terça-feira, 13 de julho de 2010

MOÇAMBIQUE E OS OUTROS PAISES DA CPLP - 1.8

"Mulheres dos PALOP clamam por boa governação

MULHERES de Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), encontraram-se na semana passada em Maputo para discutir o seu papel na promoção da democracia e boa governação. No final do evento, o “Notícias” ouviu a opinião de algumas das participantes, as quais coincidem em como é necessário que as mulheres influenciem cada vez mais as decisões políticas e económicas nos seus países, um desafio que passa necessariamente pela sua capacitação.Maputo, Terça-Feira, 13 de Julho de 2010:: Notícias
Filomena Mascarenhas Tipole, antiga Ministra dos Negócios Estrangeiros da Guiné-Bissau, disse ao nosso Jornal que não se pode falar de democracia e boa governação tendo em conta o conturbado contexto político, social e económico daquele país.
A interlocutora referiu ainda que só quando se vive num ambiente de paz é que se pode falar de democracia. “Quanto temos estabilidade governativa é que podemos estar também a falar da boa governação. Então, é esse desafio que trago para o conhecimento dos demais e para partilhar a experiência da organização em que estou e que está a fazer uma pesquisa sobre as causas dos conflitos na Guiné-Bissau”.
A antiga Ministra dos Negócios Estrangeiros guinense pertence a uma organização não-governamental denominada “Voz Di Paz”, que nos últimos três anos realizou uma pesquisa sobre as causas dos constantes conflitos político/militares que assolam aquele país africano.
Referiu que no primeiro ano deste estudo foi possível constatar que as principais causas e existência de tais conflitos são, na essência quatro, sendo a primeira de todas o enfraquecimento do Estado e a má governação.
“O segundo factor de conflitos no meu país é a pobreza, a má administração da justiça surge como terceiro factor e o tribalismo crescente é o quarto factor, tendo em conta que se trata de uma problemática que neste momento vem crescendo”, explicou.
Esclareceu que a pesquisa identificou mais de 17 factores que influenciam a instabilidade que actualmente se vive naquele país da África Ocidental.
Para Filomena Tipote, a pesquisa que está a ser levada a cabo pela “Voz Di Paz” tem como princípios a isenção a inclusividade, “porque só podemos fazer a paz com os nossos inimigos”.
“Não se trata de uma organização estatal, o que demonstra a necessidade que a própria sociedade viu em empreender uma acção do género. Aliás, devo dizer que os nossos painéis são compósitos, isto é, eles envolvem a mulher com particular destaque, uma vez que é a mulher que mais sofre numa situação de conflito. A presença da mulher nos nossos painéis tem também o propósito de colher a sua sensibilidade em torno das causas dos conflitos que o país vive, para além de fazer com que ela contribua com propostas para se ultrapassarem os problemas em causa”, elucidou.
Ainda sobre a pesquisa levada a cabo pela “Voz Di Paz”, Filomena Mascarenhas Tipole informou que a mesma dura há já três anos e que dentro de dias serão apresentados os resultados finais da mesma e publicada uma brochura com todos os detalhes do trabalho científico ora em curso.
Filomena TipoleVONTADE DE FAZER SUPERA DIFICULDADES
Maputo, Terça-Feira, 13 de Julho de 2010:: Notícias
Instada a pronunciar-se sobre as dificuldades que a “Voz Di Paz” enfrentou para realizar tal pesquisa – tendo em conta o contexto político de instabilidade que a Guiné Bissau vive – a interlocutora disse que a vontade que existia no seio da sua organização para contribuir para a paz e bem-estar do povo guinense superou todas as dificuldades que foram aparecendo.
De entre estas destacou as perseguições que alguns membros da sua organização foram sujeitos, com destaque para o director de pesquisa da “Voz Di Paz”, um cidadão togoles que chegou mesmo a sofrer ameaças de expulsão do país.
“Com vista a fortalecer a nossa posição e dar cada vez maior credibilidade ao estudo que estamos a realizar criámos comités regionais da nossa organização, onde temos figuras de “peso” de cada comunidade ou região. Trata-se de líderes de opinião, membros das autoridades tradicionais e outras pessoas de idoneidade e credibilidade reconhecida. Estas pessoas tem contribuído bastante como tampão e elementos apaziguadores”, disse.
Depois de reconhecer que em muitos casos, os membros da “Voz Di Paz” trabalharam debaixo de graves ameaças, incluindo das suas próprias vidas, Filomena Tipole sublinhou o facto de o ambiente político estar a melhorar no seu país e que a sua organização tem servido de referencia para a intervenção da sociedade civil na busca de estabilidade e bem- estar na Guiné Bissau.
Emanuela MondlaneMULHER DEVE SER DINAMIZADORA
Maputo, Terça-Feira, 13 de Julho de 2010:: Notícias
Por seu lado, Emanuela Mondlane, membro do Fórum Mulher em Mocabique, defendeu que a mulher deve ter um papel dinamizador na promoção da democracia e boa governação em todos os cantos do mundo.
“Dificilmente falo de democracia sem falar da boa governação porque estes temas são intimamente ligados”, frisou.
Sobre elogios de que Moçambique é sempre alvo quanto ao tratamento das questões de género, sobretudo na área da governação, a nossa entrevistada referiu que não basta colocar mulheres no Parlamento, Governo e outros fóruns de decisão. “É necessário que essa mulher tenha capacidade de influenciar, no verdadeiro sentido da palavra, as decisões políticas e económicas que são tomadas, daí que defendo a criação de condições para irmos capacitando cada vez mais as mulheres que ocupam esses lugares”.
Segundo explicou, em muitos casos as mulheres são colocadas nos fóruns de tomada de decisão “apenas para preencherem o número estipulado e atingirem-se as metas preconizadas pelo Governo”.
De acordo com Emanuela Mondlane, a Fórum Mulher está a criar condições para realizar acções de capacitação de deputadas, membros das assembleias provinciais e das autarquias locais, entre outras que necessitam de formação em liderança, gestão de recursos, entre outras matérias.
Como primeiro passo desta acção, aquela agremiação criou um programa denominado “Mulher na Política” com o objectivo de capacitar todas as moçambicanas que se encontram a desenvolver actividades na área da política e governação.
Joana MondlaneDIFUNDIR EXPERIÊNCIAS
Maputo, Terça-Feira, 13 de Julho de 2010:: Notícias
PARA a deputada da Assembleia da República pela bancada da Frelimo, Joana Mondlane, as organizações femininas moçambicanas, e não só, devem difundir a experiência do trabalho que está a ser realizado internamente no que respeita à participação da mulher na promoção da democracia, paz, estabilidade política e boa governação.
Segundo afirmou, os elogios que são frequentemente feitos ao nosso país pela promoção do género, devem ser capitalizados não só para se fazer conhecer o trabalho interno, como também para se criarem condições de se melhorar cada vez mais os ganhos até agora conseguidos.
Joana Mondlane congratulou-se com o trabalho que as mulheres dos PALOP estão a realizar, tendo apelado para a necessidade de se consolidar as conquistas já conseguidas com um trabalho de qualidade, maior credibilidade e muita competência.
“Em Moçambique os desafios da promoção do género, particularmente na política, é a aposta num trabalho de qualidade”, disse, acrescentando que as metas estabelecidas no país – 30 porcento dos fóruns de decisão deve ser atribuída à mulher – não são satisfatórias.
“Satisfatórias acho que não, é minha opinião pessoal. Porém, considero que tendo em conta que estamos numa fase inicial de emacipação da mulher, julgo que as mesmas ajudam, uma vez que penso que a mulher deveria ocupar mais lugares”, sublinhou.
Cidália MonjaneMAIS OPORTUNIDADES
Maputo, Terça-Feira, 13 de Julho de 2010:: Notícias
PARA Cidália Monjane, da Coligação Para Justiça Económica, os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa devem apostar numa maior massificação e participação da mulher nos vários sectores das suas sociedades, com destaque para as áreas económica e política.
“Sobretudo, deve existir um melhor entendimento da forma como a mulher deve encarar o que é a sua participação para a boa governação. Esse entendimento deve igualmente partir de determinados conceitos e oportunidades que se deve dar à mulher para a sua melhor participação nestes e outros processos”, afirmou.
Monjane também aposta numa constante troca de experiência e circulação de informação para que todos os países possam beneficiar dos aspectos positivos que cada país tem nesta área.
“Moçambique tem muitas organizações da sociedade civil que trabalham na questão do género. Essas organizações, tal como o Governo, têm uma palavra a dizer em torno desta matéria. É preciso capitalizar isso não só internamente, como no espaço regional, africano e até mundial”, enfatizou.
Mussa Mohomed"

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