-Feira, 6 de Setembro de 2010:: Notícias NOT- O que se pode ainda esperar do projecto das areias pesadas abandonado ano passado por uma companhia estrangeira? RD - O Governo continua a ter na sua agenda a necessidade de retomar uma série de projectos de desenvolvimento que por razões de vária ordem, foram interrompidos. Em relação ao mega-projecto das areias pesadas de Chibuto, o que lhe posso dizer é que a qualquer momento poderemos ver retomado esse dossier porque, como sabe, foram criadas enormes expectativas à volta deste projecto e inclusivamente algumas centenas de pessoas já estavam a beneficiar dos resultados desta iniciativa. Devo assegurar que estamos a receber várias propostas de investidores interessados em dar continuidade ao projecto de exploração das areias pesadas de Chibuto, mas o grande problema reside ainda na capacidade de se gerar energia para o funcionamento daquele empreendimento. Decorrem, entretanto, estudos para que finalmente se possam encontrar soluções que permitam que o projecto possa andar. Dentro de dias será lançado um concurso para se seleccionar a companhia que irá dar continuidade a este projecto, mas volto a dizer que o nó de estrangulamento é a energia eléctrica. NOT - Que avaliação faz em relação à expansão do Ensino Superior em Gaza? RD - Os últimos cinco anos foram de realização de um grande sonho da população, com a entrada pela primeira vez, na cidade de Xai-Xai, de um estabelecimento público do Ensino Superior - a Universidade Pedagógica. Depois seguiram-se outros com destaque para a Faculdade de Empreendorismo e Negócios, da Universidade Eduardo Mondlane, em Chibuto. Temos em funcionamento outras universidades privadas, que sem dúvidas vieram dar um grande contributo na colocação do conhecimento em prol do desenvolvimento da província. Contudo, esperamos que paulatinamente se possa caminhar para a optimização da qualidade, com a contratação de docentes qualificados para exercer esta função. Queremos ainda caminhar para um nível em que os estudantes sejam instalados em infra-estruturas adequadas, com bibliotecas, laboratórios e muito mais, tudo isto em prol de uma formação de qualidade. Infelizmente ainda não possuímos isso, mas a aposta é que de forma paulatina se criem essas condições em benefício da almejada qualidade de ensino. Sabemos, por exemplo, que o Instituto Superior e Politécnico em Chókwè está a realizar uma construção de raiz do seu campus universitário, o mesmo acontecendo em relação à Universidade Pedagógica, embora de forma muito lenta, acreditamos que chegaremos até lá onde pretendemos. A instalação do Ensino Superior em Gaza veio dar resposta à demanda de inúmeros estudantes graduados de nível médio, que anteriormente tinham como recurso a busca de oportunidades em universidades localizadas fora da província, com todos os transtornos daí decorrentes.
Virgílio Bambo", Jornal de Noticias.
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